CPMI do INSS: Contador nega vínculo com ‘Careca’, admite contratos milionários e é acusado de dolo eventual em fraudes contra aposentados

Em depoimento à CPMI do INSS, contador nega vínculo com o Careca do INSS, mas parlamentares questionam versão e apontam possíveis responsabilidades em esquema milionário de fraudes previdenciárias.
Contador Milton Salvador de Almeida Junior ao depor para a CPMI do INSS.

Em depoimento nesta quinta-feira (18/09/2025) à CPMI do INSS, o técnico em contabilidade Milton Salvador de Almeida Junior negou ter sociedade com Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, preso por fraudes em descontos em benefícios previdenciários. O contador afirmou ter atuado apenas como prestador de serviços financeiros, contratado para organizar pagamentos e recebimentos de empresas ligadas a Antunes.

No início da sessão, Salvador declarou que jamais foi sócio do empresário investigado. Segundo ele, sua função era prestar serviços de assessoria financeira a empresas do grupo, atuando como diretor financeiro nos estatutos apenas para viabilizar operações bancárias.

O depoente relatou ter recebido R$ 60 mil mensais por seus serviços, valor que justificou sua permanência durante os 14 meses em que trabalhou com o grupo. Ele informou que seu contrato estava vinculado à empresa Prospect Consultoria Empresarial, responsável por gerir recursos de companhias como a Acca Consultoria Empresarial, a Camilo Comércio e Serviços e a ACDS Call Center.

Questionamentos do relator

A convocação de Salvador foi requerida em nove pedidos, incluindo um do relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), que apontou indícios de vínculos societários entre ele e Antunes. O relator chegou a elogiar a decisão do contador de comparecer sem habeas corpus, mas mudou de posição após os questionamentos de outros parlamentares.

Gaspar destacou a dificuldade em acreditar que Salvador não desconfiava de irregularidades diante dos valores milionários movimentados. O depoente admitiu ter agido com ingenuidade, relatando que só percebeu a gravidade das fraudes durante a Operação Sem Desconto, da Polícia Federal.

Dolo eventual e risco de participação

O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) e o senador Rogério Marinho (PL-RN) pressionaram o contador, afirmando que o esquema era sofisticado demais para que ele não tivesse ciência das irregularidades.

O vice-presidente da CPMI, deputado Duarte Jr. (PSB-MA), sugeriu que Salvador pode ter incorrido em dolo eventual, conceito jurídico que implica assumir os riscos de práticas criminosas mesmo sem intenção direta.

Movimentações financeiras e associações

Salvador revelou que o grupo movimentava cerca de R$ 10 milhões por mês, em parte provenientes de entidades como a Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos) e a CBPA (Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura).

Ele afirmou que apenas emitia e assinava notas fiscais, enquanto os controles contábeis ficavam a cargo de setores internos e de uma empresa terceirizada, a Voga Contabilidade. O depoente também confirmou ter conhecimento da existência de uma empresa offshore de propriedade do Careca do INSS.

Reações da comissão

O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), defendeu que o foco dos trabalhos seja a identificação dos responsáveis pelas fraudes. Ele criticou disputas ideológicas e pediu celeridade na apuração.

Já o senador Jorge Seif (PL-SC) classificou o esquema como uma “indústria de fraudes” e obteve a concordância de Salvador quanto à gravidade dos crimes. O senador Izalci Lucas (PL-DF), contador de formação, afirmou não ser crível que um profissional da área financeira não tivesse percebido os indícios de irregularidades.

Contradições

O depoimento de Milton Salvador expôs contradições entre a versão de simples prestador de serviços e as responsabilidades que assumia formalmente como diretor financeiro de empresas ligadas ao esquema. A remuneração elevada, a assinatura de documentos e a ausência de questionamentos efetivos sobre as movimentações financeiras levantam dúvidas quanto à alegada ingenuidade. A CPMI reforça, assim, o desafio de distinguir entre colaboradores conscientes do esquema e profissionais que, mesmo sem intenção direta, podem ter contribuído para a consolidação da fraude contra milhares de aposentados e pensionistas.


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