O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, foi preso na madrugada desta sexta-feira (26/12/2025) no Paraguai, ao tentar embarcar em um voo com destino a El Salvador. Condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 24 anos e seis meses de prisão por participação na chamada trama golpista de 2022, Vasques rompeu a tornozeleira eletrônica que monitorava sua prisão domiciliar, deixou o Brasil sem autorização judicial e foi detido no aeroporto paraguaio, segundo informações da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República.
Prisão no exterior e tentativa de evasão
A detenção ocorreu após a interrupção do sinal da tornozeleira eletrônica na madrugada do dia 25, noite de Natal. A Polícia Federal informou que o equipamento deixou de transmitir dados de GPS por volta das 3h, o que motivou diligências imediatas no endereço de Vasques, em São José (SC). No local, agentes constataram sua ausência.
Imagens do circuito interno do prédio indicaram que o ex-diretor permaneceu no apartamento até a noite do dia 24, quando foi visto colocando bolsas no porta-malas de um veículo, possivelmente alugado. A fuga teria ocorrido poucas horas depois, culminando na entrada irregular no Paraguai.
Já no país vizinho, Vasques foi abordado por autoridades locais quando tentava embarcar para El Salvador. De acordo com informações divulgadas pela imprensa, ele portava passaporte paraguaio com dados falsos, fato que reforçou a suspeita de evasão deliberada e resultou em sua prisão.
Condenação no STF e acusações centrais
Silvinei Vasques foi condenado pela Primeira Turma do STF no âmbito da ação penal do Núcleo 2 da trama golpista, que apurou a atuação de agentes públicos na tentativa de subverter o resultado das eleições presidenciais de 2022.
Segundo a Procuradoria-Geral da República, o ex-diretor da PRF ordenou a realização de blitzes rodoviárias em regiões com maior intenção de voto no então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, com o objetivo de dificultar o deslocamento de eleitores no segundo turno, realizado em 30 de outubro de 2022.
A acusação sustenta ainda que Vasques participou de reunião em 19 de outubro daquele ano, na qual foi discutido o uso da estrutura da PRF para interferir no processo eleitoral. A ele é atribuída a frase de que “havia chegado a hora de a PRF tomar lado na disputa”.
Crimes e pena aplicada
Na decisão condenatória, o STF imputou a Vasques os crimes de organização criminosa, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.
A soma das penas resultou em 24 anos e seis meses de reclusão, uma das mais severas já aplicadas a um ex-dirigente de força policial federal no Brasil, segundo registros recentes do Judiciário.
Prisão domiciliar, medidas cautelares e nova decisão de Moraes
Preso preventivamente em agosto de 2023, Vasques permaneceu um ano detido até obter liberdade provisória, concedida pelo ministro Alexandre de Moraes, mediante cumprimento de medidas cautelares. Entre elas, o uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar e cancelamento do passaporte.
Com a fuga e a violação das condições impostas, Moraes decretou, na tarde desta sexta-feira (26), a prisão preventiva do ex-diretor. Na decisão, o ministro afirmou que a evasão “autoriza a conversão das medidas cautelares em prisão preventiva”, diante do risco concreto de descumprimento da lei penal.
A Polícia Federal informou que Vasques deverá ser repatriado ao Brasil para cumprimento da pena imposta.
Defesa e posicionamento das autoridades
Durante o julgamento, os advogados de Vasques negaram que ele tenha atuado para impedir o voto de eleitores de Lula no segundo turno. Até o momento da publicação, a defesa não havia se manifestado sobre a fuga, a prisão no Paraguai ou a suposta utilização de documento falso.
A Polícia Federal afirmou que as informações apuradas foram encaminhadas ao STF. Procurada, a corporação não comentou detalhes adicionais sobre o caso nem sobre a eventual responsabilização por crimes conexos, como falsidade documental e evasão de custódia.
Impacto institucional e desdobramentos
A prisão de Silvinei Vasques no exterior aprofunda a gravidade institucional do caso e reforça a dimensão transnacional dos desdobramentos da trama golpista de 2022. A tentativa de fuga, com violação de medidas cautelares e uso de documentação falsa, adiciona novos elementos penais e fragiliza ainda mais a estratégia defensiva do ex-dirigente.
O episódio expõe, de forma contundente, os riscos associados ao uso político de estruturas policiais, tema sensível em democracias consolidadas. A condenação e a recaptura indicam uma resposta dura do Judiciário, especialmente do STF, a condutas que atentem contra o processo eleitoral e o Estado de Direito.
Ao mesmo tempo, o caso tende a intensificar debates sobre controle institucional das forças de segurança, cooperação internacional e a efetividade de medidas cautelares em processos de alta complexidade política e jurídica.
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