Nunca Mais | Por Zilan Costa e Silva

Brasil enfrenta tarifas dos EUA, defesa do Pix e ameaça à Suprema Corte com firmeza diplomática, reafirmando soberania econômica, digital e institucional diante da ingerência americana.

Ouviram do Ipiranga às margens plácidas o brado retumbante, e não há tarifa que cale esse eco. Hoje, o Brasil enfrenta não mais baionetas, mas canetas que assinam decretos de cinquenta por cento contra o fruto do nosso suor — o café que desperta o mundo, a laranja que adoça manhãs, os aviões que cruzam os céus como testemunhas da nossa engenhosidade. Trump acredita que pode dobrar-nos com tarifas como outrora impérios tentaram dobrar-nos com correntes. Engana-se. Pois nasce, de novo, o sol a Dois de Julho, e brilha mais do que no primeiro: “Com tiranos não combinam brasileiros corações.”

Não se trata apenas de economia, mas de dignidade. Cem mil empregos ameaçados, lavouras aflitas, o PIB pressionado. Mas há algo que não se taxa: a alma de um povo. Churchill, em seu tempo de trevas, advertiu: “Jamais nos renderemos.” E Shakespeare, com a pena que decifrou o coração humano, escreveu: “Os covardes morrem muitas vezes antes da morte; os valentes provam a morte apenas uma vez.” O Brasil não morrerá em covardias. Enfrentará a injustiça de pé, mesmo que o custo seja alto, porque honra não se mede em índices, mas em coragem.

Trump, como Macbeth em sua ambição desvairada, acredita que decretos podem refazer destinos. Mas o Brasil é Hamlet: diante do dilema, escolhe ser. Ser livre. Ser soberano. Ser gigante pela própria natureza, belo e forte, impávido colosso. E se ele ergue a clava da tarifa, verá que há peitos que desafiam até a própria morte: “Verás que um filho teu não foge à luta.”

Não é apenas o aço e a laranja que estão em jogo. É também o coração pulsante do futuro: nossas terras raras, nosso lítio, nosso grafite, nosso nióbio. Os Estados Unidos, dependentes da China, voltam seus olhos para o Brasil, segunda maior reserva do mundo, quase vinte por cento do total global. Querem mais que café e suco; querem os minerais que movem satélites, mísseis, computadores, carros elétricos. Querem o que faz girar a roda da civilização tecnológica. Mas o Brasil responde, firme: este chão é nosso, esta riqueza é do povo brasileiro. “Ninguém põe a mão”, disse o Presidente, e nisso há mais que política: há a afirmação de soberania de um povo que não aceita ser reduzido a fornecedor de matéria-prima.

E ainda exigem mais: querem alterar o nosso Pix, essa invenção que colocou milhões de brasileiros no sistema financeiro, que democratizou o dinheiro e transformou nossa economia num relâmpago de inclusão. Hoje, o Pix é orgulho nacional, usado por mais de 160 milhões de pessoas, símbolo de soberania digital. Mas os EUA investigam sob a Section 301, dizendo que favorece nossas fintechs e ameaça Visa e Mastercard. Querem transformar nosso orgulho em moeda de barganha, como se autonomia pudesse ser regulada por Washington. Mas o Brasil responde nas ruas e nas redes: “Pix é nosso, my friend.”

Enquanto isso, ameaça-se o próprio coração de nossas instituições. Sob pressão de um filho que age como agente estrangeiro, que articula em Washington, os Estados Unidos acenam também com a aplicação da Lei Magnitsky contra ministros do Supremo Tribunal Federal. Sanções, congelamento de bens, a chamada “morte financeira”. Tudo para punir magistrados que ousaram julgar o ex-Presidente e conter sua escalada contra a democracia. Nunca houve – no mundo – precedente tão audacioso: um país estrangeiro mirando juízes de uma Corte Suprema aliada. Isso não é comércio, é ingerência; não é diplomacia, é ameaça; não é proteção de direitos humanos, é chantagem. E aqui ecoa de novo o hino da Bahia: “Nunca mais o despotismo regerá nossas ações.”

Mas a resposta do Brasil não é medo. É firmeza: não somos quintal de ninguém. O presidente, diante da ameaça, declarou que as instituições são soberanas e que ninguém, nem dentro nem fora, ousará tutelar o Supremo. E se Washington aplicar a lei Magnitsky, será um abalo não apenas para o Brasil, mas para a própria credibilidade americana como defensora da democracia. Pois quem mira juízes legítimos abre um precedente que pode reverberar pelo mundo.

E, no entanto, até diante da gravidade, o povo brasileiro não perdeu o riso. Nas redes, o vampetaço transformou o tarifaço em motivo de sátira, lembrando ao mundo que mesmo nas horas mais duras sabemos rir do tirano. Essa é a força que nenhuma tarifa pode esmagar. Shakespeare diria: “A verdadeira grandeza está em suportar as afrontas e, ainda assim, responder com virtude.” E o Brasil responde com lei, com diplomacia, com humor — e, se necessário, com reciprocidade.

Sim, a estrada é longa. As tarifas ameaçam aço, alumínio, cobre, ferro-gusa. A Section 301 investiga nosso Pix. Os olhos estrangeiros cobiçam nossas terras raras. A Magnitsky ameaça nossa Suprema Corte. Mas, como Churchill proclamou: “Devemos nos preparar para os nossos deveres, de tal forma que, se durarmos mil anos, os homens ainda dirão: esta foi a nossa hora mais nobre.”

E esta é a nossa hora. A hora de dizer que não nos rendemos, não nos curvamos, não vendemos a nossa liberdade. Pois o Brasil é mais que economia. É mais que reservas minerais. É mais que sistema de pagamentos. É um povo pacífico que se ergueu contra impérios, que lutou em Dois de Julho e gritou no Ipiranga, que canta em seus hinos a promessa de jamais se dobrar ao despotismo.

Que o mundo veja e aprenda: podem tentar sufocar nosso café, mas não sufocarão nosso brado. Podem taxar nossa laranja, mas não taxarão nossa alma. Podem cobiçar nossas terras raras, mas não arrancarão nossa soberania. Podem investigar nosso Pix, mas não apagarão nossa autonomia digital. Podem ameaçar nossos juízes, mas não derrubarão nossa Constituição.

Pois somos Brasil — pátria amada, mãe gentil, terra adorada entre outras mil — e como Churchill ensinou: “Nunca, nunca, nunca desistam.”

E nunca desistiremos.

*Zilan Costa e Silva, advogado e professor.


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