A Polícia Federal realizou uma operação de desintrusão no garimpo ilegal da Serra da Quixaba, localizada no interior do Parque Nacional do Boqueirão da Onça, em Sento Sé (BA). A ação ocorreu entre 19 e 24 de novembro de 2025 e desmontou estruturas clandestinas, apreendeu equipamentos utilizados na extração irregular e iniciou uma nova fase de investigações voltada aos financiadores e compradores do minério extraído ilegalmente.
A operação reuniu a Polícia Federal, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a CIPE-Caatinga, unidade especializada da PM baiana. O objetivo principal foi retirar ocupantes irregulares da unidade de conservação, evitar confrontos e garantir a segurança de agentes e civis. Segundo relatório oficial, a equipe priorizou a cooperação pacífica e atuou em conformidade com protocolos ambientais e de fiscalização.
No local, os agentes encontraram diversas estruturas montadas para sustentar a exploração clandestina, incluindo barracos, áreas de beneficiamento e instalações improvisadas. Todas foram desmontadas ao longo da semana de ação, acompanhadas da apreensão de ferramentas, equipamentos de extração e insumos para o manuseio de explosivos. A presença desse material reforça a gravidade da atividade ilegal, que além de degradar o ambiente, coloca em risco trabalhadores e comunidades vizinhas.
O Parque Nacional do Boqueirão da Onça é uma das áreas mais sensíveis da Caatinga, abrigando espécies ameaçadas e ecossistemas frágeis. A expansão de garimpos ilegais na região vinha sendo monitorada há meses, motivando a operação. A pressão sobre o bioma tem crescido, impulsionada por redes organizadas que buscam minérios raros em áreas de difícil fiscalização.
Avanço das investigações e responsabilização dos financiadores
Com o encerramento da etapa de campo, as investigações migraram para a identificação dos grupos que financiam, organizam e lucram com a extração ilegal. A PF apura ainda os fluxos de suprimentos, as rotas de abastecimento e as conexões logísticas que sustentam o garimpo clandestino, incluindo o transporte do minério para mercados paralelos. Esse caminho é fundamental para desmontar toda a cadeia criminosa.
Os suspeitos poderão responder por usurpação de bens da União, que diz respeito à exploração ilegal de recursos minerais; extração irregular de minérios e posse de artefatos explosivos, entre outros delitos que venham a ser constatados. A PF afirma que outras diligências já estão em andamento e que os desdobramentos podem atingir operadores econômicos de maior porte, caso haja comprovação do envolvimento.
A continuidade das investigações é vista como etapa central para impedir que o garimpo volte a se reorganizar na região. A experiência acumulada em outras operações demonstra que a responsabilização de financiadores e intermediários é mais eficiente do que ações isoladas de desintrusão.
Problema estrutural da gestão ambiental
A operação na Serra da Quixaba expõe um problema estrutural da gestão ambiental no país: a dificuldade histórica do Estado em manter presença contínua em territórios isolados. A Caatinga, apesar de ser um bioma único e extremamente vulnerável, sofre com a falta de investimentos em fiscalização regular, o que permite a expansão silenciosa de atividades predatórias.
Outro ponto crucial é a necessidade de responsabilizar os agentes financeiros do garimpo ilegal. Intervenções pontuais retiram temporariamente os exploradores, mas não desarticulam a rede econômica que impulsiona a atividade. O sucesso da PF dependerá da capacidade de avançar sobre financiadores, compradores e transportadores do minério extraído ilegalmente.
Por fim, a operação também evidencia a desigualdade econômica que alimenta o garimpo. Sem políticas públicas de desenvolvimento sustentável para regiões do semiárido, comunidades vulneráveis tendem a ser cooptadas por atividades clandestinas que oferecem renda rápida, mas geram danos duradouros ao território.
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