Morre Hermeto Pascoal aos 89 anos, ícone da música brasileira e universal

O multi-instrumentista Hermeto Pascoal, ícone da música brasileira e mundial, morreu neste sábado (13/09/2025), aos 89 anos, no Rio de Janeiro. Conhecido como o “Bruxo” da música, Hermeto inovou ao transformar sons cotidianos em melodias e consolidou o conceito de “música universal”. Reconhecido por Miles Davis, premiado com três Grammys Latinos e atuante até 2025, deixa seis filhos e uma obra que atravessa fronteiras culturais.
Hermeto Pascoal em apresentação internacional. Multi-instrumentista alagoano ficou conhecido como o "Bruxo" da música, reconhecido por transformar sons do cotidiano em arte universal.

O multi-instrumentista Hermeto Pascoal, considerado um dos maiores nomes da música instrumental no Brasil e no mundo, morreu aos 89 anos, no Rio de Janeiro. A notícia foi confirmada pela família em comunicado publicado nas redes sociais oficiais do artista, pedindo serenidade e lembrando que sua obra permanecerá viva.

Segundo a nota, Hermeto estava internado em um hospital da Zona Oeste da capital fluminense e faleceu em decorrência de falência múltipla dos órgãos. O comunicado destacou que, no momento de sua morte, companheiros de palco se apresentavam, “como ele gostaria: fazendo som e música”.

Trajetória marcada pela originalidade

Nascido em 1936, em Lagoa da Canoa (AL), Hermeto cresceu em ambiente rural. Albino, não podia trabalhar na lavoura e encontrou nos sons da natureza sua primeira escola musical. Aos 10 anos começou a tocar acordeom, instrumento que abriu caminho para sua carreira.

Durante sua juventude, viveu em Recife, João Pessoa, Rio de Janeiro e São Paulo, atuando em rádios, boates e conjuntos musicais. Em 1966 integrou o Quarteto Novo, ao lado de Theo de Barros, Heraldo do Monte e Airto Moreira, grupo que teve papel importante na renovação da música popular brasileira.

Reconhecimento internacional

Na década de 1970, Hermeto ganhou projeção mundial ao trabalhar com o trompetista Miles Davis, que chegou a chamá-lo de “o músico mais impressionante do mundo”. Nos Estados Unidos, lançou um álbum de grande repercussão crítica em 1971.

Em 1979, apresentou-se no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, resultando em um LP ao vivo que consolidou sua reputação internacional. Desde então, percorreu palcos em dezenas de países, sendo convidado frequente de festivais de jazz e encontros de música experimental.

O “Bruxo” da música universal

Apelidado de “Bruxo”, Hermeto Pascoal era reconhecido por transformar qualquer objeto em instrumento musical. Chaleiras, brinquedos infantis, canto de pássaros ou até o ruído de uma corrente serviam como matéria-prima para suas composições.

Sua filosofia era a da “música universal”, conceito que defendia como uma forma de expressão livre, intuitiva e acessível a todos. “Não premedito nada, se eu premeditar, eu não faço. Tudo o que faço é intuitivo, universal”, afirmou em entrevista em 2024.

Prêmios, discos e legado

Hermeto venceu três vezes o Grammy Latino, além de acumular prêmios nacionais e internacionais. Gravou mais de dez álbuns solo e participou de inúmeros projetos colaborativos. Nos últimos anos, manteve intensa atividade: só em 2025 realizou nove apresentações na Europa e seu último show ocorreu em junho, no Circo Voador, no Rio de Janeiro.

Sua obra atravessou gêneros como forró, choro, frevo, jazz e música erudita, sempre marcada pela improvisação e pela fusão de linguagens.

Repercussão e homenagens

A notícia da morte repercutiu rapidamente entre músicos, críticos e admiradores no Brasil e no exterior. Diversos artistas destacaram sua capacidade de reinventar a música brasileira e de colocá-la em diálogo com o mundo.

Segundo a família, informações sobre o velório e homenagens públicas ainda serão divulgadas. Hermeto deixa seis filhos e uma vasta obra que segue inspirando gerações.

Fim de uma era

A morte de Hermeto Pascoal representa o fim de uma era em que a música brasileira alcançou projeção internacional sem concessões comerciais. Sua carreira rompeu fronteiras entre erudito e popular, rural e urbano, local e global. Contudo, sua produção permanece pouco difundida nas grandes plataformas e rádios brasileiras, o que evidencia a contradição entre reconhecimento internacional e limitada valorização nacional. Seu legado desafia novas gerações a preservar a ousadia criativa sem se prender às lógicas mercadológicas.

Linha do tempo — Hermeto Pascoal (1936 – 2025)

  • 1936 – Nasce em Lagoa da Canoa (AL), então distrito de Arapiraca.
  • 1946 – Aos 10 anos, começa a tocar acordeom, inspirado pelos sons da natureza.
  • Década de 1950 – Atua em rádios no Recife e inicia carreira em grupos regionais, conhecendo Sivuca.
  • 1966 – Forma o Quarteto Novo ao lado de Airto Moreira, Theo de Barros e Heraldo do Monte, influenciando a MPB e lançando nomes como Geraldo Vandré e Edu Lobo.
  • 1971 – Grava nos Estados Unidos o álbum Hermeto Pascoal, elogiado por críticos e admirado por Miles Davis.
  • 1973 – Lança no Brasil o disco A Música Livre de Hermeto Pascoal, consolidando seu estilo experimental.
  • 1979 – Apresenta-se no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, registrando o LP duplo Hermeto Pascoal ao Vivo.
  • Década de 1980 – Passa a ser chamado de “Bruxo”, por transformar objetos cotidianos em instrumentos musicais.
  • 1990s – Consolida carreira internacional, tocando na Europa, EUA e América Latina.
  • 2000 – Reconhecido oficialmente como “Patrimônio Cultural da Música Brasileira” por críticos e instituições.
  • 2016 – Celebra 80 anos com turnê internacional passando por Brasil, Espanha, Holanda, Inglaterra e Alemanha.
  • 2024 – Afirma em entrevista à TV Bandeirantes que sua música é sempre “100% intuitiva e universal”.
  • Junho de 2025 – Realiza seu último show no Circo Voador, no Rio de Janeiro.
  • 13 de setembro de 2025 – Morre no Rio de Janeiro, aos 89 anos, deixando seis filhos e um legado musical único.

*Com informações da BBC Brasil, Veja e Sputnik Brasil.


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