EUA enviam porta-aviões à América do Sul, sancionam presidente da Colômbia e ampliam ofensiva contra Venezuela

A US Navy sailor prepares to launch an E-2 Hawkeye surveillance aircraft from the deck of the USS Gerald R. Ford off the shores of Halifax, Canada. For the first time ever, the US Navy’s newest aircraft carrier USS Gerald R. Ford (CVN 78) is on her way to European waters to train alongside NATO Allies and partners. The Ford class incorporates 23 new technologies, compromising dramatic advances in propulsion, power generation, ordnance handling and aircraft launch systems. By training together, Allies and partners continue to strengthen relationships and technical interoperability, especially in strategically important areas such as the Atlantic, which keeps Europe and North America connected. The USS Gerald R. Ford will be sailing with ships from Canada, Denmark, France, Germany, the Netherlands and Spain in the course of their deployment.

O governo do presidente Donald Trump anunciou nesta sexta-feira (24/10/2025) o envio do grupo de porta-aviões USS Gerald R. Ford para a América Latina, ampliando de forma inédita a presença militar dos Estados Unidos no Caribe e na América do Sul. A medida, classificada como uma das mais ousadas demonstrações de força norte-americana na região desde o fim da Guerra Fria, ocorre em meio ao aumento das tensões com Venezuela e Colômbia e à intensificação da chamada “guerra global contra o narcotráfico”.

Escalada militar e justificativa oficial

O Pentágono afirmou que o deslocamento da frota visa “reforçar a capacidade dos EUA de detectar, monitorar e interromper atividades ilícitas que ameaçam a segurança nacional”. O porta-aviões Gerald R. Ford, acompanhado de oito navios de guerra, um submarino nuclear e aeronaves F-35, deverá operar sob o comando do Comando Sul (USSOUTHCOM), responsável pelas missões norte-americanas no Hemisfério Ocidental.

O Ford, com mais de 5 mil tripulantes e 75 aeronaves embarcadas, é equipado com sistemas de radar de última geração e mísseis antiaéreos Evolved Sea Sparrow, sendo considerado o símbolo máximo do poder naval norte-americano. Segundo fontes do Departamento de Defesa, o navio atravessava o Estreito de Gibraltar rumo ao Atlântico quando recebeu ordens para seguir em direção à região do Caribe.

Desde setembro, os EUA realizaram dez ataques a supostos navios de drogas no Caribe e no Pacífico, resultando em cerca de 40 mortos — alguns deles identificados como venezuelanos. O secretário de Defesa Pete Hegseth confirmou que o ataque mais recente, na noite de quinta-feira, destruiu uma embarcação operada pela gangue Tren de Aragua, deixando seis mortos.

Reação de Nicolás Maduro e ameaça de insurreição

O presidente Nicolás Maduro reagiu com veemência às operações. Em discurso televisionado, afirmou que uma eventual intervenção dos EUA na Venezuela resultaria em “uma greve geral e milhões de homens e mulheres armados nas ruas até a retomada do poder popular”. Washington, por sua vez, mantém uma recompensa de US$ 50 milhões pela captura de Maduro, acusado de envolvimento com o tráfico internacional de drogas — acusações que o líder venezuelano nega.

O governo Trump, por meio da CIA, teria autorizado operações secretas no território venezuelano, segundo fontes da Reuters. O episódio reacende temores de uma nova fase de confrontos indiretos entre os EUA e regimes aliados da Rússia e China na América do Sul.

Sanções e crise diplomática com a Colômbia

Em outro movimento de alta tensão, Washington impôs sanções ao presidente colombiano Gustavo Petro, à sua família e ao ministro do Interior Armando Benedetti, sob a acusação de permitir a expansão do comércio de drogas. As sanções congelam ativos nos EUA e proíbem cidadãos norte-americanos de manter relações comerciais com os alvos.

O Departamento do Tesouro afirmou que a produção de cocaína na Colômbia “atingiu o maior nível em décadas” desde que Petro assumiu o poder. Em resposta, o presidente colombiano classificou as alegações como “mentiras” e declarou que seu governo apreendeu “mais cocaína do que em toda a história da Colômbia”.

O conflito diplomático ganhou contornos pessoais após Trump chamar Petro de “líder de drogas ilegais” e “bandido”. O mandatário colombiano respondeu dizendo que as sanções representam “uma farsa da política antidrogas americana” e prometeu recorrer à justiça dos EUA. Na noite de sexta-feira, milhares de apoiadores se reuniram em Bogotá para manifestar solidariedade ao presidente.

Reações regionais e riscos geopolíticos

As medidas de Washington provocaram apreensão entre os países latino-americanos, que veem o avanço militar dos EUA como um retorno à lógica das intervenções unilaterais do século XX. Especialistas alertam que a presença do porta-aviões Ford em águas próximas à Venezuela e à Colômbia pode gerar incidentes de segurança com repercussões imprevisíveis.

Analistas como Brett Bruen, ex-assessor do governo Barack Obama, advertiram que “essa teatralidade de cowboy cria condições explosivas que os próprios EUA terão de enfrentar”. Para observadores diplomáticos, a nova política de Trump rompe com décadas de cooperação antidrogas multilateral, substituindo-a por uma estratégia de coerção direta.

Enquanto isso, países como México, Brasil e Argentina mantêm silêncio oficial, aguardando os desdobramentos da ofensiva militar e das sanções diplomáticas. A Organização dos Estados Americanos (OEA) ainda não se pronunciou formalmente, mas fontes internas indicam preocupação com uma escalada que “pode transformar o Caribe em zona de conflito aberto”.

Diplomacia armada

A ofensiva militar norte-americana na América do Sul marca uma inflexão geopolítica de alta relevância. O uso de porta-aviões e sanções contra chefes de Estado evidencia o retorno de uma diplomacia armada baseada na doutrina da força, contrastando com o multilateralismo das décadas anteriores. O risco imediato é o enfraquecimento da soberania latino-americana, substituída por uma lógica de alinhamento compulsório em nome da segurança hemisférica dos EUA.

Ao vincular a luta antidrogas à retórica eleitoral, o governo Trump também projeta para o cenário internacional a polarização doméstica norte-americana. A instrumentalização militar da política externa tende a aumentar as tensões regionais, abrindo espaço para maior influência da China e da Rússia no subcontinente.


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