Presidente Donald Trump adia tarifas dos EUA, mas impõe sobretaxa de 50% ao Brasil; Mercados globais reagem com cautela

Donald Trump impôs novas tarifas comerciais a dezenas de países, afetando profundamente o comércio internacional. O Brasil foi atingido com uma taxa de 50%, a mais alta entre os países em desenvolvimento. A medida gerou reações variadas nos mercados e no cenário diplomático. Enquanto países como México e Austrália negociaram condições mais favoráveis, outros, como Suíça e Canadá, buscam respostas. O impacto para o Brasil é severo e pode exigir ação urgente do governo.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, oficializou nesta quinta-feira (01/08/2025) a imposição de novas tarifas comerciais a dezenas de países, incluindo o Brasil, que foi atingido com uma alíquota de 50% sobre a maioria de seus produtos exportados. A medida, embora anunciada para entrar em vigor em 1º de agosto, foi adiada para o próximo dia 6 (no caso do Brasil) e 7 de agosto para os demais parceiros. A decisão repercutiu imediatamente nos mercados asiáticos e desencadeou reações diplomáticas e econômicas em todo o mundo.

Nova ordem executiva eleva tarifas sobre 69 parceiros comerciais

Em decreto assinado na quinta-feira (31), Trump estabeleceu novas tarifas de importação variando entre 10% e 41%, abrangendo 69 países, com base em alegações de “desequilíbrio comercial” e “falta de alinhamento em questões de segurança nacional”.

No caso brasileiro, a sobretaxa de 50% já havia sido anunciada na véspera, elevando em 40 pontos percentuais a alíquota básica de 10%. A Casa Branca justificou a decisão citando, entre outros motivos, o distanciamento político entre Brasília e Washington, além do processo judicial contra Jair Bolsonaro, aliado de Trump.

Alguns setores estratégicos foram excluídos da tarifa máxima, como aviação, energia e suco de laranja. Ainda assim, a medida é considerada a mais dura contra o Brasil desde 2018.

Brasil, Canadá, Índia e Suíça entre os mais penalizados

A nova política tarifária atingiu em cheio parceiros relevantes:

  • Brasil: 50%

  • Canadá: 35%, sob alegação de conivência com tráfico de fentanil

  • Índia: 25%, por impasses no setor agrícola e compras de petróleo russo

  • Suíça: 39%, sem explicações detalhadas

  • União Europeia: 15% em média, já em vigor

  • México: conseguiu prorrogação de 90 dias, evitando tarifa de 30%

Segundo o decreto, as tarifas entrarão em vigor sete dias após a publicação, com exceções para mercadorias já embarcadas.

Mercados reagem com queda moderada e volatilidade

Os mercados financeiros globais registraram recuos modestos após o anúncio:

  • Índice Nikkei (Japão): -0,43%

  • Coreia do Sul: queda superior a 3%, afetada também por fatores domésticos

  • EURO STOXX 50: -0,5%

  • Dow Jones: -0,75%

  • S&P 500: -0,35%

  • Nasdaq: leve queda

Especialistas como Thomas Rupf (VP Bank) e Charu Chanana (Saxo Bank) alertaram para efeitos prolongados negativos no comércio mundial, ressaltando que não há “vencedores em guerras tarifárias”.

Reações internacionais evidenciam divisão

Europa e Ásia

Empresas europeias, sobretudo do setor vinícola, de perfumes e de bens de luxo, demonstraram preocupação com os efeitos sobre a cadeia de suprimentos e empregos. Na Alemanha e França, há temor sobre a sobrevivência de produtores menores. A Suíça e a Noruega pediram negociação urgente com Washington.

Na Ásia, Índia e China expressaram descontentamento. Pequim enfrenta novo prazo, até 12 de agosto, para negociar um acordo tarifário. O Japão e a Coreia do Sul fecharam acordos emergenciais para manter suas alíquotas em 15%, enquanto a Tailândia considerou as tarifas de 19% “positivas”, já que antes enfrentava 36%.

Oceania e América Latina

A Austrália comemorou a tarifa mínima de 10% e busca ampliar exportações. O México escapou de penalizações maiores após acordo direto entre Trump e a presidente Claudia Sheinbaum. Já o Canadá, alvo de duras críticas, estuda diversificar seus mercados.

Impacto na indústria, preços e relações comerciais

O impacto da nova rodada tarifária se manifesta em diferentes frentes:

  • Indústria de base na Ásia sofre retração no PMI (Índice de Gerentes de Compras)

  • Exportações de cobre da Coreia do Sul para os EUA devem cair significativamente

  • Preços ao consumidor nos EUA sobem, com alta de 1,3% em móveis e 0,9% em veículos recreativos

  • Comércio global enfrenta maior incerteza desde os anos 1930, segundo a Câmara de Comércio Internacional

Trump invocou novamente a Lei Internacional de Poderes Econômicos de Emergência de 1977 para justificar as ações, o que é contestado em tribunais federais.

Brasil pode buscar reação multilateral

No caso brasileiro, a decisão de Trump amplia a tensão bilateral em meio a uma já deteriorada relação diplomática. A tarifação exclui setores estratégicos, mas compromete fortemente produtores agrícolas, fabricantes de máquinas e exportadores de aço.

O governo Lula ainda não emitiu resposta oficial. Internamente, o Itamaraty estuda ações na OMC e uma possível coalizão de países afetados para reação conjunta. Setores empresariais pressionam por medidas de compensação e revisão de acordos em curso.

Mudança estrutural 

A nova rodada de tarifas impostas por Donald Trump marca uma mudança estrutural no comércio internacional, deslocando o eixo do multilateralismo para ações unilaterais ancoradas em objetivos políticos e eleitorais. O Brasil, ao ser atingido com a tarifa mais elevada entre os países em desenvolvimento, entra num cenário de vulnerabilidade comercial agravada, especialmente em um momento de baixo crescimento econômico e instabilidade diplomática. A ausência de uma resposta imediata do governo brasileiro pode comprometer a credibilidade externa e os interesses estratégicos do país no curto e médio prazo. A condução do Itamaraty nos próximos dias será decisiva para evitar um isolamento ainda maior em meio à reconfiguração das relações comerciais globais.


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