Durou precisamente noventa minutos, tempo suficiente para demonstrar a importância do encontro. A conversa entre Trump e Xi, na cimeira de Busan, na Coreia do Sul, no encontro dos países da Cooperação Econômica, serviu para uma pausa na guerra comercial iniciada pelo presidente americano com a imposição de tarifas de importação logo no início do seu mandato. De lá para cá os entendimentos foram circunstanciais, com repetidas suspensões das tarifas e de controles de exportação.
Dessa vez a satisfação de Trump era visível, pois, em conversas com os jornalistas que o acompanharam na viagem, descreveu a reunião como “espetacular”, avaliando-a “de uma escala de zero a dez, sendo dez o melhor, com um 12”, conforme citação do Financial Times. Trump prometeu visitar a China em 2026, e Xi deverá retribuir a visita talvez no mesmo ano.
Os Estados Unidos estavam preocupados com os anúncios chineses sobre o controle na exportação de terras raras, matéria-prima essencial para as indústrias tecnológica, automóvel e de defesa. Os americanos ameaçaram aumentar as tarifas sobre os produtos chineses em 100%, o que significava uma tarifa de 130% sobre as importações chinesas.
Nas conversações predominou o tom conciliatório. Para Trump, o líder chinês é “um grande líder de um grande país”, e “espero manter um relacionamento fantástico durante muito tempo”, acrescentou. Xi, por sua vez, disse que “O desenvolvimento e rejuvenescimento da China não são incompatíveis com o objetivo do presidente Trump de Tornar a América Grande Outra Vez“. Pequim está disponível para estabelecer uma base sólida para as relações entre a China e os EUA, e criar um ambiente favorável para o desenvolvimento das duas nações.
A China concordou em fazer uma pausa de um ano nos controles de exportação das terras raras e semicondutores, essenciais para a indústria norte-americana. Em contrapartida, e também por um ano, os EUA acordaram em suspender os empecilhos à venda de bens tecnológicos e de softwares críticos a subsidiárias de empresas chinesas.
Criada para punir a China pelo seu papel no fabrico de fentanil, responsável por uma crise de saúde pública nos EUA, a taxa alfandegária adicional sobre as importações chinesas de 20% será reduzida para 10%, o que colocará a tarifa média sobre bens chineses em 47%. A redução de tarifas representa uma aposta para os EUA, que enfrentam problemas em sua guerra comercial com a China.
Xi tem superado Trump em todas as rodadas, impondo ao americano concessões extraordinárias no acordo entre os dois países. Em troca, a China prometeu reprimir a produção e o envio de fentanil para os Estados Unidos, obtendo uma redução de 10% nas tarifas aplicadas sobre os produtos chineses.
Sob Xi Jinping, a China se tornou uma potência econômica e militar. As duas nações vêm aumentando o tom de críticas e provocações, com restrições dos Estados Unidos ao intercâmbio em áreas estratégicas, como as exportações de chips, medida que afetou empresas como Nvidia e AMD.
Considerado um dirigente anticorrupção, Xi demitiu milhares de funcionários de alto e baixo escalão do governo como aviso e consolidação de poder. Com Xi, o modelo de liderança chinesa mudou — antes coletivo, agora centralizado na figura do líder supremo, que expurga autoridades desleais, corruptas ou ineficientes e as substitui por aliados de confiança.
Na seara econômica, Xi limitou competências do primeiro-ministro, passando a comandar pessoalmente grupos temáticos sobre economia e finanças. Para sustentar o crescimento chinês e ampliar a influência internacional, Xi lançou a Iniciativa do Cinturão e Rota, projeto global de infraestrutura e comércio com ramificações na Ásia, África e Europa, inspirado na antiga Rota da Seda.
Ele colocou aliados de confiança na gestão de pessoal do Partido Comunista, responsáveis por indicações para cargos estratégicos. A China é o segundo país mais populoso do mundo, com mais de 1,4 bilhão de habitantes vivendo sob um regime de partido único.
Nesse sentido, o Partido Comunista é o maior partido político do mundo, com mais de 85 milhões de membros. Xi manda em tudo: o Parlamento, o gabinete de ministros e a Suprema Corte devem se reportar a ele anualmente.
*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.
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