A presidência da COP30, sediada em Belém (PA), publicou nesta quinta-feira (23/10/2025) sua oitava carta oficial, destacando a adaptação às mudanças climáticas como tema central da próxima Conferência das Nações Unidas sobre o Clima. O documento defende que a adaptação deve ser tratada como questão global, exigindo maior participação de recursos públicos e políticas integradas entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Adaptação climática como eixo central da COP30
Segundo o texto, a falta de clareza sobre o tema da adaptação nos últimos anos contribuiu para a resistência de governos e empresas em destinar recursos à área. A carta afirma que o custo da inação é elevado e classifica a adaptação como “o próximo passo da evolução humana”.
O documento ressalta que a escassez de investimentos provoca vulnerabilidade em países pobres, forçando-os a realocar verbas de setores essenciais como saúde, educação e infraestrutura para responder a emergências climáticas.
“Estas não são apenas crises ambientais, mas alertas fiscais e riscos à estabilidade global”, registra o texto, que relaciona a instabilidade climática à fragilidade econômica de diversas nações.
Financiamento climático e meta de triplicar aportes
Atualmente, menos de um terço do financiamento climático global é destinado à adaptação, percentual considerado “muito aquém das necessidades” pela presidência da COP30. A meta da conferência é triplicar os investimentos no setor.
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, afirmou que os aportes em adaptação não devem ser vistos como simples assistência financeira, mas como instrumentos de estabilidade fiscal e produtividade. “Cada estrada resiliente, cada escola adaptada e cada sistema de alerta precoce se paga em perdas evitadas”, diz a carta, citando dados do Banco Mundial, segundo os quais ações robustas de adaptação podem gerar até quatro vezes o seu custo em benefícios econômicos.
Impactos econômicos e papel dos países vulneráveis
De acordo com estimativas mencionadas na carta, desastres climáticos custam entre 2% e 5% do PIB anual da África, e eventos extremos podem comprometer décadas de desenvolvimento em Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS), como demonstrado pela destruição causada pelo Ciclone Freddy.
Em entrevista, Corrêa do Lago reforçou que recursos públicos são essenciais para financiar políticas de adaptação e que o tema deve ser visto como um novo pilar da economia climática, comparável à mitigação.
“Empresas buscam investir em regiões adaptadas, pois a resiliência climática passou a ser um fator estratégico de atração de capital”, destacou o diplomata.
Aquecimento global e limites de 1,5 °C
Na quarta-feira (22/10/2025), o secretário-geral da ONU, António Guterres, reconheceu que os esforços para limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais não serão alcançados no curto prazo, embora a meta permaneça viável até o final do século.
Corrêa do Lago afirmou que o chamado “overshoot”, ou ultrapassagem temporária do limite de 1,5 °C, não representa abandono da meta, mas sim a necessidade de adaptação acelerada para permitir o retorno à faixa segura de temperatura.
Licença para exploração na foz do Amazonas
O presidente da COP30 também comentou a autorização concedida pelo Ibama à Petrobras para realizar pesquisas de petróleo na foz do rio Amazonas. Ele avaliou que a decisão, embora polêmica, não altera os rumos da conferência e demonstra transparência institucional no Brasil.
“As decisões estão sendo tomadas de forma aberta, o que comprova o funcionamento das instituições e a maturidade do debate ambiental no país”, afirmou Corrêa do Lago.
Adaptação na prática e novos financiamentos
Entre os anúncios feitos, o embaixador revelou que a COP30 será uma “conferência sem gravata”, medida simbólica para se adaptar ao clima quente e úmido de Belém. Ele também informou que fundos filantrópicos internacionais financiarão a participação de países africanos e insulares, por meio de mecanismos da ONU, sem repasse direto ao governo brasileiro.
O Mapa do Caminho Baku-Belém, documento conjunto entre as presidências do Brasil e do Azerbaijão, será apresentado em (03/11/2025), antes da cúpula de chefes de Estado. O texto pretende detalhar como alcançar US$ 1,3 trilhão para ações climáticas globais.
Fundo Tropical Forests Facility Forever (TFFF)
Um dos principais resultados esperados na COP Amazônica é o Tropical Forests Facility Forever (TFFF), fundo destinado à preservação das florestas tropicais. Nesta quinta-feira, Indonésia e Brasil anunciaram aportes de US$ 1 bilhão cada.
O fundo prevê US$ 25 bilhões em capital soberano para alavancar US$ 100 bilhões em investimentos privados. A diretoria do Banco Mundial já aprovou uma das etapas jurídicas para o início das operações.
*Com informações da RFI.
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