Operação da PF expõe rede clandestina de medicamentos para emagrecimento com clínicas de luxo, laboratório irregular e ilha na Bahia

Salvador (BA), domingo, 30/11/2025 — Policiais federais cumprem mandados em clínicas e laboratório investigados por produzir e vender ilegalmente substância usada em canetas para emagrecimento; esquema teria envolvido médicos influenciadores, grandes estoques clandestinos e cursos na Ilha de Carapituba.
Salvador, domingo, 30/11/2025 — Reportagem do Fantástico revelou novos detalhes sobre a operação da Polícia Federal que investiga um esquema nacional de fabricação e venda clandestina de medicamentos injetáveis para emagrecimento, envolvendo clínicas em áreas nobres, laboratório irregular em São Paulo, uso de jatinho, cursos exclusivos e uma ilha paradisíaca na Bahia usada como centro de treinamento para médicos.

Salvador, domingo, 30/11/2025 — A reportagem do Fantástico expôs, com maior precisão, a estrutura e a abrangência da operação da Polícia Federal que desmantelou um esquema nacional de fabricação e venda clandestina de medicamentos injetáveis para emagrecimento. A investigação envolve clínicas em áreas nobres, um laboratório irregular em São Paulo, uso de jatinho particular, cursos exclusivos para médicos e uma ilha paradisíaca na Bahia utilizada como centro de treinamento para aplicação de substâncias sem autorização sanitária.

A PF detalhou que o esquema era operado pelo médico baiano Gabriel Almeida, acusado de comandar a produção clandestina de tirzepatida, princípio ativo presente em canetas de emagrecimento de alto custo e grande demanda. De acordo com os investigadores, o grupo produzia milhares de frascos sem qualquer rastreabilidade, vendia o material a clínicas privadas e treinava profissionais de saúde em um “Protocolo Avançado de Emagrecimento” cuja legalidade está sob questionamento. A ilha na Bahia funcionaria como ponto de encontro, difusão de técnicas e captação de novos médicos interessados no método.

As equipes da PF apreenderam uma quantidade expressiva de frascos e ampolas com substâncias injetáveis produzidas em total desacordo com as normas sanitárias. O espaço vistoriado, que deveria funcionar apenas como farmácia de manipulação para pedidos individualizados, operava, segundo a PF, como uma verdadeira indústria clandestina, com produção em série, ausência de controle de esterilidade, falhas graves no armazenamento e inexistência de documentação que assegure a origem e a qualidade dos insumos utilizados.

Especialistas em vigilância sanitária alertam que medicamentos injetáveis fabricados dessa forma apresentam risco elevado de infecções graves, septicemia e até morte, já que a esterilidade — requisito mínimo para qualquer aplicação parenteral — é facilmente comprometida em ambientes irregulares. Embora a legislação brasileira permita a manipulação individual de tirzepatida em casos específicos, é expressamente proibida a produção em larga escala para abastecer clínicas, prática que fragiliza o controle sanitário e cria um mercado paralelo de substâncias de alto risco.

Segundo os peritos, o que a PF encontrou representa uma violação direta das normas da Anvisa: estoques de milhares de ampolas, frascos padronizados sem identificação de pacientes e produtos prontos para distribuição ampla. Tudo isso configura um modelo industrial totalmente incompatível com o regime de manipulação autorizado, que exige personalização, prescrição individual, documentação completa e controle estrito de qualidade.

A investigação ainda está em andamento, mas o material apreendido e os indícios levantados reforçam o caráter estruturado do esquema e os riscos diretos à saúde pública, especialmente em um mercado pressionado pela busca acelerada por métodos de emagrecimento sem supervisão adequada.

O papel do médico influenciador e o laboratório Única Pharma

Um dos alvos principais é o médico baiano Gabriel Almeida, influenciador digital com cerca de 750 mil seguidores e presença intensa nas redes sociais. Conhecido por conteúdos sobre tratamento da obesidade, Almeida se apresenta como médico, escritor, palestrante e professor. A PF, porém, afirma que ele teria influenciado outros profissionais a adotar seu “Protocolo Avançado de Emagrecimento”, estimulando prescrições padronizadas para justificar compras recorrentes de tirzepatida manipulada.

A operação também cumpriu mandados na sede da Única Pharma, laboratório localizado na zona sul de São Paulo e apontado como responsável pela produção das substâncias apreendidas. Investigações indicam que Almeida e outros médicos seriam sócios ocultos do laboratório, utilizando terceiros como laranjas na estrutura societária.

Vídeos obtidos pelo Fantástico mostram Almeida orientando médicos sobre como maximizar lucros com tirzepatida manipulada, sugerindo margens superiores às praticadas por farmácias regulares. Em uma transmissão, aparece ao lado de Lucas Gasparini, que se apresenta como dono da Única Pharma e anuncia “promoções” destinadas a aumentar o faturamento dos prescritores.

Cursos em ilha de luxo na Bahia e estratégia de expansão comercial

Um dos elementos mais chamativos da operação é a utilização da Ilha de Carapituba, situada na Baía de Todos-os-Santos e acessível apenas por barco. A propriedade, adquirida em consórcio por Almeida e terceiros, funcionava como centro de treinamento para médicos, segundo apurações da PF.

Nos encontros, profissionais de diversas regiões do país aprendiam a aplicar o “Protocolo Avançado”, incluindo estratégias para prescrição, venda de produtos e fidelização de pacientes. A PF afirma que a ilha era utilizada também para apresentações comerciais de tirzepatida manipulada, reforçando a dimensão econômica do esquema.

O cenário na chegada da equipe do Fantásticoiates ancorados, hóspedes e eventos privativos — reforça o caráter ostentatório das atividades, contrastando com a ilegalidade das operações em curso.

Defesa de Gabriel Almeida e posicionamentos oficiais

O advogado de Gabriel Almeida reconhece que o cliente não é endocrinologista, possuindo especialidade formal em cirurgia geral, embora tenha cursos de pós-graduação na área de obesidade. A defesa sustenta que Almeida não possui participação societária na Única Pharma e que sua atuação se limita a atividades de ensino e consultoria, devidamente registradas com emissão de notas fiscais.

Segundo o advogado, Almeida não fabrica, não manipula e não comercializa medicamentos, sendo apenas consumidor dos produtos do laboratório investigado. A Única Pharma, em nota, negou produzir “falso Monjaro” e afirmou atender exclusivamente clínicas e profissionais habilitados, negando venda direta ao público.

A Anvisa participou das análises técnicas, mas informou que detalhes da investigação estão sob sigilo judicial. O material apreendido será periciado para identificar as substâncias presentes nas ampolas.

Implicações regulatórias e vulnerabilidade do mercado de emagrecimento

A operação expôs um vazio regulatório explorado por médicos e laboratórios que utilizam a permissão de manipulação individual como porta de entrada para produção massificada. O crescimento vertiginoso da demanda por medicamentos de emagrecimento, impulsionada por redes sociais, criou um ambiente fértil para práticas comerciais agressivas e risco ampliado aos pacientes.

O uso de figuras influentes, cursos de capacitação e ambientes luxuosos como vitrines do “protocolo” reforça a dimensão empresarial do esquema, que se distancia do propósito médico e se aproxima de uma lógica de mercado desregulado. O caso também revela a fragilidade dos mecanismos de fiscalização, especialmente diante da combinação entre alta lucratividade, marketing digital e manipulação farmacêutica.

A investigação sugere que parte significativa do setor opera em zona cinzenta entre o permitido e o proibido, o que indica a necessidade de fortalecer normas, rastreabilidade e proteção ao consumidor diante de substâncias que, usadas de forma inadequada, podem representar risco grave à saúde.

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