A médica e empresária Thaisa Hoffmann Jonasson compareceu à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, nesta quinta-feira (23/10/2025), mas evitou responder à maioria das perguntas formuladas pelos parlamentares. O relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), afirmou que Thaisa “perdeu a oportunidade de demonstrar inocência” ao se recusar a esclarecer as suspeitas de intermediação de propina e lavagem de recursos desviados de aposentadorias e pensões.
O relator classificou o comportamento da depoente como um “ato de silêncio diante de provas robustas”. Segundo ele, Thaisa teria utilizado empresas de fachada para receber valores milionários de operadores ligados ao esquema, que movimentou cerca de R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024, conforme apuração da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU).
Esquema de propinas e conexões empresariais
De acordo com Gaspar, o operador Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, repassou quase R$ 11 milhões às empresas Curitiba Consultoria e Centro Médico Vitacare, ambas de propriedade de Thaisa Jonasson. O relator afirmou que Antunes “centralizou sob seu controle quase R$ 2 bilhões” em operações fraudulentas envolvendo descontos irregulares em benefícios previdenciários.
Outra empresa ligada à médica, a THJ Consultoria, recebeu R$ 3,5 milhões de entidades associativas sediadas em Sergipe — a Acolher e a Universo Associação dos Aposentados e Pensionistas — também investigadas por participação nas fraudes.
As irregularidades, segundo a PF, consistiam na falsificação de autorizações de aposentados para o desconto automático de mensalidades em favor de associações e sindicatos. As entidades firmavam convênios irregulares com o INSS, permitindo o desvio de recursos de forma sistêmica e mascarada sob a aparência de legalidade.
Defesa alega prestação de serviços médicos
Durante o depoimento, Thaisa Jonasson afirmou que os repasses recebidos eram pagamentos por pareceres médicos elaborados entre 2022 e 2024. Médica endocrinologista, disse que prestava serviços à empresa World Cannabis, de propriedade de Antunes, e a outras companhias investigadas.
Ela declarou que apresentará à CPMI documentos que comprovariam os contratos e os estudos realizados. “Meu objetivo era melhorar a qualidade de vida de idosos, com diagnósticos sobre osteoporose e baixa massa muscular”, afirmou.
O relator contestou a explicação e destacou que a World Cannabis não possui registro de venda de produtos medicinais à base de cannabis, o que, segundo ele, compromete a credibilidade dos supostos serviços prestados.
Investigação sobre patrimônio e bens de luxo
O deputado Alfredo Gaspar citou reportagens que apontam a negociação de um imóvel de R$ 28 milhões em Santa Catarina, supostamente pertencente ao casal Thaisa Jonasson e Virgílio de Oliveira Filho. Mencionou ainda a compra de carros de luxo, incluindo um Porsche, após a deflagração da Operação Sem Desconto, em abril de 2025.
Os valores seriam incompatíveis com os rendimentos de um servidor público federal, função exercida por Oliveira Filho, que à época ocupava o cargo de procurador-geral do INSS. O relator afirmou que há indícios de enriquecimento ilícito e ocultação de patrimônio, com possível uso das empresas da esposa para lavar os recursos.
Atuação de Virgílio de Oliveira e conflito institucional
Segundo os senadores da CPMI, Oliveira Filho teria atestado a legalidade de acordos irregulares entre entidades associativas e o INSS, além de ter atuado contra mecanismos de controle sobre os descontos em folha. O ex-procurador era o responsável por coordenar o trabalho jurídico do órgão e assessorar diretamente a presidência do instituto.
Seu depoimento ocorreu na mesma sessão, em meio a questionamentos sobre a evolução patrimonial de R$ 18 milhões e a suposta participação em decisões que facilitaram o desvio de recursos públicos.
Debate sobre status de investigados e testemunhas
A CPMI também discutiu o tratamento jurídico a ser dado aos depoentes. O presidente do colegiado, senador Carlos Viana (Podemos-MG), reafirmou que todos são ouvidos na condição de testemunhas, mesmo que investigados pela Polícia Federal. Isso permitiria eventual prisão em flagrante por falso testemunho, hipótese afastada no caso de investigados.
A médica, orientada por sua advogada, recusou-se a prestar o compromisso de testemunha, o que levou alguns parlamentares a pedirem sua prisão. O senador Fabiano Contarato (PT-ES) contestou o procedimento e afirmou que o colegiado não pode confundir papéis: “Testemunha é observador neutro; investigado tem direito ao silêncio.”
Governança institucional
O caso expõe as fragilidades da governança institucional do INSS e os vazios de controle interno que permitiram a infiltração de esquemas de corrupção em convênios com entidades privadas. A falta de rastreabilidade dos descontos e a ausência de fiscalização efetiva revelam uma captura burocrática do sistema previdenciário, explorado em prejuízo de milhões de aposentados.
A CPMI do INSS, embora politicamente tensionada, tem revelado uma teia de conexões entre servidores públicos, lobistas e operadores financeiros, cuja atuação compromete a confiança no Estado. O silêncio de Thaisa Jonasson, somado à evolução patrimonial do marido, reforça a necessidade de apuração técnica e judicial rigorosa, sob pena de esvaziamento do papel fiscalizador do Congresso.
*Com informações da Agência Senado.
Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




