Zohran Kwame Mamdani, o muslim | Por Luiz Holanda

Nascido em Uganda e criado em Nova York, o muçulmano e socialista Zohran Kwame Mamdani, de 33 anos, foi eleito prefeito da maior cidade dos Estados Unidos, em uma vitória histórica que desafia o governo Donald Trump e reforça a guinada progressista do Partido Democrata. Sua trajetória como filho de imigrantes, defensor da justiça social e representante da nova geração digital marca uma reconfiguração ideológica no cenário político americano.
Zohran Kwame Mamdani, jovem socialista e muçulmano nascido em Uganda, foi eleito prefeito de Nova York, simbolizando a guinada política contra Donald Trump e o fortalecimento da ala progressista democrata.

Filho de imigrantes, ele próprio um imigrante, Zohran Kwame Mamdani nasceu em Campala, Uganda, em 18 de outubro de 1991. Ainda criança, com apenas sete anos de idade, veio para Nova York, cidade pela qual se elegeu prefeito na eleição municipal de 2025. Cursou o primário na Bank Street School for Children e o secundário na Bronx High School of Science. Estudou no Bowdoin College, no Maine, onde foi cofundador do núcleo local da organização estudantil Students for Justice in Palestine (SJP) e se formou, em 2014, com o título de bacharel em estudos africanos.

Membro do Partido Democrata e dos Socialistas Democráticos da América, Mamdani é muçulmano, seguidor do islamismo, uma religião monoteísta abraâmica baseada nos ensinamentos do profeta Maomé. Os muçulmanos acreditam que o Alcorão é a palavra literal de Deus, e a religião se baseia em cinco pilares: a crença em Alá, a realização de orações diárias, a generosidade com os pobres, o jejum durante o mês do Ramadã e a peregrinação a Meca, quando possível. São aproximadamente 1,9 bilhão de pessoas no mundo, sendo a segunda maior população religiosa global, com a maioria vivendo na Ásia-Pacífico.

Jovem da Geração Y (Millennials) da era digital e da internet, Mamdani integra o grupo dos “nativos digitais”, com grande familiaridade com a tecnologia, visando equilibrar a vida pessoal e profissional. Durante a campanha, publicou vídeos em Urdu e em espanhol, demonstrando versatilidade linguística e habilidade de comunicação. Casado com Rama Duwaji, uma artista síria de 27 anos que vive no Brooklyn e que conheceu no aplicativo de namoro Hinge, é filho da diretora de cinema Mira Nair e do professor Mahmood Mamdani, da Universidade Columbia — ambos ex-alunos de Harvard.

Socialista democrático, sua campanha nasceu nas calçadas do Queens, sustentada por doações individuais e um programa público de financiamento coletivo que multiplicava cada contribuição de até 250 dólares por oito. Fez promessas ambiciosas, como aluguel acessível, transporte gratuito, supermercados subvencionados, creches públicas e salário-mínimo municipal de 30 dólares por hora, além da promessa de governo sem corrupção.

No primeiro discurso após a vitória, Mamdani afirmou que era jovem, muçulmano e democrata socialista, e que se recusava a pedir desculpas por isso. Sua vitória representou uma barreira ideológica ao governo Trump, indicando uma nova estratégia democrata para as próximas eleições legislativas. Suas promessas atraíram milhões de eleitores da classe média, mas geram dúvidas sobre viabilidade legal e financeira. O resultado expõe a perda de popularidade de Trump e as dificuldades internas do Partido Republicano.

O triunfo de Mamdani não foi isolado: nos estados de Nova Jersey e Virgínia, os democratas também venceram. Abigail Spanberger conquistou o governo da Virgínia, derrotando a republicana Winsome Earle-Sears, enquanto Mikie Sherrill venceu em Nova Jersey, sucedendo o democrata Phil Murphy e derrotando Jack Ciattarelli, apoiado por Trump.

A vitória de Mamdani em Nova York simboliza uma guinada histórica do eleitorado, abrindo um novo capítulo nas tensões entre a cidade e o governo federal.

Para Donald Trump, Mamdani se tornou “o inimigo perfeito”: jovem, eloquente, muçulmano, socialista e prefeito da principal cidade do país. Os ataques já começaram. Discursando em Miami, Trump prometeu retomar o controle de Nova York. Mamdani, por sua vez, terá de equilibrar pragmatismo e confronto, entregando resultados concretos sem se tornar refém da retórica antiamericana. O republicano enxerga nele não apenas um adversário político, mas uma ameaça simbólica, capaz de reorganizar o Partido Democrata em oposição a seu governo.

*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.


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