O economista Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional (2018-2020) e atual economista-chefe do BTG Pactual, afirmou nesta terça-feira (23/09/2025), em São Paulo, que o Brasil precisará de um ajuste fiscal de R$ 250 bilhões para equilibrar suas contas públicas.
Segundo Almeida, o déficit nominal do país deve atingir 8,5% do PIB até o fim de 2026, um dos maiores entre economias relevantes, muito acima dos índices de Estados Unidos, Reino Unido e França, que operam entre 5% e 6% do PIB. Ele ressaltou que, sem controle do crescimento das despesas obrigatórias, a única alternativa seria elevar a carga tributária, hipótese de baixa aceitação no Congresso Nacional.
IFI aponta cenário fiscal menos otimista
Em setembro de 2025, a Instituição Fiscal Independente (IFI) divulgou relatório sobre o Projeto de Lei Orçamentária de 2026, projetando um cenário mais pessimista do que o estimado pelo governo.
- O PIB deve crescer 1,7% em 2026, abaixo dos 2,4% previstos pelo governo.
- A inflação projetada é de 4,3%, contra 3,6% da estimativa oficial.
- O déficit primário efetivo deve chegar a R$ 103 bilhões (0,7% do PIB) em 2026, enquanto o governo trabalha com meta de superávit de 0,25% do PIB.
- A dívida bruta deve alcançar 84% do PIB em 2026, ampliando os riscos fiscais.
- Para estabilizar a relação dívida/PIB, seria necessário um superávit primário de 2,1% do PIB, meta distante do atual quadro fiscal.
Esses dados reforçam a avaliação de Mansueto sobre a trajetória insustentável da dívida e a necessidade de cortes estruturais em despesas obrigatórias.
Revisão de despesas obrigatórias e salário mínimo
Almeida destacou que o próximo governo, a partir de 2027, terá de discutir a revisão da política de valorização do salário mínimo, que impacta diretamente aposentadorias e benefícios sociais. Ele argumentou que não será possível conter o gasto público apenas por meio de reformas administrativas, uma vez que o recuo das despesas com pessoal já ocorreu nos últimos anos.
O economista alertou ainda que parte do que é classificado como programa social não alcança integralmente as famílias mais pobres, o que demanda uma reavaliação da alocação de recursos.
Diagnóstico preocupante
As projeções da IFI em setembro de 2025 consolidam um diagnóstico preocupante: o orçamento federal para 2026 foi construído com premissas otimistas, destoando da realidade fiscal. As declarações de Mansueto Almeida encontram respaldo nos números oficiais, sobretudo no risco de a dívida bruta atingir 84% do PIB. O desafio imediato é conciliar responsabilidade fiscal com políticas sociais, evitando tanto cortes abruptos em benefícios essenciais quanto a erosão da confiança do mercado pela falta de credibilidade das metas fiscais.
Excelente escolha. Uma linha do tempo facilita a leitura e mostra, de forma clara, como a trajetória fiscal se deteriorou ao longo dos anos até chegar ao alerta de Mansueto e às projeções da IFI em setembro de 2025. Abaixo segue a versão textual da linha do tempo (pode ser transformada depois em infográfico 3D ou interativo para maior impacto editorial).
Linha do tempo da evolução fiscal do Brasil (2018–2026)
2018
- Gasto com pessoal: 4,3% do PIB.
- Dívida bruta: 75,3% do PIB.
- Início da gestão de Mansueto Almeida no Tesouro, com foco no teto de gastos.
2019
- PIB: +1,4%.
- Déficit primário: –1,0% do PIB.
- Reforma da Previdência aprovada, mas efeito limitado sobre o curto prazo.
2020 (pandemia da Covid-19)
- PIB: –3,9%.
- Déficit primário: –10,0% do PIB (maior da história recente).
- Dívida bruta: 88,6% do PIB.
- Gastos emergenciais ampliam rigidez orçamentária.
2021
- PIB: +4,8% (efeito rebote da pandemia).
- Déficit primário: –0,7% do PIB.
- Dívida bruta: 80,3% do PIB (redução temporária com inflação e receitas maiores).
2022
- Gasto com pessoal: 3,3% do PIB (queda em relação a 2018).
- PIB: +3,0%.
- Déficit nominal: –7,0% do PIB.
- Dívida bruta: 73,9% do PIB (efeito receitas extraordinárias e alta da inflação).
2023
- PIB: +2,9%.
- Déficit primário: –2,2% do PIB.
- Dívida bruta: 75,8% do PIB.
- Início da política de valorização real do salário mínimo.
2024
- PIB: +1,9%.
- Inflação (IPCA): 4,8%.
- Déficit primário: –1,4% do PIB.
- Dívida bruta: 78,2% do PIB.
- IFI alerta sobre necessidade de correções estruturais.
2025 (atual – setembro)
- PIB projetado: +2,0% (IFI).
- Inflação (IPCA): 5,5%.
- Déficit primário projetado: R$ 64,2 bilhões (0,51% do PIB).
- Dívida bruta projetada: 79,8% do PIB.
- Mansueto defende ajuste de R$ 250 bilhões para reverter trajetória insustentável.
2026 (projeções da IFI – setembro/2025)
- PIB projetado: +1,7% (contra 2,4% do governo).
- Inflação projetada: 4,3% (acima dos 3,6% estimados no PLOA).
- Déficit primário projetado: R$ 103 bilhões (0,7% do PIB).
- Dívida bruta projetada: 84% do PIB.
- IFI estima necessidade de superávit primário de 2,1% do PIB para estabilizar a dívida — muito distante da realidade fiscal.
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