A Comissão Parlamentar de Inquérito do Crime Organizado inicia nesta terça-feira (18/11/2025) as oitivas com a cúpula da Polícia Federal, marcando a primeira etapa formal das investigações sobre a expansão territorial, econômica e operacional das facções criminosas no Brasil. Os depoimentos do diretor-geral da PF, Andrei Augusto Passos Rodrigues, e do diretor de Inteligência Policial, Leandro Almada da Costa, foram convocados a partir das 9h pelos senadores que compõem a comissão.
O requerimento de convocação, apresentado pelo relator Alessandro Vieira (MDB-SE), destaca a necessidade de compreensão do atual diagnóstico da PF sobre o avanço das organizações criminosas, sua presença em diversos estados, seu poder econômico e os mecanismos sofisticados de lavagem de dinheiro que financiam ações de milícias, facções e redes transnacionais.
Primeiras oitivas e objetivos estratégicos da CPI
A CPI do Crime Organizado, instalada em 4 de novembro, reúne 11 senadores titulares e sete suplentes. É presidida por Fabiano Contarato (PT-ES), tem Hamilton Mourão (Republicanos-RS) na vice-presidência e Alessandro Vieira na relatoria.
Os parlamentares buscam compreender, com base nas informações da Polícia Federal, o grau de infiltração das facções criminosas em estruturas públicas e privadas, além dos impactos econômicos resultantes da expansão dessas organizações. O relator também pretende alinhar as informações coletadas à tramitação do Projeto de Lei das Facções Criminosas, enviado pelo governo ao Congresso. O texto endurece o combate a organizações estruturadas, cria mecanismos de rastreamento financeiro e define novas regras para punição de líderes e financiadores.
A etapa inicial de oitivas servirá como subsídio técnico para as próximas fases da CPI, que terá 120 dias para concluir seus trabalhos. A prioridade é estabelecer um diagnóstico nacional que permita propor medidas legislativas e administrativas, com foco no aperfeiçoamento da legislação penal e no fortalecimento da inteligência policial.
Atuação integrada e a relevância da Operação Carbono Oculto
Entre os temas que serão abordados pelos senadores estão os resultados da Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, desenvolvida em conjunto com a Receita Federal e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo. A operação teve como alvo um esquema de lavagem de dinheiro da maior facção criminosa do estado, utilizando fintechs, empresas de fachada e postos de gasolina para movimentar recursos ilícitos.
O caso é considerado emblemático pelos integrantes da CPI por evidenciar o grau de sofisticação das redes financeiras criminosas e por demonstrar a importância da cooperação interinstitucional entre forças federais e estaduais no enfrentamento das facções.
Também será abordada a atuação conjunta da PF com a Secretaria de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, especialmente após a operação policial deflagrada no final de outubro nos complexos do Alemão e da Penha, que resultou em 121 mortes. Os senadores devem solicitar informações sobre o planejamento operacional, o compartilhamento de inteligência e a análise dos impactos territoriais da presença das facções na capital fluminense.
Estrutura institucional da CPI e linhas de investigação
A comissão foi criada para investigar o funcionamento, a expansão e o modus operandi das principais organizações criminosas do país. O objetivo é compreender as condições que permitiram o desenvolvimento das facções, a forma como se estruturaram regionalmente e as redes de tomada de decisão que sustentam sua capacidade de coordenação em âmbito nacional e internacional.
Composição da CPI do Crime Organizado:
- Presidente: Fabiano Contarato (PT-ES)
- Vice-presidente: Hamilton Mourão (Republicanos-RS)
- Relator: Alessandro Vieira (MDB-SE)
Senadores titulares:
Alessandro Vieira (MDB-SE); Angelo Coronel (PSD-BA); Fabiano Contarato (PT-ES); Flávio Bolsonaro (PL-RJ); Hamilton Mourão (Republicanos-RS); Jorge Kajuru (PSB-GO); Magno Malta (PL-ES); Marcio Bittar (PL-AC); Marcos do Val (Podemos-ES); Otto Alencar (PSD-BA); Rogério Carvalho (PT-SE).
Suplentes:
Eduardo Girão (Novo-CE); Esperidião Amin (PP-SC); Jaques Wagner (PT-BA); Randolfe Rodrigues (PT-AP); Sergio Moro (União-PR); Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB). (1 vaga ainda pendente de indicação pelo bloco PSB-PSD.)
As linhas preliminares de investigação incluem:
- expansão territorial das facções;
- estrutura de milícias e redes de proteção;
- financiamento e lavagem de dinheiro;
- infiltração em órgãos públicos;
- conexões transnacionais e tráfico de armas;
- fragilidades legislativas e falhas de cooperação entre estados.
Marco relevante
O início das oitivas com a cúpula da Polícia Federal representa um marco relevante para a CPI, que depende do conhecimento acumulado pelas forças de segurança para avançar em investigações de alta complexidade. A presença de Andrei Rodrigues e Leandro Almada reforça a importância da integração institucional, elemento frequentemente negligenciado em discussões sobre segurança pública.
Contudo, a CPI enfrenta o desafio de transformar diagnósticos recorrentes em propostas efetivas, evitando repetições históricas de comissões que se encerram sem mudanças estruturais. O risco de politização também persiste, especialmente diante da presença de figuras com forte atuação pública no tema da segurança. A capacidade de manter foco técnico, sem ceder a disputas partidárias, será determinante para que o trabalho produza resultados concretos.
Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




