O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), Carlos Henrique Passos, afirmou que o Nordeste permanece estagnado em 14% do PIB nacional devido à ausência de obras estruturantes e à baixa integração logística entre estados. A declaração foi feita na terça-feira (28/10/2025), durante o encontro “Logística e Conectividade: rodovias, ferrovias e portos para a competitividade”, realizado em Salvador, promovido pelo jornal Valor Econômico, em parceria com a Infra S.A. e o Ministério dos Transportes.
Passos destacou que o desenvolvimento regional depende de investimentos em infraestrutura que garantam competitividade produtiva e condições adequadas para a industrialização local.
“Há muitos anos estamos com 14% do PIB, embora tenhamos uma participação populacional muito maior. Do jeito que fazemos, vamos continuar nesse percentual — se não perdermos ainda mais”, afirmou.
Desigualdade produtiva e industrialização fora do estado
O dirigente citou o caso do algodão baiano, cuja produção representa cerca de 20% do total brasileiro, mas cuja industrialização ocorre majoritariamente fora da Bahia. O Observatório da Indústria da FIEB, em parceria com o Senai Cimatec, desenvolveu um estudo que demonstra o potencial de geração de empregos caso a cadeia têxtil fosse plenamente instalada no estado.
Segundo o levantamento, a industrialização integral da produção baiana de algodão exigiria mão de obra superior à disponível no estado, demonstrando o potencial de crescimento reprimido.
“Nós temos o potencial, mas não conseguimos aproveitar o benefício econômico daquilo que produzimos”, explicou Passos.
Infraestrutura e parcerias público-privadas
Para o presidente da FIEB, o caminho para destravar o crescimento passa pela conclusão de obras logísticas e pelo avanço de parcerias público-privadas (PPPs) que permitam contornar o desequilíbrio fiscal dos estados nordestinos. Entre as obras consideradas prioritárias estão rodovias, ferrovias e portos, essenciais para reduzir custos logísticos e ampliar a integração comercial entre o Nordeste e os grandes centros consumidores do país.
“Precisamos dar funcionalidade ao que já existe. A Bahia precisa hoje — e os diagnósticos já estão feitos. O que falta é terminar cada trecho e entregar resultados concretos”, reforçou o presidente.
Reforma Tributária e concentração regional de recursos
Passos também relacionou a discussão à Reforma Tributária, que, segundo ele, tende a concentrar receitas nas regiões com maior poder de consumo. O dirigente alertou que, sem renda e sem mercado interno robusto, o Nordeste corre o risco de ampliar sua defasagem econômica em relação ao Sul e Sudeste.
“A Reforma vai direcionar recursos onde há mercado. E para ter mercado, é preciso ter renda. Temos um arranjo político favorável; o que precisamos agora é dar terminalidade às obras e fazer a Bahia funcionar”, afirmou.
Debate técnico e perspectivas para o setor
Além do presidente da FIEB, participaram do painel Ana Josephina Claro, sócia-diretora da 3A LOG e representante da Fetrabase (Federação de Transporte Rodoviário de Cargas da Bahia); Marcus Alban, professor titular da Universidade Federal da Bahia (UFBA); e Waldeck Ornelas, especialista em planejamento urbano e regional. O debate foi mediado pela repórter Marina Falcão, do Valor Econômico.
Os participantes ressaltaram que a integração logística do Nordeste é condição essencial para ampliar a competitividade, reduzir desigualdades e atrair investimentos industriais, especialmente nos eixos portuários de Aratu, Suape e Pecém, que concentram parte relevante da estrutura exportadora da região.
Inércia logística e industrial do Nordeste
A fala do presidente da FIEB reflete um diagnóstico recorrente sobre a inércia logística e industrial do Nordeste. Embora o estado da Bahia tenha desenvolvido polos industriais relevantes em Camaçari, Luís Eduardo Magalhães e Feira de Santana, a falta de conectividade multimodal e a burocracia nas concessões públicas continuam a travar o potencial produtivo regional.
O alerta de Passos sobre a necessidade de “dar funcionalidade ao que já existe” sintetiza a principal falha de gestão pública: a disjunção entre planejamento e execução. Sem a conclusão de corredores logísticos e a atração de capital privado, o Nordeste continuará preso a um modelo econômico primário-exportador, dependente de commodities e distante da geração de valor agregado.
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