Presidente Lula indica Jorge Messias para ministro do STF em meio a disputas internas no governo, resistência no Senado e pressões por diversidade

Jorge Messias, advogado-geral da União e figura central do governo Lula desde 2023, foi indicado nesta quinta-feira (20/11/2025) para ocupar a vaga deixada por Luís Roberto Barroso no STF. A decisão contraria setores da Corte e lideranças do Senado, especialmente defensores da indicação de Rodrigo Pacheco. Messias chega à disputa com trajetória sólida, forte articulação com evangélicos, amplo histórico de atuação institucional e papel decisivo em temas jurídicos sensíveis para o governo. A aprovação no Senado será o principal desafio imediato.
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúne com o advogado-geral da União, Jorge Messias, no Palácio da Alvorada, em Brasília, na manhã desta quinta (20/11/2025), antes de oficializar a indicação ao STF.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva oficializou nesta quinta-feira (20/11/2025) a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a vaga deixada por Luís Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal (STF). A escolha, publicada em edição extra do Diário Oficial da União, ocorre em meio a disputas internas no governo, resistência no Senado e pressões por maior diversidade de gênero e raça na Corte.

A indicação de Messias estava no radar do Palácio do Planalto desde a aposentadoria de Barroso. Lula avaliava seu desempenho como eficiente e discreto, qualificações consideradas essenciais para o cargo. O advogado-geral se tornou figura central do governo na formulação jurídica de decretos, na defesa de medidas econômicas e na interlocução política com ministros e lideranças partidárias.

Entretanto, a escolha contrariou um grupo influente do STF formado por Gilmar Mendes, Flávio Dino e Alexandre de Moraes, além do presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Esses setores defendiam a indicação do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que também é advogado e mantém forte interlocução com a Corte.

Apesar da pressão, Lula manteve a prerrogativa presidencial e comunicou sua decisão pessoalmente a Pacheco.

Resistência no Senado e desafios da sabatina

A aprovação de Messias exige maioria no Plenário do Senado, após sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A Casa, porém, vive um ambiente politicamente fragmentado. A recente recondução apertada de Paulo Gonet à PGR, por 45 votos a 26, acendeu sinais de alerta no governo.

Senadores ligados ao centro e à oposição criticam a decisão de Lula por não indicar uma mulher ou uma pessoa negra para o STF. A Corte conta atualmente com Cármen Lúcia como única ministra entre dez magistrados.

Mesmo assim, aliados do Planalto avaliam que Messias não enfrenta rejeição direta de grupos específicos e destacam sua capacidade de articulação.

Atuação jurídica: fortalecimento da AGU e defesa do Supremo

Messias ampliou seu espaço no governo após a saída de Flávio Dino do Ministério da Justiça para o STF, assumindo parte das atribuições políticas e jurídicas que Dino exercia junto ao presidente.

Ele se tornou peça-chave em temas como:

  • defesa das instituições após ataques de 8 de Janeiro,
  • articulação contra a proposta de redução de penas dos condenados pelos atos golpistas,
  • resposta jurídica às sanções do governo Donald Trump contra Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky,
  • estratégias econômicas, como a defesa da elevação do IOF, parcialmente validada pelo STF.

A AGU, sob sua liderança, também assumiu papel ativo em temas de alta sensibilidade política, como decisões sobre tributação de igrejas, discussões envolvendo saúde pública e regulamentações federais.

Relação com o eleitorado evangélico

Evangélico da Igreja Batista, Messias se consolidou como interlocutor privilegiado do governo junto ao segmento religioso. Ajudou a mediar tensões em temas como:

  • transição de gênero em adolescentes,
  • isenção fiscal para salários de pastores,
  • regulamentações no Conselho Nacional de Saúde.

Seu diálogo com a Frente Parlamentar Evangélica foi decisivo para aliviar resistências e evitar confrontos institucionais.

Disputas políticas e expectativas para o futuro

A indicação ocorre em momento de forte articulação eleitoral. Lula avalia lançar Rodrigo Pacheco ao governo de Minas Gerais em 2026, o que reduziria pressões internas no Senado e permitiria ao governo manter influência estratégica no segundo maior colégio eleitoral do país.

Nos bastidores, líderes petistas afirmam que a nomeação de Messias reflete a busca do presidente por lealdade, combatividade e alinhamento político, atributos valorizados em nomeações anteriores.

Caso aprovado, Messias será o terceiro ministro evangélico na história do STF.

Perfil biográfico de Jorge Messias

Nascido em 25 de fevereiro de 1980, em Recife (PE), Jorge Rodrigo Araújo Messias construiu uma trajetória marcada pela combinação entre formação jurídica sólida, vocação para o serviço público e inserção profunda no centro decisório do Estado brasileiro. Formou-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e prosseguiu sua formação acadêmica na Universidade de Brasília (UnB), onde concluiu mestrado e doutorado em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional, além de atuar como professor visitante. Aos 45 anos, apresenta um perfil técnico robusto, com forte orientação para políticas públicas e governança institucional.

Sua carreira pública teve início formal na Advocacia-Geral da União (AGU), onde ingressou em 2007 como procurador da Fazenda Nacional. A partir daí, ampliou sua atuação em diferentes órgãos estratégicos: Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, Procuradoria do Banco Central, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério da Educação, Ministério da Saúde e Casa Civil. Nesta última, exerceu a subchefia responsável por Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais, função que o colocou no núcleo duro da formulação jurídica e administrativa do Executivo federal. Esse conjunto de experiências consolidou sua imagem como um quadro jurídico versátil, com trânsito amplo entre áreas técnicas e políticas.

Em 2023, Messias foi nomeado por Lula para comandar a Advocacia-Geral da União, movimento que redefiniu sua posição no governo. À frente da AGU, tornou-se rapidamente um dos auxiliares mais próximos do presidente e seu principal articulador jurídico, assumindo protagonismo na defesa institucional do governo, na elaboração de atos normativos e na mediação de conflitos entre Executivo, Legislativo e Judiciário. Sua atuação discreta, tecnicamente qualificada e politicamente sensível o projetou como figura central nos momentos de maior tensão constitucional do período.

Messias ganhou projeção nacional ainda em 2016, durante a crise política do governo Dilma Rousseff, quando seu nome surgiu em ligação telefônica entre a então presidente e Luiz Inácio Lula da Silva, divulgada pela Operação Lava Jato. O episódio, que o tornou conhecido como “Bessias”, foi marcado pela veiculação de um áudio editado e fora de contexto, posteriormente criticado por juristas e analistas políticos. Embora não houvesse ilegalidade em sua conduta, o caso transformou-o em personagem involuntário de um dos momentos mais turbulentos da história recente do país, deixando marcas que só anos depois seriam ressignificadas por sua ascensão institucional.

Além da trajetória jurídica e política, Messias também se destaca por sua atuação como liderança evangélica, sendo diácono de uma congregação da Igreja Batista em Brasília. Essa dimensão biográfica ampliou sua relevância dentro do governo Lula, que o acionou como interlocutor para temas sensíveis envolvendo políticas públicas e o segmento religioso. A combinação entre formação acadêmica avançada, carreira institucional extensa, respeito interno na AGU e capacidade de diálogo com diferentes setores — incluindo o universo evangélico — explica sua ascensão ao centro da tomada de decisões e fundamenta sua indicação ao Supremo Tribunal Federal, oficializada em 20 de novembro de 2025.

Impacto institucional e leituras políticas da indicação

A escolha de Jorge Messias sintetiza a tensão entre três forças:

  1. a autonomia presidencial nas nomeações do STF,
  2. a influência crescente de setores do Senado,
  3. a busca por representatividade e renovação no Judiciário.

Lula reafirma sua autoridade ao indicar um aliado próximo, mesmo contrariando interesses de ministros influentes e parte dos senadores. A decisão revela a disposição do governo em priorizar confiança pessoal e alinhamento estratégico num momento de disputas jurídicas intensas, incluindo casos que envolvem o próprio presidente e sua coalizão.

No plano institucional, a indicação tende a reforçar o vínculo entre AGU e STF, ampliando o peso de técnicos com forte experiência no Executivo. As críticas sobre falta de diversidade permanecem como um ponto sensível e podem influenciar debates futuros sobre a composição da Corte.


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2 Responses

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