CPMI do INSS: Ex-ministro Carlos Lupi nega fraudes, responsabiliza autarquia e diz que deixou ministério por pressões políticas

Ex-ministro da Previdência Carlos Lupi presta depoimento à CPMI e nega omissão em fraudes no INSS, afirmando desconhecimento do esquema investigado pela Polícia Federal.

O ex-ministro da Previdência Carlos Lupi prestou depoimento nesta segunda-feira (08/09/2025) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Durante a sessão, ele negou qualquer participação em irregularidades ocorridas em sua gestão, entre janeiro de 2023 e maio de 2025, e garantiu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tinha conhecimento do esquema de descontos indevidos aplicados em aposentadorias e pensões.

Lupi sustentou que não houve omissão de sua parte, reiterando que tomou medidas administrativas assim que surgiram indícios mais consistentes, embora tenha reconhecido limitações na capacidade de controle da pasta.

Desconhecimento de figuras do esquema

Um dos pontos centrais da oitiva foi a suposta relação de Lupi com personagens investigados, como o lobista Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o “Careca do INSS”. O ex-ministro foi enfático ao afirmar que nunca manteve contato ou reuniões com ele. Segundo relatou, chegou a solicitar checagem de agendas oficiais para verificar se havia registro de encontro, mas não foi encontrada nenhuma evidência.

Ele também confirmou ter se reunido em algumas ocasiões com José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Lula, mas afirmou que nunca houve qualquer tipo de solicitação irregular nessas conversas.

Nomeações contestadas e critérios políticos

Ao ser questionado pelo relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), sobre as nomeações de dirigentes do INSS, Lupi confirmou ter indicado Adroaldo da Cunha Portal, ex-secretário do Regime Geral de Previdência, e Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS afastado em 2023.

Ele justificou que a indicação de Portal foi política, referendada por parlamentares de diferentes partidos, enquanto a de Stefanutto teria sido técnica, baseada em currículo e experiência. As demais nomeações, segundo Lupi, teriam sido de servidores de carreira ou pessoas já atuantes em gestões anteriores.

“Indiquei Adroaldo Portal, sim. Ele tinha experiência no PDT, foi chefe de gabinete na liderança do partido na Câmara e no Senado. Já Stefanutto foi uma indicação absolutamente técnica, com base em seu currículo”, declarou.

Responsabilidade atribuída ao INSS

Em sua defesa, o ex-ministro ressaltou que a responsabilidade direta pela gestão e fiscalização cabia ao INSS, enquanto o ministério tinha função de supervisão e formulação de políticas. Ele destacou que a autarquia possui autonomia administrativa e que eventuais desvios estavam ligados a um esquema externo operado por associações de aposentados, com participação de alguns servidores.

“Essa ação foi de fora para dentro. Não era feita com dinheiro público dentro da Previdência Social. Era um esquema criminoso externo, com a conivência de alguns que espero sejam exemplarmente punidos”, afirmou.

Ações administrativas e operação da PF

Lupi relatou que só compreendeu a real dimensão da fraude após o avanço das investigações da Polícia Federal, que apontam movimentação de R$ 6,4 bilhões entre 2019 e 2025. Ele afirmou que denúncias anteriores, registradas em 2016 e 2020, haviam sido arquivadas por falta de provas.

Segundo o ex-ministro, a partir de maio de 2023 foram realizadas reuniões entre a pasta, o INSS e a Polícia Federal para tratar das suspeitas, com base em informações enviadas pela Ouvidoria do Ministério da Previdência.

Relação com associações e conselhos

Outro ponto do depoimento tratou das relações institucionais de Lupi com entidades representativas. Ele afirmou que, logo após assumir o cargo, em março de 2023, recebeu associações de aposentados e pensionistas, encaminhando todas as demandas diretamente ao INSS para análise.

Em relação a alertas feitos em junho de 2023 pela conselheira Tonia Galletti, no âmbito do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS), sobre fraudes em associações, Lupi negou omissão. Segundo ele, mesmo não sendo pauta oficial da reunião, providências foram tomadas, e em abril de 2024 a própria conselheira teria reconhecido que auditorias no sindicato que representa (Sindnapi) não encontraram irregularidades.

Pedido de demissão e pressões políticas

Carlos Lupi pediu exoneração do cargo em maio de 2025, cerca de uma semana após a deflagração da operação da PF que revelou o esquema. Ele alegou que sua saída não se deu por razões éticas ou jurídicas, mas por pressões políticas e uma “campanha” que teria tornado sua permanência insustentável.

“Ficou insustentável pela campanha política que se fez contra mim. Quero explicar aos senhores parlamentares que não sou denunciado nem citado em nenhum inquérito”, afirmou.

Disputa política e repercussão

O depoimento foi marcado por forte embate entre parlamentares governistas e oposicionistas. Enquanto aliados buscaram reforçar a tese de que o esquema era anterior à gestão de Lupi e que ele teria agido dentro dos limites institucionais, opositores questionaram a demora em adotar medidas e criticaram as nomeações políticas.

A CPMI, instalada em 2025, investiga a atuação de associações suspeitas de aplicar descontos fraudulentos em benefícios previdenciários, com suposta participação de servidores públicos e intermediação de lobistas.

Estratégia de defesa

O depoimento de Carlos Lupi revelou a estratégia de defesa baseada em três pilares: negar omissão, transferir a responsabilidade para o INSS e se desvincular de personagens-chave do esquema. Embora tenha reforçado que não é investigado formalmente, sua ligação com nomeações políticas em áreas sensíveis permanece um ponto de fragilidade, explorado pela oposição.

A narrativa de que as fraudes eram externas à Previdência enfrenta resistência, já que associações operavam com anuência de servidores e se beneficiavam de estruturas institucionais. Além disso, sua saída precoce do ministério, mesmo sem citação formal em inquéritos, demonstra o peso político da crise e a dificuldade do governo em blindar seus ministros diante de escândalos de grande repercussão.


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