A Polícia Federal, em cooperação com a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Receita Federal do Brasil (RFB), deflagrou nesta quinta-feira (16/10/2025) a sétima fase da Operação Overclean, destinada a desarticular uma organização criminosa investigada por fraudes licitatórias, corrupção, peculato e lavagem de dinheiro. A ofensiva representa o aprofundamento de uma das maiores apurações de desvio de recursos públicos em contratos de limpeza urbana e obras municipais na Bahia e em outros estados.
Ação coordenada e cumprimento de mandados
Ao todo, foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão, uma medida cautelar de afastamento de agente público do cargo e ordens de sequestro de bens e valores obtidos de forma ilícita, nas cidades de Salvador (BA), Riacho de Santana (BA), Wenceslau Guimarães (BA) e Arraial do Cabo (RJ).
As medidas foram expedidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em razão da presença de investigados com foro por prerrogativa de função. A investigação mira empresários, gestores públicos e agentes políticos suspeitos de integrar um esquema estruturado de corrupção e desvio de verbas públicas.
Os investigados poderão responder por organização criminosa, corrupção ativa e passiva, peculato, fraude em licitações e contratos administrativos, além de lavagem de dinheiro, conforme os artigos 288, 317, 333, 312 e 1º da Lei nº 9.613/98 do Código Penal Brasileiro.
Esquema bilionário e conexões políticas
Segundo informações obtidas pelo Jornal Grande Bahia, o esquema sob investigação teria movimentado cerca de R$ 1,4 bilhão em contratos suspeitos, sobretudo nas áreas de limpeza urbana e obras públicas. As apurações apontam que empresas de fachada eram utilizadas para superfaturar contratos e ocultar a origem de recursos desviados, com posterior repasse a intermediários políticos e operadores financeiros.
Um dos principais alvos é José Marcos de Moura, conhecido como o “Rei do Lixo da Bahia”, apontado como operador do núcleo empresarial que intermediava contratos fraudulentos com prefeituras.
Também há citações a parlamentares ligados ao União Brasil, entre eles o deputado Dal Barreto (BA), que teria atuado como articulador político para garantir a continuidade dos contratos investigados, segundo relatos obtidos na investigação.
O Ministério Público Federal (MPF) acompanha as diligências e analisa documentos que indicam pagamentos indevidos, movimentações financeiras atípicas e transferências a pessoas físicas e jurídicas sem lastro econômico.
Estrutura sofisticada e lavagem de dinheiro
A PF identificou mecanismos complexos de lavagem de capitais, com uso de empresas fantasmas, transações bancárias fracionadas e aquisições de bens de luxo, como imóveis em condomínios de alto padrão, iates, veículos importados e joias.
Esses bens foram bloqueados ou apreendidos em fases anteriores da operação, cujo valor total estimado ultrapassa R$ 162 milhões. Os investigadores acreditam que o grupo manteve ramificações em diferentes estados, valendo-se de laranjas e empresas de fachada para mascarar o fluxo de recursos ilícitos.
A apuração também indicou a existência de relações de influência em órgãos públicos e uso indevido de emendas parlamentares para financiar contratos sob suspeita, ampliando a dimensão político-institucional do caso.
Repercussão e efeitos políticos
A sétima fase da Operação Overclean reforça a estratégia da PF de segmentar as investigações por núcleos regionais, permitindo aprofundar a coleta de provas e desarticular as conexões políticas e empresariais do esquema.
Fontes próximas ao inquérito afirmam que há negociações para possíveis acordos de colaboração premiada, que podem atingir parlamentares, empresários e ex-gestores públicos envolvidos no desvio de recursos.
Analistas avaliam que o caso tem potencial para reconfigurar alianças políticas na Bahia, especialmente dentro do União Brasil, partido que domina prefeituras e possui forte influência no setor de limpeza urbana. A investigação, se confirmadas as provas, pode abrir um novo capítulo na responsabilização de agentes públicos em esquemas de corrupção sistêmica.
Fragilidade estrutural das licitaçõe
A Operação Overclean se consolidou como um dos mais amplos inquéritos de combate à corrupção no setor de serviços públicos municipais desde a Lava Jato. Sua evolução evidencia uma mudança de foco da Polícia Federal, que passou a priorizar o rastreamento financeiro e a colaboração interinstitucional com CGU e Receita Federal.
Entretanto, a amplitude do caso expõe também a fragilidade estrutural das licitações públicas e a dependência política das prefeituras de contratos terceirizados, um modelo que favorece a promiscuidade entre poder político e interesses empresariais.
A continuidade das apurações dependerá, em grande medida, da autonomia do Ministério Público Federal e da integridade dos processos no Supremo Tribunal Federal, onde o caso tramita sob sigilo parcial.
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