O governo do presidente Donald Trump anunciou nesta sexta-feira (24/10/2025) o envio do grupo de porta-aviões USS Gerald R. Ford para a América Latina, ampliando de forma inédita a presença militar dos Estados Unidos no Caribe e na América do Sul. A medida, classificada como uma das mais ousadas demonstrações de força norte-americana na região desde o fim da Guerra Fria, ocorre em meio ao aumento das tensões com Venezuela e Colômbia e à intensificação da chamada “guerra global contra o narcotráfico”.
Escalada militar e justificativa oficial
O Pentágono afirmou que o deslocamento da frota visa “reforçar a capacidade dos EUA de detectar, monitorar e interromper atividades ilícitas que ameaçam a segurança nacional”. O porta-aviões Gerald R. Ford, acompanhado de oito navios de guerra, um submarino nuclear e aeronaves F-35, deverá operar sob o comando do Comando Sul (USSOUTHCOM), responsável pelas missões norte-americanas no Hemisfério Ocidental.
O Ford, com mais de 5 mil tripulantes e 75 aeronaves embarcadas, é equipado com sistemas de radar de última geração e mísseis antiaéreos Evolved Sea Sparrow, sendo considerado o símbolo máximo do poder naval norte-americano. Segundo fontes do Departamento de Defesa, o navio atravessava o Estreito de Gibraltar rumo ao Atlântico quando recebeu ordens para seguir em direção à região do Caribe.
Desde setembro, os EUA realizaram dez ataques a supostos navios de drogas no Caribe e no Pacífico, resultando em cerca de 40 mortos — alguns deles identificados como venezuelanos. O secretário de Defesa Pete Hegseth confirmou que o ataque mais recente, na noite de quinta-feira, destruiu uma embarcação operada pela gangue Tren de Aragua, deixando seis mortos.
Reação de Nicolás Maduro e ameaça de insurreição
O presidente Nicolás Maduro reagiu com veemência às operações. Em discurso televisionado, afirmou que uma eventual intervenção dos EUA na Venezuela resultaria em “uma greve geral e milhões de homens e mulheres armados nas ruas até a retomada do poder popular”. Washington, por sua vez, mantém uma recompensa de US$ 50 milhões pela captura de Maduro, acusado de envolvimento com o tráfico internacional de drogas — acusações que o líder venezuelano nega.
O governo Trump, por meio da CIA, teria autorizado operações secretas no território venezuelano, segundo fontes da Reuters. O episódio reacende temores de uma nova fase de confrontos indiretos entre os EUA e regimes aliados da Rússia e China na América do Sul.
Sanções e crise diplomática com a Colômbia
Em outro movimento de alta tensão, Washington impôs sanções ao presidente colombiano Gustavo Petro, à sua família e ao ministro do Interior Armando Benedetti, sob a acusação de permitir a expansão do comércio de drogas. As sanções congelam ativos nos EUA e proíbem cidadãos norte-americanos de manter relações comerciais com os alvos.
O Departamento do Tesouro afirmou que a produção de cocaína na Colômbia “atingiu o maior nível em décadas” desde que Petro assumiu o poder. Em resposta, o presidente colombiano classificou as alegações como “mentiras” e declarou que seu governo apreendeu “mais cocaína do que em toda a história da Colômbia”.
O conflito diplomático ganhou contornos pessoais após Trump chamar Petro de “líder de drogas ilegais” e “bandido”. O mandatário colombiano respondeu dizendo que as sanções representam “uma farsa da política antidrogas americana” e prometeu recorrer à justiça dos EUA. Na noite de sexta-feira, milhares de apoiadores se reuniram em Bogotá para manifestar solidariedade ao presidente.
Reações regionais e riscos geopolíticos
As medidas de Washington provocaram apreensão entre os países latino-americanos, que veem o avanço militar dos EUA como um retorno à lógica das intervenções unilaterais do século XX. Especialistas alertam que a presença do porta-aviões Ford em águas próximas à Venezuela e à Colômbia pode gerar incidentes de segurança com repercussões imprevisíveis.
Analistas como Brett Bruen, ex-assessor do governo Barack Obama, advertiram que “essa teatralidade de cowboy cria condições explosivas que os próprios EUA terão de enfrentar”. Para observadores diplomáticos, a nova política de Trump rompe com décadas de cooperação antidrogas multilateral, substituindo-a por uma estratégia de coerção direta.
Enquanto isso, países como México, Brasil e Argentina mantêm silêncio oficial, aguardando os desdobramentos da ofensiva militar e das sanções diplomáticas. A Organização dos Estados Americanos (OEA) ainda não se pronunciou formalmente, mas fontes internas indicam preocupação com uma escalada que “pode transformar o Caribe em zona de conflito aberto”.
Diplomacia armada
A ofensiva militar norte-americana na América do Sul marca uma inflexão geopolítica de alta relevância. O uso de porta-aviões e sanções contra chefes de Estado evidencia o retorno de uma diplomacia armada baseada na doutrina da força, contrastando com o multilateralismo das décadas anteriores. O risco imediato é o enfraquecimento da soberania latino-americana, substituída por uma lógica de alinhamento compulsório em nome da segurança hemisférica dos EUA.
Ao vincular a luta antidrogas à retórica eleitoral, o governo Trump também projeta para o cenário internacional a polarização doméstica norte-americana. A instrumentalização militar da política externa tende a aumentar as tensões regionais, abrindo espaço para maior influência da China e da Rússia no subcontinente.
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