O escritor, jurista e ex-deputado federal Joaci Góes publicou na Tribuna da Bahia o artigo “Ainda há tempo para abortar a tragédia?”, em que analisa o recente massacre ocorrido nas favelas do Rio de Janeiro, com 132 mortos — incluindo quatro policiais —, e denuncia o que considera um “modelo suicida” de governo no país. Góes associa o crescimento da violência à conivência entre os poderes Executivo e Judiciário, movidos, segundo ele, por “interesse anético de manutenção do poder”.
O massacre e a banalização da violência
O autor descreve o episódio como “a ponta do iceberg das tragédias diárias que nos cercam”, destacando que o Brasil registra cerca de 130 homicídios por dia, liderando o ranking mundial em números absolutos. Para Góes, o fenômeno revela uma “ostensiva e suicida banalização do mal”, expressão inspirada na filósofa Hannah Arendt, que remete à naturalização da violência como parte do cotidiano nacional.
Ele critica a recusa do Governo Federal em colaborar com o Rio de Janeiro durante a operação contra o crime organizado e observa que baianos figuram entre as principais vítimas do cerco. A omissão do poder central, afirma, seria sintoma de uma política que prioriza a conveniência política em detrimento da segurança pública.
O avanço do crime organizado e a influência política
Em um dos trechos mais contundentes, Góes afirma que “mais de 80% da população carcerária manifestou preferência por Lula nas eleições de 2022”, o que, em sua visão, contribuiu para a vitória apertada do petista. O autor alerta que a influência do crime organizado nas comunidades já atinge quase um terço da população brasileira, e que essa força tende a se ampliar nas eleições de 2026, “se medidas eficazes não forem adotadas, sem perda de tempo”.
Segundo o articulista, governos petistas têm demonstrado, de forma velada ou explícita, simpatia por práticas que favorecem o crime organizado, citando o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ONU, no qual o chefe de Estado teria se oposto a propostas que buscavam equiparar crime organizado e terrorismo.
Justiça frágil e impunidade sistêmica
O texto também critica o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, por ter proposto o aumento de penas para integrantes de organizações criminosas — medida que, segundo Góes, tem apenas efeito simbólico e não resolve a impunidade estrutural.
O articulista observa que “a polícia prende e a Justiça manda soltar”, atribuindo o problema à interpretação elástica das leis e ao medo de represálias. Para ele, o assassinato de autoridades envolvidas no combate ao crime sem resposta firme do Estado estimula “a deserção e a omissão como fator de autopreservação”.
Goiás como exceção e a Bahia como alerta
Góes destaca como exemplo positivo o governador Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), cuja política de segurança pública teria transformado Goiás em “a unidade federada mais segura do país”, sustentada pelo lema: “Aqui, criminoso muda de profissão ou muda de Estado.”
Em contraste, o autor lamenta que a Bahia se firme como “espaço seguro para a marginalidade”, expressão que reflete o agravamento da violência e a fragilidade institucional no Estado.
Reflexão filosófica e advertência final
Encerrando o artigo, Góes cita Johann Wolfgang von Goethe, que afirmou: “O maior de todos os erros é permitir que as coisas menores impeçam a realização das maiores.” Para o autor, a frase serve de advertência à sociedade brasileira, que estaria “marchando para a violência, o atraso e a condição de pária mundial” ao tolerar a deterioração da ordem pública e a politização das instituições.
Cumplicidade institucional com a criminalidade
O artigo de Joaci Góes reafirma seu estilo clássico de ensaísta moralista e crítico da degradação institucional, evocando um tom de urgência diante da escalada do crime e da erosão do Estado de Direito. Sua crítica, embora polêmica, lança luz sobre um debate central na democracia brasileira: o equilíbrio entre direitos humanos, segurança pública e responsabilidade do Estado.
A retórica do autor — pautada por dados, referências literárias e argumentos éticos — denuncia a cumplicidade institucional com a criminalidade e aponta para um país em que a violência já não escandaliza, apenas se repete. Mesmo em meio à controvérsia política, o texto convida à reflexão sobre a perda de sentido moral e o desmonte das fronteiras entre legalidade e poder.
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