A Câmara Municipal de Feira de Santana protagonizou uma situação incomum na noite desta sexta-feira (24/10/2025), quando o prefeito José Ronaldo de Carvalho precisou assumir a presidência do Legislativo para garantir o andamento de uma sessão especial. A medida se tornou necessária diante da ausência quase total dos vereadores, o que inviabilizou o trâmite regular da solenidade convocada para celebrar os 50 anos da Cooperfeira — Cooperativa Pecuária de Feira de Santana.
O único parlamentar presente, vereador Pedro Américo (Cidadania), ao subir à tribuna para ler as homenagens destinadas à Cooperfeira e a duas personalidades locais, solicitou ao prefeito e ex-vereador José Ronaldo de Carvalho que assumisse a condução da sessão na presidência da Câmara. O episódio, sem precedentes na história recente do Legislativo feirense, deu-se diante de um plenário esvaziado, sem a presença dos demais vereadores, e contou apenas com a participação do ex-prefeito Colbert Martins Filho, servidores da Casa e convidados dos homenageados.
Sessão esvaziada expõe desgaste político
A cerimônia havia sido convocada pelo presidente da Câmara, vereador Marcos Lima (União Brasil), conforme convite emitido pelo cerimonial do Legislativo em 16 de outubro de 2025, com a Comenda Maria Quitéria destinada aos homenageados João Martins da Silva Júnior, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), e Luiz Alvim Boaventura (in memoriam), ex-presidente da Cooperfeira.
Apesar da formalidade e da relevância histórica do evento, a baixa adesão dos parlamentares revelou um desinteresse crescente nas sessões solenes promovidas pela Casa. A multiplicação de homenagens — frequentemente propostas para atender demandas eleitorais ou interesses políticos — tem descaracterizado o valor simbólico e institucional dessas solenidades.
A banalização das homenagens legislativas
Nos últimos anos, a Câmara de Feira de Santana ampliou significativamente o número de títulos honoríficos, moções e comendas, muitas vezes sem relação direta com serviços públicos relevantes ou representatividade social. Essa profusão de honrarias acabou por esvaziar o sentido político e cívico que deveria sustentar tais reconhecimentos.
A situação verificada nesta sessão especial — vereadores ausentes e um prefeito assumindo a presidência do Legislativo — simboliza o colapso de um modelo cerimonial disfuncional, que se distancia do papel republicano e fiscalizador esperado do Parlamento municipal.
Reflexo da crise de legitimidade
A ausência quase total de vereadores, inclusive do próprio presidente, reflete a crise de legitimidade das instituições locais, agravada por práticas de autopromoção e distanciamento das pautas efetivas da população. Enquanto as solenidades se multiplicam, temas estruturais como mobilidade urbana, transparência administrativa e políticas públicas de saúde e educação perdem espaço no debate legislativo.
Esse quadro sugere um esvaziamento simbólico do Legislativo municipal, reduzido a palco de formalidades protocolares, quando deveria ser arena de deliberação e controle político.
Vazio institucional
O episódio protagonizado pelo prefeito José Ronaldo ilustra o vazio institucional que se instala quando o Legislativo abdica de sua centralidade democrática. A ausência dos vereadores em uma sessão solene, somada à sobrecarga de homenagens sem critério, aponta para a desvalorização das prerrogativas parlamentares e o descrédito perante a sociedade civil.
No contexto atual, em que a eficiência e a ética pública são exigências fundamentais, a banalização de títulos e comendas transforma o reconhecimento público em mera moeda política. A Câmara de Feira de Santana, ao permitir tal distorção, compromete sua imagem e reforça a percepção de distanciamento entre poder e cidadania.
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