Parlamento francês rejeita governo Bayrou e Macron terá que nomear novo primeiro-ministro

O governo do primeiro-ministro François Bayrou caiu nesta segunda-feira (08/09/2025) após rejeição do voto de confiança na Assembleia Nacional. A derrota expõe a fragilidade política da França, que vive instabilidade desde 2024, marcada por alto endividamento, impopularidade de medidas de austeridade e pressão social. O presidente Emmanuel Macron terá de nomear um novo primeiro-ministro em meio à incerteza política e à expectativa de rebaixamento da nota da dívida pelo mercado financeiro.
Primeiro-ministro François Bayrou e o presidente Emmanuel Macron.

O Parlamento francês rejeitou o voto de confiança solicitado pelo primeiro-ministro François Bayrou, levando à queda de seu governo após apenas nove meses de gestão. A decisão obriga o presidente Emmanuel Macron a nomear um novo chefe de governo nesta terça-feira (09/09/2025), em meio a uma das fases mais instáveis da política francesa em décadas.

Dos 577 deputados, 364 votaram contra o plano do governo, enquanto 194 apoiaram Bayrou, todos ligados à coalizão governista. O resultado amplia a sequência de instabilidade iniciada após as eleições legislativas antecipadas de 2024, que fragmentaram a Assembleia Nacional.

Desde as eleições antecipadas, a França enfrenta profunda instabilidade política e não consegue formar uma maioria estável. A crise ocorre em um cenário de endividamento público elevado, estimado em 114% do PIB.

O plano orçamentário de Bayrou para 2026, que previa € 44 bilhões em cortes (cerca de R$ 279 bilhões), foi rejeitado pela oposição, que vai da extrema-direita à esquerda radical. O projeto incluía medidas impopulares, como a eliminação de dois feriados nacionais, reacendendo tensões sociais.

Reações políticas e sociais

Logo após o anúncio, manifestações foram convocadas em diversas cidades francesas para comemorar a queda do governo. Para quarta-feira (10), está prevista uma jornada de protestos sob o lema: “Vamos bloquear tudo”.

A líder da extrema-direita, Marine Le Pen, pediu eleições antecipadas “ultrarrápidas”. Apesar disso, a deputada enfrenta uma pena de inelegibilidade e depende do julgamento de recurso, marcado para ocorrer entre janeiro e fevereiro de 2026.

Enquanto isso, Macron estuda duas alternativas: nomear rapidamente um novo primeiro-ministro ou dissolver novamente a Assembleia, opção considerada arriscada diante da fragmentação dos blocos parlamentares.

Possíveis sucessores

Entre os nomes cotados para substituir Bayrou estão:

  • Sébastien Lecornu, ministro da Defesa;
  • Éric Lombard, ministro da Economia;
  • Gérald Darmanin, ministro da Justiça;
  • Catherine Vautrin, ministra da Saúde.

Analistas ressaltam que nenhum bloco – esquerda, centro-direita ou extrema-direita – tem votos suficientes para formar maioria absoluta. O risco de continuidade da crise é elevado mesmo em caso de novas eleições.

Impactos econômicos e pressão internacional

A incerteza política chega em um momento delicado para a economia francesa. A agência de classificação de risco Fitch divulgará na próxima sexta-feira (12) sua nova avaliação da dívida soberana. Em março, a instituição já havia alertado sobre a possibilidade de rebaixamento caso o governo não apresentasse um plano consistente para reduzir o déficit.

A queda de Bayrou também coincide com pressões internas por sua atuação no passado. Uma comissão parlamentar apontou falhas do então ministro da Educação em lidar com denúncias de abusos em um colégio católico na década de 1990, episódio que fragilizou ainda mais sua imagem pública.

Erosão da autoridade

A queda do quarto governo em menos de dois anos evidencia a erosão da autoridade política de Emmanuel Macron e o esgotamento do modelo de coalizões improvisadas. A ausência de maiorias sólidas e a fragmentação partidária tornaram quase impossível implementar políticas de longo prazo.

O cenário expõe a França a riscos econômicos e institucionais. A proximidade da revisão da nota de crédito pela Fitch amplia a pressão por estabilidade. A crise também pode fortalecer correntes populistas e radicais, capitalizando o descontentamento social em um contexto de austeridade. Macron, que já descartou a própria renúncia, terá de buscar equilíbrio entre medidas de responsabilidade fiscal e negociações políticas amplas, sob pena de agravar a paralisia do Estado.


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