O Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) participou na Quarta-feira (26/11/2025) da formalização de uma parceria produtiva entre a empresa brasileira LiveFarm e a chinesa Hans Machineries para a fabricação no Brasil de máquinas agrícolas de pequeno porte, voltadas especialmente para pequenas propriedades familiares. A iniciativa prevê transferência de tecnologia, instalação de plantas industriais no Nordeste e lançamento dos primeiros equipamentos já no início de 2026.
A joint-venture foi anunciada com a presença de Joelcio Carvalho, diretor-executivo da LiveFarm, e April Jiang, executiva da Hans Machineries. O acordo prevê a produção de tratores compactos de 7 a 20 cavalos, roçadeiras automáticas e outros implementos agrícolas adaptados à realidade da agricultura familiar.
A Hans Machineries, com atuação em 54 países, traz ao Brasil experiência na fabricação de máquinas de pequeno porte — um segmento ainda pouco explorado no agronegócio brasileiro, tradicionalmente voltado para propriedades médias e grandes. A parceria promete preencher uma lacuna histórica no setor, oferecendo equipamentos adequados a áreas menores e com custos mais acessíveis.
Segundo Joelcio Carvalho, a iniciativa não se limita à aquisição de equipamentos, mas representa um processo de transformação estrutural no campo. O executivo afirmou que a proposta é “desenhar máquinas que facilitem o trabalho, mantenham o jovem no campo e reduzam desigualdades de gênero no trabalho rural”. A LiveFarm planeja instalar unidades produtivas no Ceará, Paraíba e Bahia, fortalecendo a cadeia industrial regional.
Declaração do ministro Paulo Teixeira
Em pronunciamento, o ministro afirmou que a iniciativa representa “uma parceria histórica para mecanizar o agricultor familiar”. Teixeira destacou que as primeiras máquinas serão produzidas em Camaçari (BA), com apoio do Governo da Bahia e do Governo Federal. Ele agradeceu aos executivos da Hans Machineries e da LiveFarm, além da Unicafes, e anunciou que o Brasil dará um “salto na mecanização dos agricultores do Nordeste e de todo o país”.
Impactos sociais e econômicos da mecanização
Atualmente, a agricultura familiar no Brasil apresenta baixos índices de mecanização, o que limita produtividade, encarece o trabalho rural e reduz a competitividade dos pequenos produtores. A introdução de máquinas específicas para esse segmento busca ampliar a autonomia dos agricultores, modernizar rotinas de trabalho e estimular a permanência das novas gerações no meio rural.
Para o ministro Paulo Teixeira, equipamentos como roçadeiras automáticas representam “a aposentadoria da enxada”, símbolo de esforço físico pesado que historicamente marcou o trabalho rural. Ele destacou que, ao contrário das grandes propriedades, as pequenas ainda não dispõem de linhas completas de máquinas adequadas, enquanto a China desenvolveu ampla tipologia voltada a esse nicho.
O ministro também ressaltou que o governo oferece juros de 2% ao ano para financiamento de máquinas de pequeno porte com conteúdo nacional — uma das condições atendidas pela joint-venture. A expectativa é apresentar os primeiros modelos brasileiros durante uma feira de máquinas em Campinas (SP), prevista para março de 2026.
Participação das cooperativas e redução de custos
A presidente da Unicafes, Fátima Torres, enfatizou que a mecanização é decisiva para melhorar a renda e a qualidade de vida no campo. Segundo ela, cada hora que o agricultor deixa de ficar exposto ao sol e passa a utilizar tecnologia representa ganho em saúde, produtividade e tempo disponível para outras atividades da propriedade.
As cooperativas filiadas à Unicafes deverão atuar na redução do custo de acesso dos agricultores aos equipamentos, facilitando financiamentos, compras coletivas e programas de assistência técnica. Esse apoio cooperativista é considerado fundamental para assegurar que a modernização chegue efetivamente às pequenas propriedades, onde a capacidade de investimento é mais limitada.
Modernização necessária, desafios persistentes
A parceria entre empresas brasileira e chinesa reflete uma estratégia de inserção tecnológica tardia, porém imprescindível para a agricultura familiar. O país tradicionalmente concentrou sua estrutura mecanizada nas grandes propriedades, reproduzindo desigualdades que atravessam décadas. Ao trazer equipamentos adequados às pequenas áreas, o Brasil finalmente ajusta parte de sua política agrícola a uma realidade majoritária, já que a agricultura familiar representa cerca de 70% dos alimentos consumidos internamente.
Ainda assim, persistem desafios. A produção nacional depende não apenas da chegada de tecnologia, mas de distribuição eficiente, assistência técnica continuada e linhas de crédito sustentáveis. A presença das cooperativas ajuda a reduzir custos, mas será necessária coordenação entre União, estados e municípios para que os equipamentos não se restrinjam a regiões mais estruturadas.
Além disso, a transferência de tecnologia precisa resultar em autonomia produtiva, evitando a simples montagem local de máquinas chinesas. A consolidação dessa política industrial determinará se o salto tecnológico será duradouro ou episódico.
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