Memória e resistência: Marcha da Consciência Negra 2025 deve reunir milhares em Salvador e reforçará agenda por justiça racial

A 46ª Marcha da Consciência Negra Zumbi-Dandara dos Palmares ocorrerá nesta quinta-feira (20/11/2025), a partir das 14h, quando tomará as ruas do Centro de Salvador. Organizada pela Coalizão Marcha da Consciência Negra Zumbi-Dandara e pela CONEN, a mobilização reunirá movimentos sociais, entidades e lideranças, reafirmando um legado de resistência e formação política que se estende há quase meio século.

Homenagens a Lélia Gonzalez e Frantz Fanon

A Marcha de 2025 será dedicada aos 90 anos de Lélia Gonzalez, referência do feminismo negro e da crítica ao racismo estrutural no Brasil, e ao centenário de Frantz Fanon, intelectual central do pensamento anticolonial. Ambos serão celebrados como fundamentos teóricos e históricos da luta contemporânea contra desigualdades raciais.

Entre as presenças já confirmadas está Mireille Fanon Mendès France, presidenta do Instituto Fanon (Paris) e filha do homenageado. Sua participação reforçará o vínculo entre teoria, memória histórica e ativismo internacional, ampliando o alcance político do evento no cenário latino-americano.

Educação, memória e reivindicação

A edição deste ano dialogará com a Segunda Década Internacional Afrodescendente da ONU (2025–2034), orientada pelos eixos de reconhecimento, justiça e desenvolvimento.

O contexto brasileiro atribui urgência à pauta. A população negra representa 56,1% dos brasileiros, mas ainda enfrenta amplas desigualdades. Dados do IBGE (PNAD Contínua 2023) mostram que a taxa de desemprego entre negros permanece quase o dobro daquela registrada entre brancos. O Atlas da Violência 2024 indica que 77% das vítimas de homicídio no país são negras, evidenciando tensões estruturais profundas.

Com esse pano de fundo, a Marcha reivindicará a implementação plena da Lei 10.639/2003, que determina o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas, além de medidas concretas de reparação nas áreas de educação, saúde, moradia e trabalho.

O manifesto deste ano também reafirmará o caráter panafricanista da mobilização, denunciando crises humanitárias que atingem povos afrodescendentes e o impacto contemporâneo do neocolonialismo — com destaque para a situação da República Democrática do Congo.

Atividades convergentes no mês da Consciência Negra

A programação de novembro incluirá eventos que reforçam a formação política da Marcha. No dia 18 de outubro, o Seminário Cultura Negra: Instrumento de Luta por uma Sociedade com Justiça Social e Racial antecipou debates que continuarão a repercutir no mês de novembro.

Após a marcha, está prevista para a sexta-feira (21/11), às 9h, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Conferência Baiana do Centenário de Frantz Fanon: Legados e Perspectivas, com conferência principal ministrada por Mireille Fanon.

Para Gilberto Leal, liderança da organização, a presença de Mireille Fanon conectará a mobilização baiana a debates globais:

“A luta antirracista exige compromisso histórico e político. Fanon permanece fundamental para compreender enfrentamentos ao racismo estrutural e às opressões contemporâneas”.

A comunicação como instrumento de transformação

A Associação Bahiana de Imprensa (ABI) apoia oficialmente a Marcha deste ano, reforçando o compromisso com a pluralidade e a responsabilidade na cobertura jornalística sobre raça e desigualdade.

“A marcha é um chamado à ação e à escuta. É momento de fortalecer a visibilidade das pautas de reparação, pluralidade curricular e políticas públicas que transformem a realidade da população negra”, afirma Suely Temporal, presidenta da ABI.

Segundo ela, a entidade incentiva veículos e profissionais a ampliarem a presença de vozes negras no jornalismo e na produção de narrativas públicas.

Força da sociedade civil

A realização da Marcha de 2025 ocorrerá em um ambiente social marcado por disputas políticas, tensões identitárias e desafios persistentes à implementação de políticas de igualdade racial. A defesa de pautas como a aplicação integral da Lei 10.639 e a agenda de reparação histórica revela a distância entre marcos normativos e sua execução concreta. A presença de Mireille Fanon confere dimensão internacional ao ato e reforça um diálogo teórico que segue vital para compreender as formas contemporâneas de violência racial. O evento deve reafirmar a força da sociedade civil como protagonista na disputa por memória, direitos e democracia substantiva.

Agenda

46ª Marcha da Consciência Negra Zumbi-Dandara dos Palmares
Quando: 20 de novembro de 2025, saída às 14h
Onde: Percurso de 4 km — Praça Campo Grande, Av. Sete de Setembro, Praça da Piedade, São Bento, Praça Castro Alves, Rua Chile e Praça Municipal | Salvador-BA
Organização: Coalizão Marcha da Consciência Negra Zumbi-Dandara dos Palmares; CONEN