O escritor e ex-deputado Joaci Góes publicou em 16 de outubro de 2025, na Tribuna da Bahia, o artigo “O Brasil e o crime organizado”, em que alerta para o avanço da criminalidade organizada e a leniência do Estado e do Poder Judiciário diante de sua expansão. Góes cita dados oficiais segundo os quais 26% da população brasileira — cerca de 55 milhões de pessoas — vivem sob a influência direta do crime organizado, fenômeno que, segundo ele, “avança com uma celeridade ainda maior do que a que submeteu a Colômbia ao guante de Pablo Escobar.”
O retrato estatístico e a crítica à omissão do Estado
De acordo com Góes, o crime organizado deixou de ser um fenômeno marginal para se tornar uma estrutura de poder paralela, com capacidade de interferir nas instituições políticas e eleitorais do país. Ele observa que “quem tem capacidade de compreender a linguagem dos números sabe que nas eleições do próximo ano a influência do crime organizado será de maior intensidade do que em qualquer outra fase da história do Brasil.”
O autor relaciona esse crescimento à postura leniente dos governos petistas, que, em sua visão, “adotaram uma atitude de tolerância tanto com os crimes do colarinho branco quanto com o crime organizado”. Segundo Góes, essa permissividade se reflete em políticas penais brandas e na omissão de setores do Judiciário, o que teria permitido que “marginais e a marginalidade” se tornassem fator decisivo para a manutenção de grupos no poder.
A crítica à Suprema Corte e à erosão do princípio da imparcialidade
Em trecho contundente, Góes aponta a Suprema Corte brasileira como parte do problema, ao afirmar que o tribunal tem agido “em favor de grupos circunstanciais, com o propósito declarado de acelerar a caminhada histórica do País, na contramão do sagrado princípio constitucional que recomenda sua inação de preceito.”
Para o articulista, essa postura viola o dever de equidistância institucional do Judiciário e ameaça a própria estabilidade do Estado de Direito. A alegada “militância judicial”, diz ele, compromete a confiança pública e contribui para um ambiente em que a impunidade se torna regra, especialmente para agentes de poder e criminosos de alto nível.
O risco da banalização da violência e da impunidade
Ao descrever o cenário de degradação institucional, Góes destaca a violência crescente contra autoridades civis e militares, citando o assassinato e intimidação de policiais, promotores e juízes. Para ele, o avanço desses ataques busca “neutralizar a resistência institucional da sociedade brasileira”, favorecendo o domínio das organizações criminosas sobre o território nacional.
O autor adverte que, diante dessa conjuntura, “cresce perigosamente a percepção de setores da população de que no Brasil o crime compensa.” Ele menciona, como exemplo simbólico, o cancelamento de mais de dois mil anos de penas de condenados no Mensalão e na Operação Lava Jato, enquanto cidadãos sem passado delituoso enfrentam penas severas.
O desequilíbrio entre direitos dos criminosos e das vítimas
Góes chama atenção para o que considera uma inversão de valores na política de segurança pública e no debate jurídico contemporâneo. “Cresce a percepção de que há movimentos em marcha vitoriosa para garantir direitos e prerrogativas da marginalidade, sem que se veja qualquer movimento em favor das vítimas”, escreve.
Essa inversão, segundo ele, faz do Brasil uma das “nações mais violentas e operadas marginalmente do planeta”, na medida em que a sociedade perde a capacidade de reagir moral e institucionalmente à criminalidade organizada e à impunidade sistêmica.
Apelo final e perspectiva crítica
Ao encerrar o artigo, Góes lança um alerta moral e político, sugerindo que o país ainda pode reverter a escalada do crime, “não muito tempo, é verdade, mas ainda com possibilidades de abortar o avanço dos Pablos Escobares que infestam o País.”
*Joaci Góes é advogado, jornalista, escritor, empresário e político brasileiro, nascido em Ipirá (BA), em 1938. Figura de destaque na vida intelectual e pública da Bahia, ele preside o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) — instituição fundada em 1894 e considerada a mais antiga e uma das mais relevantes entidades culturais do estado, com sede em Salvador. Sua trajetória combina atuação nas áreas jurídica, política, empresarial e literária, refletindo uma vida dedicada ao pensamento crítico, à defesa da cultura baiana e ao fortalecimento das instituições democráticas.
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