PF envia investigação ao STF após menção a Rodrigo Pacheco em operação que apura corrupção na mineração em Minas Gerais

A Polícia Federal enviou ao STF a investigação da Operação Rejeito após encontrar o nome de Rodrigo Pacheco em uma anotação manuscrita no celular de um delegado preso. A medida é de praxe diante do foro privilegiado. Pacheco negou qualquer relação irregular e criticou o vazamento. O caso será decidido pelo ministro Dias Toffoli, que avaliará a competência do Supremo.
Polícia Federal remete ao Supremo investigação sobre esquema bilionário no setor de mineração após encontrar citação manuscrita ao senador Rodrigo Pacheco em celular de delegado preso na Operação Rejeito.

Reportagem do Uol, assinada por Mateus Coutinho e Fábio Serapião, revelou nesta quinta-feira (29/10/2025) que a Polícia Federal (PF) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a investigação da Operação Rejeito, que apura um esquema de corrupção e crimes ambientais no setor de mineração em Minas Gerais, após ser identificado o nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) em anotações encontradas no celular de um delegado preso.

A decisão segue o protocolo que exige o envio ao STF sempre que surgem menções a autoridades com foro por prerrogativa de função, como senadores e deputados federais. O caso foi encaminhado ao gabinete do ministro Dias Toffoli, que avaliará se a simples citação justifica a tramitação da investigação na Suprema Corte.

Pacheco é citado em anotação encontrada com delegado preso

A menção ao nome do parlamentar surgiu em um documento manuscrito localizado no telefone do delegado federal Rodrigo Teixeira, preso em 17 de setembro durante a deflagração da Operação Rejeito. Segundo a PF, o material teria sido enviado pela esposa do delegado.

Na anotação, datada de 2021, Pacheco aparece no topo de um organograma que representaria a estrutura de uma organização criminosa voltada à exploração irregular de lavras e licenciamento ambiental fraudulento em Minas Gerais. Abaixo do nome do senador estariam o ex-deputado João Alberto Paixão Lages e os empresários Lucas Kallas e Alan Cavalcante, ligados ao setor mineral.

Defesa nega irregularidades e critica vazamento de informações

Por meio de nota enviada ao UOL, Pacheco afirmou manter relação de amizade pessoal com João Alberto Lages, mas negou qualquer envolvimento em irregularidades. Segundo o senador, o escritório de advocacia que fundou, atualmente denominado Grimaldi, prestou serviços à empresa Global Mineração entre 2020 e 2024, apenas em matéria criminal.

O parlamentar classificou o episódio como “estranho e sem lastro em prova concreta”, destacando que “não se pode atribuir qualquer valor jurídico a um papel manuscrito de autoria incerta”. Ele também questionou o vazamento seletivo de informações envolvendo autoridades públicas.

Operação Rejeito e conexão com outros inquéritos

Deflagrada pela PF em setembro, a Operação Rejeito investiga um grupo de empresas do setor de mineração suspeitas de corrupção de servidores públicos e fraudes ambientais. O esquema teria movimentado cerca de R$ 1,5 bilhão em propinas e licenças irregulares junto a órgãos de fiscalização estaduais e federais, incluindo a Agência Nacional de Mineração (ANM).

O empresário Lucas Kallas, mencionado na anotação, não foi alvo da Rejeito, mas é investigado na Operação Parcours, que apura irregularidades semelhantes dentro da ANM. Já João Alberto Paixão Lages, ex-deputado estadual pelo MDB, foi preso na mesma operação que levou o delegado Teixeira à custódia.

STF deve decidir sobre competência e possível desmembramento do caso

O material foi enviado ao juiz da 1ª instância em Belo Horizonte, que remeteu os autos ao STF junto com habeas corpus de investigados cuja análise estava prevista para 22 de outubro. A chegada dos documentos à Suprema Corte ocorreu na semana passada, e a decisão sobre a competência de julgamento — se permanece na Justiça Federal de Minas Gerais ou passa integralmente ao STF — ainda aguarda despacho de Dias Toffoli.

Fontes da investigação afirmam que o envio ao Supremo não implica juízo de valor sobre o envolvimento de Pacheco, sendo apenas uma medida processual preventiva diante da prerrogativa de foro.

Conflito entre política e investigações

O caso surge em meio à disputa pela vaga no STF aberta com a aposentadoria do ministro Luís Roberto Barroso. Pacheco é um dos nomes defendidos por parlamentares, entre eles o senador Davi Alcolumbre (União-AP), enquanto o Advogado-Geral da União, Jorge Messias, é considerado o favorito do presidente Lula.

A citação ao nome de Pacheco, portanto, ganha peso político no contexto da sucessão no Supremo, alimentando especulações sobre vazamentos e disputas internas entre grupos do Congresso e do Executivo.

Investigação e disputas de poder 

O episódio evidencia o delicado equilíbrio entre investigação policial e disputas de poder institucional. A simples menção a uma autoridade, sem comprovação de envolvimento, já é suficiente para alterar o foro de um processo, o que frequentemente retarda investigações e gera exposição política desproporcional.

O caso reforça a necessidade de transparência processual e contenção de vazamentos seletivos, que fragilizam tanto a credibilidade da Justiça quanto a do Parlamento. A proximidade entre política e sistema de justiça, quando não tratada com rigor técnico, cria terreno fértil para a instrumentalização de inquéritos em meio a contextos de disputa pelo poder.


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