Dívida Pública Federal cresce 1,62% em outubro de 2025 e ultrapassa R$ 8,2 trilhões com avanço de títulos atrelados à Selic

A Dívida Pública Federal cresceu 1,62% em outubro e alcançou R$ 8,253 trilhões, puxada pela emissão de títulos atrelados à Selic e pela forte apropriação de juros. O colchão de liquidez aumentou para R$ 1,048 trilhão, enquanto a dívida externa foi influenciada pela alta do dólar. A composição do estoque reforça a migração para papéis pós-fixados, em detrimento de prefixados, ampliando a sensibilidade às taxas de juros.
A Dívida Federal supera R$ 8,2 trilhões e mantém trajetória de alta.

A Dívida Pública Federal (DPF) atingiu R$ 8,253 trilhões em outubro, segundo dados divulgados pelo Tesouro Nacional nesta quinta-feira (27/11/2025). O valor representa alta de 1,62% em relação a setembro, impulsionada sobretudo pela emissão líquida de títulos vinculados à taxa Selic, em um cenário de juros básicos elevados e volatilidade internacional.

A DPF já havia ultrapassado a marca histórica dos R$ 8 trilhões em agosto, e as projeções do Plano Anual de Financiamento (PAF) indicam que o estoque pode encerrar o ano entre R$ 8,5 trilhões e R$ 8,8 trilhões. O avanço reflete um ambiente de juros altos, demanda crescente por títulos pós-fixados e pressões do mercado.

A Dívida Pública Mobiliária Federal interna (DPMFi) passou de R$ 7,82 trilhões para R$ 7,948 trilhões, alta de 0,31%. Em outubro, as emissões superaram os resgates em R$ 41,38 bilhões, sobretudo em papéis atrelados à Selic. A esse movimento somou-se a apropriação de R$ 85,23 bilhões em juros, resultado direto da taxa básica de 15% ao ano.

A apropriação de juros — crescimento automático do estoque pela incidência da taxa contratada — segue pressionando a dívida. Com o mercado operando sob expectativas de menor risco nos títulos pós-fixados, o Tesouro ampliou sua oferta nesse tipo de papel.

Avanço da dívida externa e impacto do câmbio

A Dívida Pública Federal externa (DPFe) também cresceu, avançando 1,17% e atingindo R$ 305,06 bilhões. A valorização de 1,24% do dólar em outubro, em meio às tensões comerciais entre Estados Unidos e China no governo Trump, foi o principal fator de pressão.

Esse comportamento cambial afeta diretamente a parcela da dívida corrigida por variação do dólar, composta tanto por antigos títulos internos indexados à moeda quanto pela dívida externa tradicional.

Colchão da dívida volta a subir e reforça liquidez do Tesouro

Depois da queda observada em setembro, o colchão de liquidez — reserva usada para atravessar momentos de instabilidade ou concentração de vencimentos — voltou a crescer. Passou de R$ 1,032 trilhão para R$ 1,048 trilhão.

Atualmente, essa reserva cobre 8,81 meses de vencimentos da dívida pública. Para os próximos 12 meses, o Tesouro estima o vencimento de R$ 1,434 trilhão em títulos, reforçando a necessidade de manutenção de um volume seguro de liquidez.

O aumento do colchão está diretamente associado à emissão líquida positiva no mês, que superou o volume de resgates e reforçou a capacidade de gerenciamento da dívida.

Composição da dívida: Selic ganha espaço e prefixados recuam

A estrutura da DPF apresentou mudanças relevantes entre setembro e outubro, seguindo a tendência de maior procura por títulos pós-fixados. As variações foram as seguintes:

  • Selic: de 47,47% para 48,19%
  • Inflação: de 26,81% para 26,68%
  • Prefixados: de 22,02% para 21,44%
  • Câmbio: de 3,7% para 3,68%

As projeções do PAF indicam que a participação dos títulos atrelados à Selic deve encerrar 2025 entre 48% e 52%, movimento coerente com a atual política monetária. Títulos prefixados, considerados mais previsíveis para o Tesouro, perderam espaço em um momento de volatilidade e demanda por juros mais altos.

A aversão a prefixados ocorre porque, em cenários instáveis, investidores exigem taxas elevadas, encarecendo a rolagem da dívida e pressionando o planejamento fiscal.

Prazo médio e perfil dos detentores

O prazo médio da DPF variou de 4,16 para 4,14 anos. Embora a oscilação seja pequena, prazos mais longos indicam maior confiança dos investidores na capacidade de pagamento do governo.

Em relação aos detentores da dívida interna, a composição permanece concentrada em grandes investidores institucionais:

  • Instituições financeiras: 32,21%
  • Fundos de pensão: 22,97%
  • Fundos de investimento: 21,21%
  • Estrangeiros (não residentes): 10,46%
  • Demais grupos: 13,2%

A participação de estrangeiros cresceu levemente em relação a setembro, quando estava em 10,19%, apesar da maior tensão nos mercados. Em comparação anual, o volume se aproxima dos níveis mais altos desde 2018.

O peso dos juros elevados e o risco de concentração na Selic

A escalada da Dívida Pública Federal em outubro reforça a pressão estrutural imposta pela combinação de juros elevados, demanda crescente por títulos pós-fixados e um cenário externo marcado por incertezas. A predominância dos papéis atrelados à Selic atende ao apetite do mercado, mas aumenta a sensibilidade da dívida às decisões de política monetária e reduz a previsibilidade fiscal.

O recuo dos títulos prefixados revela uma fragilidade operacional: em momentos de estresse, o Tesouro perde capacidade de travar custos futuros e fica mais exposto a oscilações de curto prazo. Embora o colchão de liquidez robusto garanta segurança temporária, a trajetória de médio prazo depende de estabilidade macroeconômica, credibilidade fiscal e aumento da confiança do investidor — condições que ainda enfrentam desafios.

Principais dados da Dívida Pública da União

Estoque da dívida

  • DPF: R$ 8,253 trilhões
  • Alta mensal: 1,62%
  • Projeção PAF 2025: R$ 8,5 a R$ 8,8 trilhões

DPMFi (dívida interna)

  • Setembro: R$ 7,82 trilhões
  • Outubro: R$ 7,948 trilhões
  • Emissão líquida: R$ 41,38 bilhões
  • Apropriação de juros: R$ 85,23 bilhões

DPFe (dívida externa)

  • Setembro: R$ 301,53 bilhões
  • Outubro: R$ 305,06 bilhões
  • Alta do dólar: 1,24%

Colchão de liquidez

  • Valor: R$ 1,048 trilhão
  • Cobertura: 8,81 meses
  • Vencimentos próximos 12 meses: R$ 1,434 trilhão

Composição da DPF

  • Selic: 48,19%
  • Inflação: 26,68%
  • Prefixados: 21,44%
  • Câmbio: 3,68%

Detentores da dívida

  • Instituições financeiras: 32,21%
  • Fundos de pensão: 22,97%
  • Fundos de investimento: 21,21%
  • Estrangeiros: 10,46%
  • Outros: 13,2%


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