Corrupção na Esfera Pública: PF afirma que não considera “estatura política” ao investigar desvios em emendas e promete apurar todos os elos do Orçamento Secreto

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que a PF não considera a estatura política dos investigados ao apurar desvios em emendas parlamentares. Segundo ele, a Operação Transparência investiga todos os elos do antigo orçamento secreto, com foco técnico e institucional. A operação tem como alvo uma servidora ligada à Câmara e foi autorizada pelo STF. A PF defende a legitimidade das emendas, desde que usadas conforme a lei.
PF afirma que investiga desvios em emendas sem considerar estatura política e promete apurar todos os elos do orçamento secreto com rigor técnico.

O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, afirmou nesta segunda-feira (15/12/2025) que a instituição não leva em conta a estatura política, econômica ou social dos investigados ao apurar suspeitas de desvios em emendas parlamentares. Segundo ele, a PF irá investigar todos os elos relacionados à chamada Operação Transparência, deflagrada para apurar irregularidades no uso do chamado orçamento secreto.

Durante um café da manhã com jornalistas na sede da PF, em Brasília, Andrei Rodrigues destacou que as investigações seguem critérios técnicos e institucionais, sem qualquer tipo de seletividade política. O diretor ressaltou que a Polícia Federal atua com serenidade, seriedade e responsabilidade, independentemente do peso político dos envolvidos.

Rodrigues afirmou que o foco da investigação é reconstruir toda a cadeia de possíveis irregularidades, desde a origem da emenda até a destinação final dos recursos públicos. Segundo ele, a apuração busca identificar eventual comprometimento na ponta, a atuação de intermediários e a possível participação de parlamentares, sem pré-julgamentos.

O diretor-geral reforçou que a PF não direciona suas ações com base em cargos, mandatos ou influência política.

“Não estamos olhando para a estatura política, econômica, cultural ou social de quem quer que seja”, declarou, ao enfatizar a independência da instituição diante de pressões externas.

Operação Transparência e foco no orçamento secreto

A Operação Transparência foi deflagrada na última sexta-feira (12/12/2025) e tem como objetivo investigar suspeitas de desvios no uso de emendas parlamentares que, durante anos, não permitiam a identificação do padrinho político nem do beneficiário final dos recursos, prática que ficou conhecida como orçamento secreto.

O principal alvo da operação é Mariângela Fialek, conhecida como “Tuca”, servidora do Legislativo que atuou como assessora próxima do deputado Arthur Lira (PP-AL) durante o período em que ele presidiu a Câmara dos Deputados. Foi justamente nesse intervalo que houve um aumento expressivo no uso de emendas de relator, identificadas pela sigla RP9, além de emendas de comissão e de bancada.

Apesar da proximidade funcional, Arthur Lira não figura, até o momento, como investigado. A PF, no entanto, mantém o foco na análise de todos os vínculos administrativos e operacionais relacionados à liberação dos recursos.

Decisão do STF e papel da servidora investigada

As buscas e apreensões realizadas pela PF na Câmara dos Deputados e na residência da servidora foram autorizadas por decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com a decisão, as investigações apontam que Mariângela Fialek exercia uma atuação contínua, sistemática e estruturada na organização e liberação de recursos do orçamento secreto.

Segundo os autos, essa atuação teria sido central para operacionalizar a distribuição de verbas sem transparência, o que reforçou a necessidade de aprofundamento das investigações. A PF avalia documentos, comunicações e fluxos administrativos para mapear responsabilidades individuais e eventuais conexões políticas.

Rodrigues evitou divulgar o número total de inquéritos em andamento sobre o tema, ressaltando que diversas apurações tramitam sob sigilo em diferentes gabinetes do STF, envolvendo suspeitas de desvios de emendas parlamentares em vários estados.

Críticas à politização e defesa da atividade legislativa

Durante a conversa com os jornalistas, o diretor-geral da PF criticou a chamada “fulanização” das investigações, prática que, segundo ele, reduz apurações complexas a disputas personalizadas e compromete a compreensão pública do problema estrutural.

Rodrigues também rebateu a ideia de que as investigações configurariam uma “caça às bruxas” contra parlamentares. Ele destacou que a Polícia Federal não criminaliza a emenda parlamentar em si, nem a atividade política, ressaltando que se trata de um instrumento legítimo e legal, desde que utilizado dentro das normas.

Ao final, o diretor enfatizou que o objetivo das investigações é garantir a correta aplicação dos recursos públicos, preservando o papel do Legislativo, mas combatendo práticas que fragilizam a transparência e a confiança institucional.

Críticas ao discurso legislativo sobre crime organizado

Ainda durante o encontro, Andrei Rodrigues fez críticas diretas a parlamentares que adotam discursos rigorosos contra o crime organizado, mas que, segundo ele, não demonstram a mesma firmeza na votação de projetos estruturantes no Congresso Nacional.

Para o diretor da PF, o enfrentamento ao crime organizado exige responsabilidade compartilhada entre Executivo, Legislativo e Judiciário. Ele afirmou que medidas pontuais, como endurecimento penal isolado, não são suficientes sem um arcabouço legislativo coerente e eficaz.

Rodrigues concluiu defendendo que o combate à corrupção e ao crime organizado deve ser tratado como uma política de Estado, e não como instrumento retórico ou de conveniência política.

Transparência, limites institucionais e tensão entre Poderes

A manifestação pública do diretor-geral da Polícia Federal ocorre em um contexto de forte sensibilidade institucional, no qual o uso de emendas parlamentares, especialmente as vinculadas ao antigo orçamento secreto, tornou-se um dos principais pontos de tensão entre Congresso, Judiciário e órgãos de controle. A defesa da neutralidade técnica da PF busca reforçar a credibilidade das investigações diante de um cenário politicamente polarizado.

Ao mesmo tempo, a operação evidencia os limites do modelo anterior de distribuição de emendas, marcado por baixa transparência e fragilidade nos mecanismos de rastreabilidade. A decisão do STF que autorizou as buscas reforça o papel do Judiciário na contenção de práticas opacas, mas também amplia o debate sobre a judicialização da política orçamentária.

Por fim, a tentativa de separar a legitimidade das emendas da investigação de desvios concretos reflete uma preocupação institucional relevante. O desafio central reside em equilibrar o combate a irregularidades com a preservação das prerrogativas do Legislativo, evitando generalizações, mas assegurando responsabilização efetiva quando comprovadas falhas ou ilícitos.

*Com informações da Folha de S.Paulo, Estadão, O Globo e Revista Veja.


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