O Teatro do Châtelet, em Paris, recebe neste final de semana (05 e 06/07/2025) o projeto Ancien Brésil – Brésil Nouveau, com dois concertos que integram a Temporada França-Brasil 2025. Os recitais propõem uma fusão entre a música clássica europeia e a produção musical brasileira dos séculos XVIII ao XXI, destacando o legado de cantoras líricas afro-brasileiras.
Sob a direção do maestro brasileiro Ricardo Bernardes, a orquestra Americantiga lidera os dois concertos. No sábado (05/07/2025), o recital Alma Brasileira traz a pianista Cristina Ortiz interpretando obras de Wolfgang Amadeus Mozart e de compositores brasileiros do século XX, como Harry Crowl, João Guilherme Ripper, Camargo Guarnieri e Fructuoso Vianna.
No domingo (06/07/2025), o espetáculo Marias do Brasil presta homenagem às sopranos afro-brasileiras Maria Joaquina Lapinha e Maria d’Apparecida, figuras de destaque na história da música erudita, mas pouco reconhecidas. A apresentação reúne o sopranista Bruno de Sá e a soprano Luanda Siqueira, com direção artística de Ligiana Costa.
Do clássico ao popular: diversidade do repertório brasileiro
O concerto Alma Brasileira adota um formato mais tradicional e introduz ao público francês a obra de compositores brasileiros ainda pouco executados na Europa. A proposta, segundo Bernardes, é criar um diálogo entre repertórios consolidados do cânone europeu e a produção musical brasileira.
Já Marias do Brasil é uma apresentação de formato híbrido, que combina narrativa documental, recital e performance multimídia. O espetáculo apresenta músicas do repertório das homenageadas, incluindo modinhas coloniais, áreas sacras, tangos brasileiros, maxixes e composições de Chiquinha Gonzaga, Villa-Lobos, Francisco Mignone e Baden Powell.
O roteiro dramatúrgico foi elaborado por Ligiana Costa, com colaboração de Sophia Boito, a partir de pesquisas da jornalista Mazé Torquato Chotil, autora de um livro sobre Maria d’Apparecida, e da musicóloga Rosana Orsini Brescia, especialista em Maria Lapinha. Os textos narrativos foram gravados pela atriz Camila Pitanga e inseridos como peças sonoras.
Trajetórias de destaque na Europa
Maria Joaquina Lapinha, atuante no final do século XVIII, foi uma das primeiras cantoras afrodescendentes a se apresentar em teatros europeus. Suas obras revelam um repertório liricamente exigente e com forte influência da música sacra.
Maria d’Apparecida, que viveu a maior parte da vida em Paris, foi a primeira cantora afro-brasileira a interpretar Carmen, de Georges Bizet, na França. Faleceu em 2017 e foi redescoberta nos últimos anos por estudiosos e artistas brasileiros.
Depoimentos dos intérpretes
O sopranista Bruno de Sá, atualmente radicado na Europa, destacou o desafio e a importância de cantar em português.
“Cantar repertório brasileiro é significativo. Voltar às origens, mesmo no exterior, tem sido marcante”, afirmou. Ele participará também do concerto oficial do 14 de Julho, ao pé da Torre Eiffel, interpretando as Bachianas Brasileiras de Villa-Lobos.
A soprano Luanda Siqueira, que vive na França há 25 anos, ressaltou o valor do reconhecimento histórico.
“Ver as partituras de Maria Lapinha revela sua maestria como cantora. Sobre Maria d’Apparecida, fiquei impressionada com sua força e legado, que agora posso transmitir no palco”, afirmou.
Relevância cultural e histórica
Os concertos buscam não apenas divulgar a diversidade do repertório musical brasileiro, mas também corrigir lacunas na memória cultural. O evento contribui para a visibilidade internacional da produção artística afro-brasileira e destaca a presença histórica de artistas brasileiras na cena musical europeia.
*Com informações da RFI.
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.
