Correios assinam contrato de empréstimo de R$ 12 bilhões com cinco bancos e garantias do Tesouro Nacional

Os Correios assinaram empréstimo de R$ 12 bilhões com cinco bancos, garantido pelo Tesouro, com liberação imediata e prazo de 15 anos. A taxa de 115% do CDI viabilizou o aval soberano. O acordo sustenta a reestruturação, mas envolve exceção regulatória, impasse trabalhista e provável busca de novos recursos em 2026, ampliando o escrutínio fiscal e institucional.
Correios fecham empréstimo de R$ 12 bilhões com cinco bancos e garantia do Tesouro; recursos financiam reestruturação, com impactos fiscais e trabalhistas.

Os Correios formalizaram na sexta-feira (26/12/2025) um contrato de empréstimo de R$ 12 bilhões junto a um sindicato de cinco bancos, com garantia do Tesouro Nacional, conforme extrato publicado em edição extra do Diário Oficial da União no sábado (27/12/2025). A operação, vinculada ao plano de reestruturação da estatal, prevê liberação imediata de R$ 10 bilhões ainda em 2025 e R$ 2 bilhões até o fim de janeiro de 2026, com prazo total de 15 anos e três anos de carência. O aval soberano praticamente elimina o risco para os bancos e condiciona a execução do plano, que inclui ajustes operacionais, revisão de benefícios trabalhistas e um novo programa de demissão voluntária.

O financiamento foi estruturado por um consórcio formado por Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú e Santander.
Pelos termos acordados, Banco do Brasil, Caixa e Bradesco aportarão R$ 3 bilhões cada, enquanto Itaú e Santander contribuirão com R$ 1,5 bilhão cada.

O custo financeiro foi fixado em 115% do CDI, dentro do teto de 120% exigido para a concessão da garantia soberana. Proposta anterior, rejeitada, previa 136% do CDI, o que, segundo estimativas oficiais, implicaria custo adicional próximo de R$ 5 bilhões ao longo do contrato.

Garantia soberana e papel do Tesouro

A garantia do Tesouro Nacional foi premissa central da operação e assegura o pagamento aos credores em caso de inadimplência da estatal. O aval foi concedido após revisão das condições, redução do montante originalmente pleiteado e edição de decreto que permitiu a análise considerando medidas prospectivas de aumento de receitas e redução de despesas — ainda não implementadas.

Trata-se de exceção ao rito habitual, no qual a análise se baseia na fotografia atual da capacidade de pagamento. Sem essa flexibilização, a estatal não atenderia aos critérios para o aval. É a primeira exceção desse tipo desde o governo Dilma Rousseff, quando autorizações semelhantes viabilizaram endividamentos de entes subnacionais que posteriormente entraram em inadimplência.

Liberação dos recursos e cronograma

Com a assinatura, os Correios passam a receber os recursos. A primeira parcela deve ingressar no caixa na segunda-feira (29/12/2025). O cronograma prevê R$ 10 bilhões em 2025 e R$ 2 bilhões até janeiro de 2026, assegurando fôlego financeiro imediato para regularização de passivos e início das ações do plano.

Antecedentes: da proposta de R$ 20 bilhões ao acordo final

Inicialmente, a estatal buscava R$ 20 bilhões para financiar a reestruturação em 2025 e 2026. Um consórcio alternativo, que incluía Citibank, BTG Pactual, ABC Brasil e Safra, apresentou proposta integral, vetada pelo Tesouro por juros elevados e ausência de aval soberano. A redução do valor e a reprecificação destravaram a operação atual.

Limite regulatório e decisão do CMN

Paralelamente, o Conselho Monetário Nacional aprovou limite específico de R$ 12 bilhões para a contratação do crédito pelos Correios. A medida foi necessária porque o espaço regulatório para novos empréstimos do setor público estava praticamente esgotado, inviabilizando a transação sem ajuste normativo.

Plano de reestruturação e impactos trabalhistas

O plano inclui regularização de dívidas com fornecedores e bancos, novo PDV para 15 mil empregados entre 2026 e 2027, revisão de cargos e salários e reformulação do plano de saúde. Em paralelo, a empresa negocia um novo ACT (acordo coletivo de trabalho), argumentando que benefícios acima da CLT — embora legais — se tornaram incompatíveis com a situação financeira.

A mediação no Tribunal Superior do Trabalho não avançou. A categoria rejeitou a proposta e deflagrou greve nacional. O impasse segue para dissídio coletivo, com julgamento marcado para terça-feira (30/12/2025), quando o TST definirá as cláusulas aplicáveis.

Necessidade de novos recursos em 2026

Como o valor contratado ficou abaixo dos R$ 20 bilhões inicialmente estimados, a estatal deverá buscar novo crédito ou aporte do Tesouro em 2026, ano eleitoral, para concluir a implementação do plano. O ponto adiciona sensibilidade fiscal e política ao cronograma de ajustes.

Aval soberano, risco moral e timing político

A operação assegura liquidez imediata e evita ruptura operacional, mas transfere risco ao contribuinte ao praticamente neutralizar a exposição dos bancos. A flexibilização do rito, ainda que legal, reabre debate sobre precedentes e risco moral quando garantias soberanas se baseiam em projeções e não em resultados consolidados.

Há, ainda, tensões trabalhistas relevantes: a reestruturação depende de decisões judiciais e de aceitação social, fatores exógenos ao financiamento. Por fim, a necessidade de novos recursos em 2026 impõe um timing político delicado, exigindo coordenação fiscal e transparência para preservar a credibilidade do ajuste.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.