Todo cuidado é pouco | Por Luiz Holanda

Segunda-feira (11/08/2025) — As recentes sanções dos Estados Unidos ao ministro Gilmar Mendes e as declarações de Donald Trump acirraram o clima de tensão diplomática com o Brasil. Em meio a ameaças envolvendo a Amazônia, especulações sobre bloqueio naval e silêncio de organismos internacionais, cresce a preocupação com a soberania nacional. Especialistas alertam que o impasse dificilmente será resolvido por negociações, enquanto Lula adota discurso de confronto e a China sinaliza apoio contra eventual intervenção americana.
Suspensão de visto, ameaça à Amazônia e silêncio internacional acirram disputa entre Brasil e Estados Unidos.

Diante das ameaças dos Estados Unidos, divulgadas pela embaixada do país em Brasília, a percepção é de que não estamos levando a sério o aviso do presidente norte-americano. Na suspensão do visto do ministro Gilmar Mendes, do STF, que está impedido de entrar nos Estados Unidos, a reação foi a ironia, pois o ministro alegou que, com a suspensão, não podia mais dar palestras em território americano. Considerando que o brasileiro, por temperamento, não leva muito a sério os acontecimentos políticos e se preocupa, apenas, com futebol, carnaval e trio elétrico, nunca é demais lembrar que não somos páreos para uma potencia econômica e militar do porte dos Estados Unidos.

Durante o período em que os militares estiveram no poder (1964 – 1985), muitas pessoas foram enviadas para a região amazônica para se estabelecerem e ajudarem no desenvolvimento e integração da floresta tropical ao resto do país. Na época o slogan era “Ocupar para não entregar”, cujo significado era “Ocupar a Amazônia para não a entregar aos estrangeiros”. O governo de então expandiu enormemente a infraestrutura em toda a região porque a floresta era vista como um impedimento ao progresso. As migrações internas e as atividades de desenvolvimento da época visavam desenvolver a Amazônia para moldar a geografia e a sociedade da região. Esse fato ocorreu entre os anos de 1970 e 1980.

Agora os americanos (leia-se Donald Trump), manda-nos um aviso muito inquietante, pois diz respeito à nossa soberania nacional. Segundo a BBC britânica, “A gravidade do que está acontecendo não é apenas sem precedentes, mas muito preocupante”. E mais: “E, no entanto, a maioria dos líderes internacionais da Europa e de outros lugares segue em grande parte em silêncio diante do que é uma intervenção ou violação política flagrante, não apenas da soberania nacional, mas da integridade democrática das instituições.” Isso nos faz lembrar a famosa Doutrina Monroe, aquela que permitia aos Estados Unidos bloquear a interferência do Hemisfério Ocidental na América do Sul e no Brasil, mantendo sua hegemonia.

O problema é que a crise, segundo os analistas, não será resolvida através de negociações, já que nem Brasil nem os EUA poderia recuar neste momento, pois teriam perdas políticas enormes. Ao afirmar que não vai

ligar para Trump para falar sobre o tarifaço porque o norte-americano não está interessado, Lula confirmou isso. Tentou o apoio dos países componentes dos Brics, mas estes seguiram em silêncio, assim como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e as Nações Unidas, que sempre defenderam os princípios de soberania nacional e soberania popular.

Stephen M. Walt, professor de Relações Internacionais, criou um hipotético cenário no qual os EUA poderiam invadir o Brasil para impedir a destruição da Floresta Amazônica. A suposta invasão seria este mês, justificada pela falta de o Brasil continuar a ter um governo que permite o desmatamento destrutivo na Amazônia, de modo que só um bloqueio naval ao Brasil com ataques aéreos poderia destruir qualquer infraestrutura estratégica brasileira na região. Curiosamente, a China, que se tornou alvo de críticas e desconfiança por parte de integrantes do governo Bolsonaro, é a maior potência a intervir a favor do Brasil. O gigante asiático e maior parceiro comercial do Brasil diz que vetará qualquer proposta de intervenção armada aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Mas isso não deteria os EUA, que dizem já contar com uma ampla “coalizão de nações preocupadas” com a situação, preparada para dar suporte às ações lideradas pelo governo americano.

Em 1989, o então senador norte-americano Al Gore, que viria a se tornar vice-presidente dos Estados Unidos, teria dito que “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós”. Verdadeira ou não a afirmação, o fato é que alguns especialistas em meio ambiente destacam que, ainda que o Brasil possua soberania sobre o bioma é importante destacar que a Amazônia serve ao mundo todo. Fatos como esses confirmam que não é prudente o presidente Lula chamar Trump de “Imperador do mundo” nem dizer que “gringo não manda aqui”. Tampouco demostra equilíbrio confrontar abertamente uma potência como os EUA. A porta-voz do governo americano, Karoline Leavitt, em resposta às críticas de Lula ao presidente americano, disse que “Trump foi eleito para governar os EAU, e não para ser imperador do mundo”. Seria muito bom para o Brasil Lula deixar a ideologia de lado e eleger a diplomacia como a principal porta em nossas relações internacionais.

*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.


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