Monitoramento por satélite fortalece ações da Operação Ronda Verde na Chapada Diamantina

A Operação Ronda Verde intensificou o combate às queimadas na Chapada Diamantina com o uso de monitoramento por satélite, geoprocessamento e atuação integrada entre Inema, Sema, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros. A análise de dados permitiu identificar focos de calor, responsabilizar proprietários e reduzir ocorrências no período crítico. A operação contou com apoio aéreo, participação comunitária e planejamento tático detalhado, consolidando-se como referência em fiscalização ambiental.
Equipes da Sema, Inema, CIPPA Lençóis e Corpo de Bombeiros percorrem áreas da Chapada Diamantina durante a Operação Ronda Verde, em novembro de 2025, utilizando mapeamento por satélite e geoprocessamento para identificar focos de incêndio e responsabilizar infratores.

O uso de monitoramento por satélite em tempo real permitiu ao Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) intensificar as ações da Operação Ronda Verde, realizada neste mês de novembro na Chapada Diamantina. A estratégia, desenvolvida em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente (Sema), a Polícia Militar (CIPPA Lençóis) e o Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA), tornou mais preciso o trabalho de identificação de queimadas irregulares em propriedades rurais.

As equipes de fiscalização utilizaram informações extraídas de plataformas especializadas, como Painel do Fogo, BD Queimadas e Alerta Brasil M.A.I.S., que disponibilizam dados vetoriais obtidos por satélites. A análise, processada em softwares de geoprocessamento como o QGIS, permitiu cruzamento imediato com o Cadastro Estadual Florestal de Imóveis Rurais (CEFIR) e outras bases territoriais essenciais ao planejamento operacional.

O setor de Geoprocessamento da COTIC/Inema foi responsável pela sistematização dos dados e pela elaboração de mapas que orientaram as equipes de campo. Segundo Romeu Gomes, especialista em meio ambiente e recursos hídricos do Inema, o sistema alcançou alto grau de assertividade.

“Todos os pontos indicados apresentaram ocorrência de incêndios florestais. O cruzamento com o CEFIR facilita a identificação de proprietários e a apuração de responsabilidades”, afirmou.

A utilização dessas tecnologias ocorre de forma contínua, não apenas no período da operação. Ele também subsidia ações de fiscalização de desmatamento, supressão vegetal e outras atividades que demandam monitoramento territorial constante.

Planejamento detalhado e integração de bases de dados

Esta foi a primeira vez que a equipe de Geoprocessamento do Inema produziu um levantamento específico para subsidiar a Ronda Verde. O trabalho, conduzido pela geógrafa Naiana Sampaio, combinou informações provenientes de diferentes plataformas de sensoriamento remoto, além de bancos de dados ambientais.

“Coletamos informações de focos de calor e georreferenciamos todos os registros, sobrepondo-os aos limites de propriedades e às bases do CEFIR”, explicou a analista.
Foram integrados ainda dados sobre reserva legal, vegetação nativa, unidades de conservação, terras indígenas, comunidades quilombolas, assentamentos rurais e registros de ASV e DQC.

Essa integração permitiu identificar queimadas irregulares com elevado grau de precisão e delimitou potenciais responsáveis. Antes das fiscalizações, as equipes já se deslocavam com rotas definidas no aplicativo Gaia GPS, garantindo acesso seguro às áreas remotas e confirmação das coordenadas a partir das imagens de alta resolução.

Mapeamento dos incêndios e municípios mais afetados

Entre agosto e novembro, o Inema registrou cerca de 100 focos ou eventos de fogo na Chapada Diamantina, consolidando informações das três plataformas de monitoramento. Setembro concentrou o maior volume, com 48 ocorrências validadas pelo Painel do Fogo.

Os municípios com maior incidência foram:

  • Andaraí
  • Piatã
  • Ibicoara
  • Rio de Contas

A partir dessas informações, as equipes da Ronda Verde percorreram áreas rurais de Érico Cardoso, Rio de Contas, Piatã, Mucugê, Wagner, Andaraí, Lençóis, Palmeiras e Iraquara, verificando propriedades e apurando possíveis queimadas ilegais.

Período crítico, suspensão da DQC e orientações aos produtores

A operação ocorre entre setembro e novembro, quando a Declaração de Queima Controlada (DQC) permanece suspensa por força da Portaria nº 33.788/2025. A medida pode ser prorrogada caso as condições climáticas continuem desfavoráveis.

Segundo Pablo Rebelo, coordenador da Diretoria de Programas e Projetos da Sema, a combinação de baixa umidade, ventos fortes e estiagens prolongadas representa risco elevado de incêndios florestais.
Ele reforça que o material orgânico deve ser manejado sem uso do fogo, recomendando trituração e cobertura do solo como alternativas mais seguras.

Rebelo também observou uma redução no número de focos na região, resultado direto da integração entre educação ambiental, fiscalização e participação comunitária.
A comunidade rural, segundo ele, passou a denunciar e monitorar queimadas com mais regularidade.

Atuação aérea e reforço operacional

A operação contou com apoio do Grupamento Aéreo do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (GRAER/CBMBA), cujo helicóptero ampliou o monitoramento e possibilitou o deslocamento rápido das equipes para áreas de difícil acesso.
A aviação também auxiliou na detecção de irregularidades em tempo real, incluindo situações de flagrante.

A Ronda Verde integra o Plano de Ações Preventivas, Preparação e Responsabilização do programa Bahia Sem Fogo, no eixo de Sensibilização, Fiscalização e Responsabilização. Criada em 2024, a operação tornou-se referência no estado por articular, de forma inédita, ações conjuntas de diversas instituições no enfrentamento às queimadas e ao desmatamento ilegal.

Avanço

A ampliação tecnológica da Ronda Verde representa avanço importante na política ambiental baiana, sobretudo em regiões historicamente afetadas por incêndios florestais e pressão sobre recursos naturais. O uso de satélites, cruzamento de dados e definição tática de rotas coloca a fiscalização em patamar superior ao observado em anos anteriores. Ainda assim, a dependência de condições climáticas extremas, a persistência de práticas agrícolas tradicionais com uso do fogo e a dificuldade de responsabilização efetiva de infratores demonstram que o problema exige esforço contínuo do Estado. A integração entre órgãos ambientais, forças de segurança e comunidades locais é um fator decisivo para consolidar resultados de longo prazo.


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