O contingente de trabalhadores sindicalizados no Brasil voltou a crescer após mais de uma década de retração e alcançou 9,1 milhões de pessoas em 2024, segundo edição especial da Pnad Contínua, divulgada nesta quarta-feira (19/11/2025) pelo IBGE. O número representa uma alta de 812 mil novos associados e corresponde a 8,9% dos 101,3 milhões de trabalhadores ocupados, revertendo a tendência persistente de queda registrada desde 2012.
Os dados mostram que a sindicalização, embora ainda distante dos 14,4 milhões registrados em 2012, apresentou sua primeira reação significativa desde a adoção da reforma trabalhista de 2017, ano em que o declínio se acentuou.
Entre 2012 e 2023, a queda acumulada foi de 36,8%, chegando a apenas 8,3 milhões de associados no último levantamento anual. Em 2024, houve uma inflexão, com a taxa subindo de 8,4% para 8,9%.
O analista do IBGE William Kratochwill observa forte correlação entre a reforma trabalhista e o encolhimento do sindicalismo, destacando especialmente o impacto do fim da contribuição sindical obrigatória, que reduziu drasticamente a capacidade financeira das entidades.
Percepção renovada do papel sindical
Kratochwill avalia que o crescimento mais recente pode refletir um movimento de “retomada de consciência” sobre a necessidade de organização trabalhista. Segundo ele, o patamar historicamente baixo alcançado em 2023 teria despertado maior percepção dos trabalhadores sobre a importância da representação coletiva na defesa de direitos.
Essa recuperação, no entanto, apresenta forte assimetria etária: oito em cada dez novos sindicalizados têm mais de 30 anos, com maior concentração na faixa de 40 a 49 anos, que responde por 32% das novas afiliações. A participação dos jovens permanece restrita e evidencia ausência de renovação nos quadros sindicais.
Setores com maior presença sindical
A Pnad Contínua revela diferenças marcantes entre os segmentos produtivos. O setor com maior proporção de sindicalizados é o de administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais, que concentra 30,9% de todos os sindicalizados do país e apresenta taxa de associação de 15,5%.
Agricultura, pecuária, pesca e aquicultura surgem em segundo lugar, com 14,8%, seguidos pela indústria, com 11,4%.
No extremo oposto, setores como serviços domésticos (2,6%), outros serviços (3,4%) e construção (3,6%) mantêm baixa sindicalização. A desigualdade reflete estruturas de trabalho mais fragmentadas ou informais, com menor presença de entidades organizadas.
Escolaridade e perfil do trabalhador
Os dados apontam forte correlação entre nível de escolaridade e sindicalização. Entre trabalhadores com ensino superior completo, a taxa atinge 14,2%. Nos grupos com ensino médio completo, fica em 7,7%, e entre aqueles com ensino fundamental, cai para 5,7%.
O IBGE ressalta que níveis mais altos de instrução ampliam o “esclarecimento” sobre a função das entidades e favorecem o engajamento coletivo.
Contratos formais impulsionam índices
A taxa de sindicalização entre empregados do setor público chega a 18,9%, mais que o dobro da média nacional. Entre trabalhadores com carteira assinada na iniciativa privada, o índice é de 11,2%.
Entre autônomos, a taxa despenca para 5,1%, e apenas 3,8% dos empregados sem carteira assinada são vinculados a sindicatos. O pesquisador avalia que além da falta de benefícios sociais, trabalhadores informais carecem de mecanismos de representação que fortaleçam o enfrentamento das desigualdades do mercado de trabalho.
Homens e mulheres
As diferenças de gênero na sindicalização vêm diminuindo há mais de uma década. Em 2012, os homens representavam 61,3% dos sindicalizados; em 2024, esse percentual caiu para 57,6%. A taxa feminina subiu proporcionalmente, refletindo maior presença das mulheres em ocupações formais e no setor público.
O comportamento das curvas indica que as mulheres abandonaram menos rapidamente os sindicatos ao longo dos anos e passaram a acompanhar o recente movimento de recuperação.
Cooperativismo em trajetória descendente
O levantamento destaca ainda que o número de trabalhadores associados a cooperativas segue caindo. Em 2012, eram 1,5 milhão (6,3%). Em 2024, esse número recuou para 1,3 milhão (4,3%), o menor da série histórica. O enfraquecimento das organizações cooperativas contrasta com a retomada do sindicalismo, sugerindo novos rearranjos na busca por formas de representação.
Sindicalização cresce, mas estrutura segue fragilizada e sem renovação
O aumento do número de sindicalizados em 2024 revela uma inflexão relevante após mais de dez anos de retração, mas não indica, por si só, uma reorganização estrutural do movimento sindical. A recuperação permanece fortemente concentrada entre trabalhadores mais velhos, sem renovação geracional capaz de sustentar o dinamismo das entidades no longo prazo. A baixa adesão juvenil aponta para um modelo que não dialoga plenamente com as transformações do mercado de trabalho contemporâneo.
Além disso, a dependência histórica do setor público e de ocupações formais demonstra que os sindicatos ainda não conseguiram se reinventar para alcançar os milhões de trabalhadores informais e autônomos, que hoje formam parte expressiva da força de trabalho. A retomada estatística, embora relevante, contrasta com desafios profundos de representatividade, financiamento e modernização sindical.
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