Presidentes Lula e Xi Jinping discutem BRICS, multilateralismo e COP30 em ligação telefônica

Na segunda-feira (11/08/2025), os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping realizaram uma ligação telefônica que durou cerca de uma hora, conforme confirmou o Palácio do Planalto. A conversa tratou da importância do BRICS e do G20 para a defesa do multilateralismo, além de abordar a cooperação entre Brasil e China e os esforços para um acordo de paz no conflito da Ucrânia.

Diálogo estratégico e ampliação das relações bilaterais

Segundo nota oficial do governo brasileiro, Lula destacou a relevância da China para o sucesso da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), cuja próxima edição será sediada no Brasil. O presidente chinês informou que a delegação chinesa será representada por autoridades de alto nível, que atuarão em conjunto com o Brasil no combate às mudanças climáticas.

Na mesma data, o governo brasileiro publicou no Diário Oficial da União um memorando que ratifica a ampliação dos acordos econômicos com a China e a Rússia, reforçando a estratégia de diversificação de parcerias internacionais.

Expansão da presença militar brasileira na China

Analistas ouvidos pela Sputnik Brasil interpretam a decisão do Brasil de enviar até o fim do ano dois adidos militares com patente de general para a embaixada brasileira em Pequim como um passo inédito e estratégico. Atualmente, a única embaixada com representação militar de alta patente é a dos Estados Unidos.

Sandro Teixeira, professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), explica que a medida reflete o reconhecimento do novo papel da China na geopolítica global e o interesse das Forças Armadas brasileiras em ampliar suas parcerias no Sul Global.

“Há um olhar brasileiro voltado para a Ásia, projetando não só relações político-diplomáticas, mas também a exportação de equipamentos de defesa para a região”, afirmou Teixeira, ressaltando a importância de diversificar fornecedores diante da dificuldade atual de aquisição de equipamentos da OTAN, em razão do conflito na Ucrânia.

Cooperação técnica e estratégica no contexto do BRICS

Lucas Kerr, professor do Programa de Pós-Graduação em Integração Contemporânea da América Latina (PPG-ICAL/Unila), destaca que o envio de adidos militares de alta patente à China permitirá uma cooperação técnica e tecnológica ampliada, facilitando a aquisição de equipamentos chineses.

Para Kerr, essa movimentação é fundamental para que o Brasil reduza sua dependência histórica dos Estados Unidos e da OTAN, ganhando maior autonomia estratégica no cenário global. Ele também aponta que a aproximação com a China integra a agenda do BRICS, que vem ampliando seu foco do econômico para o geopolítico.

Contexto histórico e político da cooperação militar

Kerr recorda que, tradicionalmente, os oficiais brasileiros de alta patente fizeram sua formação militar nos Estados Unidos ou Europa, fortalecendo vínculos com a OTAN. A recente cooperação Sul-Sul na área de defesa enfrenta resistências de potências tradicionais, que buscam manter seu protagonismo geopolítico.

Rubens de Siqueira Duarte, professor da ECEME e coordenador do Labmundo, qualifica o movimento como “natural” diante do crescimento do dinamismo capitalista na Ásia. Ele enfatiza que a internacionalização do saber e o acompanhamento das inovações militares chinesas são essenciais para o Brasil.

Duarte também observa que, apesar do interesse em estreitar relações com a China, não há uma ruptura imediata com parceiros tradicionais, como os Estados Unidos. Sobre possíveis reações externas, ele destaca que as instituições brasileiras mantêm uma visão de longo prazo, independentemente das críticas de administrações estrangeiras.

*Com informações da Sputnik News.