A Unctad afirmou que países em desenvolvimento enfrentam restrições estruturais para acessar financiamento climático em condições adequadas, devido ao desenho da arquitetura financeira internacional, que concentra decisões nas economias avançadas e limita a autonomia macroeconômica das nações mais vulneráveis.
A agência explicou que, sem mecanismos de financiamento eficazes, Estados insulares, países sem litoral e nações menos desenvolvidas continuarão expostos a impactos climáticos severos, incluindo desastres naturais, perdas econômicas e deslocamento de populações.
A economista-sênior da Unctad, Daniela Magalhães Prates, declarou que as barreiras enfrentadas não são conjunturais, mas de natureza estrutural, refletindo a forma como o sistema financeiro global foi concebido.
Estrutura financeira e crise fiscal
Segundo Prates, o relatório recém-publicado indica que os países em desenvolvimento não conseguem acesso a crédito climático em condições compatíveis com suas necessidades porque o sistema internacional restringe opções de política econômica e mantém a tomada de decisão concentrada nos países ricos.
Ela destacou que o cenário global envolve crise fiscal, tensões geopolíticas e limitações institucionais, reduzindo o espaço para investimentos em mitigação, adaptação e resiliência climática.
A especialista afirmou que as restrições aumentam a vulnerabilidade de Estados que já enfrentam dificuldades históricas para financiar políticas públicas essenciais.
Meta de US$ 100 bilhões e limitações no formato do crédito
A Unctad pontuou que, apesar do cumprimento da meta de US$ 100 bilhões em 2022, a maior parte dos recursos chegou na forma de dívida, ampliando pressões financeiras sobre países já sobrecarregados por amortizações e juros elevados.
O relatório mostra que o financiamento climático permanece fragmentado, com fluxos lentos e insuficientes, e com foco predominante na mitigação, enquanto setores como adaptação e perdas e danos recebem menos atenção.
Prates defendeu reformas que ampliem a participação dos países em desenvolvimento nas decisões, reduzam estruturalmente o custo do capital e aumentem o volume de recursos concessionários e de subvenções.
Vulnerabilidade extrema e impactos econômicos
A Unctad identificou três grupos com impactos desproporcionais: Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, Países em Desenvolvimento Sem Litoral e Países Menos Desenvolvidos.
Nos pequenos Estados insulares, desastres climáticos — como furacões, tempestades e inundações — tornaram-se mais frequentes, enquanto efeitos de evolução lenta, como aumento do nível do mar, afetam turismo, pesca e infraestrutura.
A economista observou que comunidades inteiras já vêm sendo deslocadas, e pescadores precisam navegar distâncias maiores sem equipamentos adequados, evidenciando efeitos diretos sobre a subsistência.
Dependências econômicas e restrições internas
Nos países sem litoral, capacidades fiscais restritas e economias pouco diversificadas reduzem o espaço para investimentos em adaptação. Em muitos casos, há dependência de matérias-primas e limitações logísticas que dificultam o acesso a mercados.
Magalhães Prates acrescentou que países menos desenvolvidos enfrentam choques súbitos e impactos graduais sem condições financeiras para responder, o que amplia desigualdades e pressiona políticas sociais e ambientais.
Negociações internacionais e pressões por consenso
Ao ser questionada sobre como promover uma transformação estrutural em meio a tensões geopolíticas, Prates explicou que a Unctad atua como ponto focal da ONU para integrar agendas de comércio, desenvolvimento, finanças e tecnologia, buscando alinhar agências climáticas e de desenvolvimento.
Ela afirmou que o objetivo é construir consenso para reformar a arquitetura financeira internacional e permitir que o financiamento climático chegue às nações mais vulneráveis de forma adequada em volume e condições.
Para a economista, sem revisão estrutural do sistema financeiro internacional, o financiamento climático não atenderá às necessidades globais nem alcançará os países que mais dependem desses recursos.
*Com informações da ONU News.
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