Operação Invisíveis: MPBA e SSP deflagram ação contra PMs investigados por tortura e execução em Monte Santo

Ação integrada do MPBA e da SSP cumpre mandados, prende policiais e apreende armas e celulares na investigação da morte de Edmilson Cruz do Carmo, ocorrida em fevereiro de 2024.

Terça-feira, 02/12/2025 — O Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) e a Secretaria de Segurança Pública (SSP) deflagraram a Operação Invisíveis para investigar seis policiais militares suspeitos de envolvimento na tortura e execução de Edmilson Cruz do Carmo, ocorrida em 17 de fevereiro de 2024, no município de Monte Santo, sertão baiano. A ação resultou na prisão temporária de dois PMs, afastamento de outros quatro e no cumprimento de oito mandados de busca e apreensão em três estados.

As decisões judiciais da Vara Criminal de Monte Santo foram cumpridas de forma simultânea pelo MPBA e por forças especializadas da SSP. Segundo o órgão, os policiais investigados são suspeitos de homicídio qualificado, tortura e fraude processual, além de possível tentativa de encobrir o crime com versão falsa de confronto armado.

Foram realizadas buscas em endereços dos seis investigados nos municípios baianos de Euclides da Cunha, Ribeira do Pombal e Monte Santo, em Aracaju (SE) e em Trindade (PE). As equipes apreenderam armas, celulares, simulacros e diferentes objetos que serão submetidos à perícia para reconstrução da dinâmica dos fatos.

As ações ocorreram nas residências dos PMs e também nas sedes da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) Nordeste, situadas em Ribeira do Pombal e Monte Santo, reforçando o caráter abrangente da investigação.

Atuação integrada entre MP, SSP e forças de controle

A operação envolveu articulação entre múltiplos órgãos. Participaram o Geosp (Grupo de Atuação Especial Operacional de Segurança Pública) e o Gaeco (Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas) do MPBA, além da Força Correcional Especial Integrada (Force) e da Corregedoria da Polícia Militar, ambos vinculados à SSP.

Houve ainda cooperação com os Gaecos dos Ministérios Públicos de Sergipe e Pernambuco, permitindo atuação interestadual e aperfeiçoamento das diligências. A operação foi estruturada para garantir isenção investigativa, rastrear responsabilidades individuais e impedir interferência corporativa que pudesse comprometer a coleta de provas.

Provas desmontam tese de confronto

A investigação do MPBA foi deflagrada após surgirem inconsistências entre os laudos periciais preliminares e o relato dos policiais, que registraram a morte de Edmilson como decorrente de “intervenção policial” após suposta troca de tiros.

Apurações posteriores do Geosp revelaram que não ocorreu confronto. Edmilson foi torturado e executado dentro de sua residência, em uma ação considerada premeditada por dois PMs. A vítima foi morta na presença de um familiar, que também sofreu violência e ameaças durante a operação informal realizada pelos agentes.

Segundo a promotoria, não houve perseguição, resistência armada ou qualquer circunstância que justificasse o uso da força letal. A ação, conforme indicam as provas, não configurou ato de legítima defesa ou reação policial, mas sim execução sumária.

Alteração da cena e tentativa de ocultação do crime

Quatro dos seis investigados são apontados por fraudar a cena do crime com o objetivo de sustentar a versão de intervenção policial. Entre os atos apurados estão:

  • Remoção indevida do corpo de Edmilson Cruz do Carmo;
  • Apagamento de vestígios no local da execução;
  • Apresentação de objetos falsos, supostamente vinculados à vítima;
  • Depoimentos contraditórios e elaborados para simular confronto.

Essa tentativa de reconstrução artificial da narrativa policial é tratada pelo MPBA como ato de fraude processual, amplamente utilizado para forjar legalidade e ocultar abusos.

Implicações institucionais e desafios à responsabilização

A Operação Invisíveis revela, de forma contundente, as dificuldades históricas do país em enfrentar práticas de violência policial encoberta por narrativas oficiais, especialmente em áreas rurais e interiorizadas. O caso expõe um modelo no qual estruturas públicas, quando mal supervisionadas, podem originar redes de proteção informal e relatos falsos destinados a garantir impunidade.

A cooperação entre MPBA, SSP e Gaecos de outros estados reforça a necessidade de mecanismos permanentes de controle externo, evitando que investigações fiquem restritas ao ambiente corporativo da própria Polícia Militar. A operação também evidencia a importância da perícia independente para desmontar versões institucionalizadas.

Ao trazer à luz a execução de um civil e a suposta adulteração da cena, a investigação abre debate sobre métodos, práticas e limites da atuação policial, equilíbrio entre segurança e direitos fundamentais e a urgência de fortalecer sistemas de supervisão e responsabilização.


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