Governo Lula afasta indicado de Arthur Maia em meio a denúncias e votos contra o Planalto

Lula retira aliado de Arthur Maia do comando da Codevasf após série de controvérsias.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a exoneração de Harley Xavier da superintendência da Codevasf – 2ª SR, em movimento político que busca retomar o controle da estatal e reduzir a influência de aliados infiéis no Congresso.

O governo federal exonerou, no dia 10 de outubro de 2025 (sexta-feira), Harley Xavier, superintendente da Codevasf – 2ª Superintendência Regional, em decisão que marca uma mudança estratégica na relação do Planalto com o Centrão. A medida, publicada no Diário Oficial, ocorre após o deputado Arthur Maia (União Brasil-BA) acumular votos contrários a projetos de interesse do Executivo e críticas à condução política do governo Lula.

Xavier estava há quase uma década no cargo, consolidando influência sobre obras e contratos milionários da estatal em estados do Nordeste. Sua exoneração representa o rompimento de um acordo político histórico, que concedia ao grupo de Maia o controle da regional baiana da Codevasf, um dos braços mais importantes na execução de obras federais.

Codevasf sob escrutínio de órgãos de controle

A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) vem sendo alvo de investigações do Tribunal de Contas da União (TCU), da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, com denúncias que apontam para superfaturamento de contratos, direcionamento de licitações e mau uso de verbas públicas.

Nos últimos anos, a estatal transformou-se em símbolo do aparelhamento político da máquina pública, sendo utilizada por diversos parlamentares como instrumento de distribuição de obras e bens a redutos eleitorais. Em vários casos, as obras não foram concluídas ou apresentaram irregularidades, gerando prejuízos milionários aos cofres públicos.

Projetos paralisados e suspeitas de favorecimento político

Na Bahia, a 2ª Superintendência da Codevasf — sob gestão de Harley Xavier — foi responsável por projetos emblemáticos que não saíram do papel, como a revitalização da orla de Bom Jesus da Lapa e a construção de um porto turístico no São Francisco, ambos com recursos federais liberados, mas sem execução efetiva.

Fontes ligadas ao governo afirmam que a demora nas entregas e os indícios de direcionamento político na execução de contratos pesaram na decisão do Planalto. Os relatórios de auditoria citam empresas contratadas por valores acima de mercado, obras inacabadas ou com baixa qualidade técnica e convênios com prefeituras controladas por aliados de Maia.

Reação política e reposicionamento no Congresso

A exoneração de Harley Xavier foi interpretada em Brasília como um recado direto de Lula ao Centrão, sobretudo aos parlamentares que mantêm cargos no governo, mas votam sistematicamente contra o Planalto. O caso de Arthur Maia tornou-se emblemático: embora ocupe posição de destaque na Câmara e tenha influência sobre recursos da Codevasf, o deputado tem adotado postura de independência em votações-chave.

Com a saída de Xavier, o governo pretende recompor o comando da estatal com um nome técnico, ligado à Casa Civil e ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, com o objetivo de restringir a partidarização das superintendências e restabelecer a governança administrativa da empresa pública.

Estratégia do Planalto e impacto institucional

O movimento sinaliza um reposicionamento político do governo Lula diante de um cenário de instabilidade na base aliada. Desde o início do terceiro mandato, o presidente tem equilibrado concessões ao Centrão com medidas para reafirmar autoridade sobre estatais e fundos públicos.

Ao afastar um indicado de Arthur Maia, Lula reforça a mensagem de que cargos federais dependem de fidelidade política e eficiência administrativa, e não apenas de acordos partidários. O episódio pode servir como precedente para novas substituições em órgãos controlados por grupos regionais que contrariem orientações do Planalto.

Dilema estrutural da política

A exoneração de Harley Xavier expõe o dilema estrutural da política de coalizão no Brasil, em que estatais como a Codevasf se tornaram moeda de barganha entre Executivo e Legislativo. O caso ilustra como a ocupação política de órgãos técnicos compromete a eficiência do gasto público e corrói a credibilidade institucional.

Ao mesmo tempo, a decisão de Lula não representa uma ruptura completa com o modelo de composição parlamentar, mas um ajuste tático para reafirmar o controle sobre áreas estratégicas e conter a dispersão de poder. Resta saber se o governo conseguirá manter o equilíbrio entre governabilidade e integridade administrativa.


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