Animação baiana “Amalá”, com roteiro do feirense Gean Almeida, estreia em Salvador e debate racismo estrutural e violência de Estado

Pré-estreia do curta-metragem de animação 2D “Amalá” foi realizada no espaço cultural Mata Inteira, em Salvador; obra com roteiro do feirense Gean Almeida aborda racismo estrutural, ancestralidade e justiça.

O curta-metragem de animação “Amalá”, produção baiana em animação 2D com roteiro assinado pelo feirense Gean Almeida, teve sua pré-estreia presencial na quarta-feira (17/12/2025), no espaço cultural Mata Inteira, em Salvador. Com 14 minutos de duração e classificação indicativa a partir de 6 anos, a obra propõe uma reflexão crítica sobre racismo estrutural, violência de Estado e o genocídio histórico da população negra e dos povos originários, a partir de uma narrativa ambientada no interior da Bahia.

Dirigido por Gean Almeida, natural de Feira de Santana, em co-direção com Rodrigo Araújo, o curta é uma realização da Raízes BA, por meio do núcleo Raízes – Laboratório de Movimento Animado. A produção se insere no campo do audiovisual independente comprometido com territorialidade, identidade cultural e crítica social, utilizando a animação como ferramenta política, educativa e simbólica.

A escolha de Salvador como palco da pré-estreia e do espaço Mata Inteira como local do lançamento reforça o vínculo da obra com territórios culturais periféricos, ampliando o diálogo com públicos historicamente afastados dos circuitos comerciais e tradicionais do cinema brasileiro.

Uma narrativa do interior da Bahia escrita por um autor feirense

Ambientado no interior baiano, “Amalá” acompanha a jornada de Ganzi, personagem que decide buscar a advogada Kalunga, sua amiga, para compreender como processar o Estado brasileiro diante das violências estruturais sofridas pelas populações negras e indígenas. O enredo, construído a partir da experiência e do olhar de um roteirista feirense, carrega marcas evidentes da realidade social do semiárido, das comunidades do interior e das relações de pertencimento territorial.

O roteiro de Gean Almeida articula denúncia política e sensibilidade narrativa, tratando os ataques estruturais não como eventos pontuais, mas como parte de um sistema histórico de exclusão, apagamento e violência institucionalizada. A trama se desenvolve como uma crônica social, conectando o debate jurídico à noção ampliada de bem viver, senso comunitário e justiça coletiva.

Ao partir de um autor oriundo do interior da Bahia, o filme reforça a legitimidade de uma narrativa construída a partir de dentro, sem exotização ou distanciamento, afirmando o protagonismo criativo de artistas fora dos grandes centros.

Animação 2D como linguagem política, pedagógica e acessível

A opção pela animação 2D cumpre um papel estratégico na obra. Longe de ser apenas uma escolha estética, o formato permite abordar temas densos com leveza narrativa, simbolismo visual e múltiplas camadas de leitura, tornando o curta acessível a públicos diversos, incluindo crianças e adolescentes.

Em seus 14 minutos, “Amalá” combina drama e humor, evitando tanto o didatismo excessivo quanto a banalização da violência. A narrativa se constrói de forma fluida, favorecendo exibições em escolas, cineclubes, festivais, espaços culturais e comunitários, ampliando seu potencial de circulação e impacto social.

A linguagem visual poética e lúdica funciona como um convite à reflexão, estimulando o debate sobre racismo, memória histórica e direitos coletivos desde a infância.

Espiritualidade, ancestralidade e crítica à justiça institucional

Um dos aspectos centrais do curta é a incorporação do universo espiritual da ancestralidade negra e indígena. Ao romper com padrões narrativos realistas, a obra mergulha em dimensões simbólicas e mágicas, dialogando com cosmologias afro-brasileiras e saberes tradicionais.

O roteiro do feirense Gean Almeida conduz a narrativa até a figura de uma matriarca, personagem que sintetiza a sabedoria ancestral e apresenta a justiça como um valor ético e comunitário, superior à justiça formal exercida pelo Estado. Trata-se de uma crítica direta às limitações das instituições diante das desigualdades raciais e sociais persistentes.

A obra propõe, assim, uma reflexão profunda sobre o conceito de justiça, deslocando-o do campo estritamente jurídico para um horizonte cultural, espiritual e coletivo.

Produção baiana e fortalecimento do audiovisual do interior

“Amalá” integra um movimento mais amplo de afirmação do audiovisual baiano independente, especialmente aquele produzido fora dos grandes eixos hegemônicos. A presença de um roteirista feirense à frente do projeto simboliza esse deslocamento de centro e a valorização de narrativas originadas no interior do estado.

A ficha técnica reúne profissionais de diversas áreas, como Jéssica Menezes (preparação de elenco), Rafa Mires e Dafny Bastet (sonorização e mixagem), Tiara Brandão (assessoria de imprensa) e Ananda Alves (design gráfico), além de um elenco de vozes diverso, reforçando o caráter coletivo e territorial da produção.

Segue a listagem dos principais dados, organizada em categorias claras e hierarquizadas, adequada para uso jornalístico, material de divulgação, press kit ou apoio editorial:

Identificação da Obra

  • Título: Amalá
  • Formato: Curta-metragem
  • Linguagem: Animação 2D
  • Gênero: Drama / Humor
  • Duração: 14 minutos
  • Classificação indicativa: Livre – a partir de 6 anos
  • Ano de lançamento: 2025
  • Local de ambientação: Interior da Bahia

Sinopse e Temática

  • Eixo narrativo: Busca por justiça diante do racismo estrutural e da violência de Estado
  • Personagem central: Ganzi
  • Elemento jurídico: Procura da advogada Kalunga para processar o Estado brasileiro
  • Temas centrais:
    • Racismo estrutural
    • Genocídio da população negra
    • Violência contra povos originários
    • Bem viver e senso comunitário
    • Ancestralidade e espiritualidade
    • Justiça para além das instituições formais

Autoria e Direção

  • Roteiro: Gean Almeida (feirense)
  • Direção: Gean Almeida e Rodrigo Araújo
  • Direção de arte: Gean Almeida e Rodrigo Araújo

Produção

  • Produtora: Raízes BA
  • Núcleo de produção: Raízes – Laboratório de Movimento Animado
  • Local de produção: Bahia

Equipe Criativa e Técnica

  • Storyboard e ilustração: Rodrigo Araújo e Gean Almeida
  • Animação: Rodrigo Araújo e Gean Almeida
  • Preparação de elenco: Jéssica Menezes
  • Captação de áudio: Mestre Luizão, Rodrigo Araújo, Gean Almeida e Deivi
  • Sonorização e mixagem: Rafa Mires e Dafny Bastet
  • Designer gráfico: Ananda Alves
  • Assessoria de imprensa: Tiara Brandão

Elenco (Vozes)

  • Ádi Muntu
  • Dani Souza
  • Jamila Cordeiro
  • Luciene Vitória
  • Rodrigo Araújo
  • Yara Sereya

Lançamento e Exibição

  • Pré-estreia presencial: 17 de dezembro de 2024
  • Local da pré-estreia: Espaço cultural Mata Inteira
  • Cidade: Salvador (BA)

Proposta e Relevância

  • Abordagem: Crônica social com linguagem poética e lúdica
  • Público-alvo: Crianças, jovens e adultos
  • Potencial de exibição: Escolas, cineclubes, festivais, espaços culturais e comunitários
  • Diferencial: Autoria do interior da Bahia, protagonismo negro e indígena, uso da animação como ferramenta crítica e pedagógica

Território, autoria e disputa simbólica

“Amalá” ganha relevância ao articular autoria territorial, crítica institucional e linguagem acessível. O fato de o roteiro ser assinado por um autor feirense não é um dado periférico, mas central para a compreensão da obra, que emerge de experiências concretas do interior baiano e das periferias sociais.

O curta tensiona o papel do Estado, questiona a eficácia da justiça institucional e propõe a ancestralidade como fonte legítima de sabedoria e reparação. Ao fazer isso por meio da animação, amplia o alcance do debate e reafirma a cultura como espaço estratégico de disputa simbólica e política.

Mesmo com curta duração, “Amalá” se consolida como uma obra relevante no cenário audiovisual contemporâneo, especialmente por afirmar que o interior também escreve, dirige e pensa o Brasil.

Confira vídeo


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