Erro de cálculo | Por Luiz Holanda

A ofensiva de Donald Trump contra o Brasil, marcada pelo tarifaço e pelo objetivo de enfraquecer Lula em favor de Jair Bolsonaro, não trouxe os resultados esperados. O breve encontro de 39 segundos entre Trump e Lula na ONU abriu espaço para negociações, especialmente sobre terras raras, enquanto os Estados Unidos enfrentam novo shutdown, atingindo 750 mil servidores federais e expondo divergências internas sobre o orçamento e o programa Obamacare.
Presidente Donald Trump e Lula dividem tensões e negociações após tarifaço, encontro relâmpago na ONU e crise do shutdown que paralisa serviços públicos nos EUA.

No livro a Arte da guerra, um dos maiores tratados de estratégia de todos os tempos, Sun Tzu ensina que devemos sempre refletir como se deve lutar para a vitória, que pode ser alcançada sem o conflito, bastando apenas que a estratégia seja aplicada de acordo com as análises da situação. A estratégia aplicada por Trump na disputa com o presidente Lula da Silva, que pretendia ajudar o ex-presidente Jair Bolsonaro, parece, pelo menos por enquanto, que não foi bem analisada. A enxurrada de tarifas sobre os produtos brasileiros não surtiu os efeitos pretendidos, pois Bolsonaro terminou sendo condenado apesar das pressões americanas. além disso, houve um pequeno aumento da popularidade de Lula, apesar do seu alto índice de rejeição.

Nossa economia parecia lidar surpreendentemente bem com as pressões quando Trump percebeu que tinha de mudar de rumo. O breve encontro que teve com Lula na ONU, de apenas 39 segundos, fez com que Trump proclamasse que eles tiveram “uma excelente química”. Foi o bastante para animar o governo, muito embora já se sabe que nada foi por acaso. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, o encontro não foi casual, mas orquestrado ao longo de várias semanas por uma série de atores, inclusive pelo enviado especial de Trump, Richard Grenell, que teria feito uma viagem secreta a Brasília no início de setembro para aparar as arestas.

Não se sabe qual será a reação de Trump num possível encontro com Lula, mas se tudo correr bem, pode ser que se chegue a um acordo. Pode também haver uma explosão do presidente americano como aconteceu com Zelensky e com Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul. A diplomacia brasileira está cautelosa, pois o caminho para a distensão não é fácil. A situação do Brasil pode ser diferente da vivida pelo Japão, pela Coreia, União Europeia e Ucrânia, que foram obrigadas a fazer muitas concessões. Entretanto,ono nosso caso, a oportunidade existe, bastando apenas aproveitar a área mais fértil para um acordo, que pode estar nos minerais críticos – especificamente nas chamadas terras raras. O Brasil tem a segunda maior reserva dessas terras do mundo, atrás apenas da China, mas não tem como explorá-las, seja por falta de recursos, seja por falta de tecnologia, que os Estados Unidos estão bem posicionados para fornecer.

Trump demonstrou que tem interesse por essas terras, conforme fez com a Ucrânia. Basta apenas o Brasil concordar para isso acontecer. Pode também haver um “acordo de cavalheiros” para garantir que Bolsonaro permaneça, pelo menos, em prisão domiciliar, o que daria uma certa vantagem para Trump. É provável que algum grau de sanções, tensões e insultos continue enquanto ambos estiverem no cargo, mas Trump se distanciaria de uma política que não lhe trouxesse vantagens. Como disse certo analista, pelo menos, por enquanto, é possível imaginar que ambos os lados consigam o que precisam, mesmo que isso leve mais do que 39 segundos.

No momento Trump vive uma crise devido a paralisação (shutdow) do Congresso americano para aprovar o orçamento federal necessário para financiar a máquina pública. Sem perspectiva de acordo entre republicanos e democratas, milhares de servidores serão atingidos, além do atraso na prestação dos serviços públicos. O Congresso tinha até 30 de setembro para aprovar o orçamento e evitar a paralisação. No Senado, são necessários 60 votos para aprovar o orçamento federal. Com 53 cadeiras, os republicanos, sozinhos, não conseguem aprovar a proposta.

O motivo central da crise é a exigência dos democratas de manter recursos para a saúde previstos em um programa conhecido como Obamacare. O programa ajuda a reduzir os custos dos planos de saúde para milhões de americanos. Como esses subsídios estão prestes de chegar ao fim, é preciso renová-los imediatamente, sob pena de os americanos mais necessitados não poderem pagar planos de saúde mais caros. Enquanto não há solução, cerca de 750 mil funcionários federais devem ser afastados. Parte pode ser demitida, já que a Casa Branca determinou às agências que preparem cortes permanentes. Até a educação será atingida, além de inúmeros serviços públicos.

Esse é o segundo shutdow de Trump. No seu primeiro governo, em dezembro de 2018, houve uma paralisação que durou 35 dias devido ao seu o polêmico projeto do muro na fronteira com o México para frear a imigração para os EUA, uma promessa de campanha que Trump renovou nesse seu segundo mandato. A paralisação se estendeu até janeiro de 2019. Vamos ver quanto tempo essa vai durar.

*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.


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