Mesa Diretora da Câmara dos Deputados declara perda dos mandatos de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem por excesso de faltas

A Mesa Diretora da Câmara declarou, em 18/12/2025, a perda dos mandatos de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem por excesso de faltas, com base no artigo 55 da Constituição. Eduardo estava nos EUA desde fevereiro e acumulou ausências, enquanto Ramagem foi condenado pelo STF e deixou o país. Missionário José Olimpio e Dr. Flávio assumem as vagas. A decisão gerou forte reação do PL e amplia tensões institucionais.
Deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ) tiveram os mandatos declarados vagos pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, em decisão anunciada em Brasília nesta quinta-feira (18/12/2025).

A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados declarou, nesta quinta-feira (18/12/2025), a perda dos mandatos parlamentares de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem, conhecido como Delegado Ramagem (PL-RJ). A decisão foi fundamentada no artigo 55, inciso III e § 3º, da Constituição Federal, que prevê a cassação do mandato em caso de ausência injustificada a mais de um terço das sessões deliberativas no ano legislativo.

A medida foi formalizada por maioria dos integrantes da Mesa Diretora e anunciada pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), às vésperas do recesso parlamentar, que se inicia nesta sexta-feira (19). Com a decisão, foram acionados os mecanismos regimentais para a convocação e efetivação dos suplentes.

Fundamentação constitucional da perda de mandato

No caso de Eduardo Bolsonaro, a Mesa Diretora apontou que o deputado deixou de comparecer a 63 das 78 sessões deliberativas realizadas em 2025, ultrapassando o limite constitucional de faltas permitido. Desde fevereiro, o parlamentar encontra-se nos Estados Unidos e havia se licenciado formalmente do mandato em março, alegando perseguição política e jurídica no Brasil.

Apesar de tentativas de exercer o mandato à distância ou de evitar o registro de ausências, todas as iniciativas apresentadas por Eduardo Bolsonaro foram rejeitadas pela Câmara, que manteve o entendimento de que a presença física é indispensável para o cumprimento das funções parlamentares.

Já no caso de Alexandre Ramagem, a Mesa Diretora considerou não apenas as ausências já registradas, mas também a impossibilidade objetiva de comparecimento às sessões em 2026, diante de sua situação judicial e de sua permanência fora do país. O colegiado entendeu que a previsão de novo excesso de faltas justificava a declaração imediata da vacância do mandato, também com base no artigo 55 da Constituição.

Situação judicial de Alexandre Ramagem

Ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e ex-delegado da Polícia Federal, Ramagem foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal à pena de 16 anos e um mês de prisão, com determinação expressa de perda do cargo, por participação em tentativa de golpe de Estado.

Segundo informações da Polícia Federal, Ramagem deixou o Brasil de forma clandestina em setembro, atravessando a fronteira com a Guiana e utilizando passaporte diplomático para ingressar nos Estados Unidos. Em novembro, o ministro Alexandre de Moraes decretou sua prisão preventiva e, no dia 15 de dezembro, formalizou pedido de extradição às autoridades norte-americanas.

Levantamento da imprensa aponta que Ramagem já teria custado mais de R$ 500 mil aos cofres da Câmara dos Deputados desde que deixou o país, mesmo sem exercer plenamente o mandato.

Convocação e efetivação dos suplentes

Com a declaração de vacância, a Câmara deu início imediato ao processo de substituição dos parlamentares. No caso de São Paulo, Missionário José Olimpio (PL-SP) foi efetivado no cargo. Ele já exercia o mandato desde 23 de março, na condição de suplente, e passa agora à titularidade definitiva da vaga deixada por Eduardo Bolsonaro.

No Rio de Janeiro, o suplente Dr. Flávio (PL-RJ) será convocado para assumir a cadeira de Alexandre Ramagem. O parlamentar já havia ocupado temporariamente o mandato entre 7 de maio e 4 de setembro de 2024, durante licenças anteriores, e retorna agora como titular.

Reações políticas e posicionamento do PL

A decisão da Mesa Diretora provocou reação imediata do Partido Liberal (PL). O líder da legenda na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), classificou a medida como “grave” e afirmou que a sigla estuda recorrer ao plenário contra a declaração de perda dos mandatos.

Em nota publicada nas redes sociais, Sóstenes argumentou que a decisão “retira do plenário o direito de deliberar” e transforma a Mesa Diretora em “instrumento de validação automática de pressões externas”. Segundo ele, milhões de eleitores ficariam, temporariamente, sem a representação política conferida pelo voto.

Eduardo Bolsonaro, por sua vez, publicou vídeo nas redes sociais afirmando que a perda do mandato “valeu a pena”. O ex-deputado declarou que não foi cassado por corrupção, mas por sua atuação política no exterior, especialmente nos Estados Unidos, onde buscou apoio contra autoridades brasileiras.

Atuação internacional e desdobramentos diplomáticos

Desde o início de 2025, Eduardo Bolsonaro intensificou sua atuação política fora do país, defendendo publicamente sanções internacionais contra integrantes do Supremo Tribunal Federal, da Procuradoria-Geral da República e da Polícia Federal. Em novembro, o STF decidiu torná-lo réu por coação no curso do processo, após denúncia apresentada pela PGR.

A Procuradoria apontou que o parlamentar teria adotado tom intimidatório ao pressionar autoridades brasileiras a partir do exterior, especialmente no contexto das investigações sobre a tentativa de golpe envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e aliados.

Durante esse período, o governo dos Estados Unidos, então sob liderança de Donald Trump, anunciou novas tarifas contra produtos brasileiros e chegou a aplicar sanções pessoais a autoridades do STF, medidas que posteriormente foram revertidas após a retomada do diálogo diplomático entre Brasília e Washington.

Impacto institucional da decisão

A declaração de perda dos mandatos de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem marca um momento sensível na relação entre o Legislativo, o Judiciário e o cenário político internacional. Do ponto de vista institucional, a decisão reafirma a aplicação literal do texto constitucional, especialmente no que se refere ao dever de presença parlamentar como elemento essencial do mandato.

Ao mesmo tempo, o episódio expõe tensões latentes sobre os limites da atuação política no exterior, a instrumentalização de pressões internacionais e o papel da Mesa Diretora como instância administrativa, e não deliberativa, em processos de perda de mandato por ausência.

Também chama atenção o fato de a decisão ter sido tomada sem unanimidade entre os membros da Mesa, com substituição de titulares por suplentes para viabilizar a assinatura do ato, o que tende a alimentar disputas políticas e questionamentos regimentais no curto prazo.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.