O ator Othon Bastos voltou à sua terra natal depois de 87 anos, realizando uma apresentação histórica na Praça da Matriz, no Centro de Tucano, onde encenou o monólogo “Não me entrego, não!”, escrito e dirigido por Flávio Marinho. O evento, realizado na noite de domingo (30/11/2025) , reuniu moradores, estudantes, autoridades e admiradores do artista, marcando um reencontro simbólico com suas origens e com a comunidade que o viu nascer.
O retorno de Othon Bastos, considerado por parte da crítica o maior ator brasileiro vivo, mobilizou Tucano e transformou o município em palco de uma celebração artística marcada por memória, afeto e reconhecimento público. Com 74 anos de carreira, o artista apresentou o monólogo “Não me entrego, não!”, revisitando episódios decisivos de sua trajetória no teatro e no cinema, diante de uma plateia que lotou a Praça da Matriz.
Um reencontro entre artista e território
A apresentação coroou um movimento de reconexão entre Othon Bastos e sua cidade natal. A Prefeitura de Tucano homenageou o artista com a Medalha Padre José Gumercindo, a mais alta honraria municipal, concedida em reconhecimento à sua contribuição para a cultura brasileira e pela projeção que deu ao nome do município em produções nacionais e internacionais.
Ao subir ao palco, Othon se dedicou a reconstruir passagens marcantes de sua vida. O monólogo, baseado em mais de 600 páginas de memórias e anotações pessoais, percorre seus primeiros anos na Bahia, a formação artística, o sucesso nos palcos, a consagração no cinema e a maturidade de um intérprete que influenciou gerações.
De forma sensível e precisa, Flávio Marinho estruturou o texto a partir de um diálogo simbólico entre Othon e sua própria memória, representada pela atriz Marta Paret, presença cênica que costura lembranças, provoca reflexões e amplia o alcance emocional do espetáculo.
A força narrativa de um ator em plena atividade
Nas falas de Othon, o público acompanhou histórias permeadas por fé, humor, política, literatura e cinema. O ator revisitou a emoção de filmar “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, a força dramática de “São Bernardo” e a sensibilidade de produções como “Central do Brasil”, em composições que ajudaram a moldar o imaginário audiovisual brasileiro.
O artista destacou que este é seu primeiro monólogo, construído a partir de sua própria vida. Afirmou não carregar lembranças amargas e que seu objetivo é compartilhar experiências que inspirem o público. “Quero que as pessoas vejam quem eu sou. Não trago lembranças amargas, apenas as que me fizeram seguir adiante”, declarou.
O espetáculo contou ainda com trilha sonora de Liliane Secco, iluminação de Paulo César Medeiros e cenografia de Ronald Teixeira, elementos que reforçaram o caráter intimista e filosófico da apresentação.
A turnê nacional de “Não me entrego, não!” segue em andamento, com retorno ao Teatro Vannucci (RJ) previsto para 2026, mantendo viva a trajetória de um dos artistas mais longevos do país.
Mostra de filmes aproxima estudantes da obra de Othon Bastos
Antes da apresentação principal, Tucano sediou uma mostra de filmes dedicada à obra do ator, exibida entre os dias 24 e 28 de novembro no auditório do Colégio Estadual de Tempo Integral de Tucano (CETIT). As sessões gratuitas atenderam estudantes da rede pública, acompanhadas de debates conduzidos pelo cineasta tucanense Marcelo Filho, especialista formado pela Universidad del Cine, de Buenos Aires.
Foram exibidas produções que marcaram a carreira de Othon, como:
- 1962 – “O Pagador de Promessas” (Livre)
- 1998 – “Central do Brasil” (12 anos)
- 1972 – “São Bernardo” (10 anos)
- 2018 – “O Paciente” (10 anos)
- 1964 – “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (14 anos)
A mostra reforçou a importância formativa da arte e aproximou jovens de um patrimônio cultural que atravessou décadas do cinema brasileiro.
Tucano no centro da cultura nacional
A realização do evento, com patrocínio da Transpetro via Lei Rouanet e apoio da Prefeitura de Tucano, consolidou o município como polo regional de incentivo às artes. A iniciativa dialoga com um movimento mais amplo de valorização da memória cultural baiana e de fortalecimento da identidade local.
Nos bastidores, equipes técnicas, produtores e artistas atuaram para entregar uma apresentação de padrão profissional, reafirmando a capacidade do interior da Bahia de sediar espetáculos de grande porte e promover circulação cultural.
Nemória, identidade e permanência
O retorno de Othon Bastos a Tucano expôs um fenômeno raro no cenário cultural brasileiro: o reencontro entre um artista consagrado e o território que moldou seus primeiros passos. A presença do ator, aos 92 anos, mobiliza reflexões sobre memória cultural, preservação de trajetórias individuais e a responsabilidade das cidades em reconhecer seus criadores.
A apresentação na Praça da Matriz reaproxima a população de uma história que muitas vezes transita distante dos centros urbanos. A homenagem revela uma valorização tardia, mas necessária, a um artista cuja carreira ultrapassou fronteiras nacionais.
Ao transformar sua própria vida em espetáculo, Othon devolve ao público a ideia de continuidade: uma vida dedicada à arte permanece como legado, e Tucano — sua cidade natal — torna-se parte ativa dessa permanência.
Share this:
- Click to print (Opens in new window) Print
- Click to email a link to a friend (Opens in new window) Email
- Click to share on X (Opens in new window) X
- Click to share on LinkedIn (Opens in new window) LinkedIn
- Click to share on Facebook (Opens in new window) Facebook
- Click to share on WhatsApp (Opens in new window) WhatsApp
- Click to share on Telegram (Opens in new window) Telegram
Relacionado
Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)
Subscribe to get the latest posts sent to your email.




