EUA pressionam: Secretário diz que é preciso “consertar” o Brasil em meio ao tarifaço de Trump e tensões políticas com Governo Lula

O Secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, concedeu entrevista à emissora NewsNation no sábado (27/09/2025), em Washington, quando citou o Brasil entre os países que “precisam ser consertados” em relação às práticas comerciais com os EUA.

O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, declarou que o Brasil precisa ser “consertado” para deixar de prejudicar os americanos em suas práticas comerciais. A afirmação foi feita em entrevista à emissora NewsNation, no sábado (27), e rapidamente ganhou repercussão nas redes sociais. O integrante do governo Donald Trump listou o Brasil, a Suíça e a Índia como países que, segundo ele, adotam medidas desfavoráveis aos EUA.

Declarações de Lutnick e impacto imediato

Durante a entrevista, Lutnick defendeu a necessidade de pressionar países que, em sua visão, mantêm barreiras comerciais e políticas prejudiciais aos interesses americanos.
“Temos um punhado de países para consertar, entre eles Suíça e Brasil. Eles têm um problema. Índia também. Esses são países que precisam reagir corretamente aos Estados Unidos. Abrir seus mercados, parar de tomar ações que nos prejudiquem, e é por isso que estamos em desvantagem com eles”, afirmou.

No entanto, os dados comerciais mostram uma realidade distinta no caso brasileiro. O Brasil mantém déficit comercial com os EUA, que superou US$ 28 bilhões em 2024, considerando produtos e serviços. Ou seja, os brasileiros compram mais dos americanos do que vendem para eles.

O tarifaço e as novas sanções comerciais

O Brasil foi incluído, em agosto, no tarifaço de 50% imposto pelo governo Trump sobre produtos de diversos países. Apesar disso, foi a única nação citada por Lutnick que não entrou na nova rodada de tarifas anunciada em setembro.

A partir de 1º de outubro, tarifas que variam de 25% a 100% passarão a incidir sobre setores como medicamentos, caminhões pesados, móveis e utensílios domésticos, atingindo países como Irlanda, Suíça, Austrália, Coreia do Sul, Reino Unido, Índia, México, Alemanha, China e Japão.

Segundo Trump, as medidas têm como objetivo proteger a indústria americana e reduzir a entrada de importados, justificando-as também como questão de segurança nacional. Economistas, no entanto, alertam que a consequência imediata deve ser o aumento da inflação nos EUA, pressionando consumidores e empresas.

Comparações com a Suíça e críticas adicionais

Lutnick destacou ainda o caso da Suíça, país que, segundo ele, registra superávit de US$ 40 bilhões nas exportações para os EUA.

“Um país pequeno como a Suíça tem um déficit comercial de US$ 40 bilhões com os EUA. Porque dizem: ‘Bem, é um pequeno país rico’. Sabe por que eles são um pequeno país rico? Porque nos vendem US$ 40 bilhões a mais em produtos”, disse.

No caso brasileiro, entretanto, a decisão de aplicar o tarifaço está relacionada também a fatores políticos, como o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado.

Divergências políticas e diplomáticas

As tensões comerciais se somam às divergências políticas entre Lula e Trump. Na última terça-feira (23/09), durante a Assembleia Geral da ONU, os dois presidentes tiveram um rápido encontro nos bastidores. Ambos afirmaram que pretendem iniciar conversas nesta semana para discutir políticas comerciais bilaterais.

Apesar do tom cordial do encontro, a declaração de Lutnick reforça o clima de desconfiança e a percepção de que os EUA utilizam a política comercial como instrumento de pressão política, colocando o Brasil em posição de vulnerabilidade estratégica.

Contradição evidente

A fala do secretário de Comércio expõe uma contradição evidente: ao mesmo tempo em que acusa o Brasil de prejudicar os EUA, os dados apontam um déficit brasileiro expressivo na balança com os americanos. Essa discrepância indica que as medidas do governo Trump possuem forte componente político, extrapolando argumentos puramente econômicos.

Ao vincular tarifas à situação judicial de Jair Bolsonaro e às posições diplomáticas brasileiras, Washington abre um precedente de instrumentalização das relações comerciais para obter alinhamento político. Essa postura, ainda que eficaz no curto prazo, pode fragilizar a confiança internacional nos mecanismos de cooperação multilateral e ampliar a instabilidade nas relações com países emergentes como o Brasil.


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