No sábado, 26/11/2022, foi lançado o livro Entre as Chamas, Sob a Água, do escritor Roosevelt Colini, que assina como R. Colini. A obra literária, classificada como romance histórico, reconstrói os eventos da Guerra de Canudos a partir da perspectiva de um jovem soldado do Exército brasileiro, cuja humanidade se esvai em meio à brutalidade do conflito.
O livro se distingue por um olhar introspectivo e crítico sobre a atuação do Exército na repressão ao movimento liderado por Antônio Conselheiro. Ao evitar a simplificação maniqueísta dos fatos, Colini oferece ao leitor uma narrativa densa e sensível sobre a desumanização provocada pela guerra.
Cenário de horror e desamparo
A narrativa é ambientada no sertão baiano, onde tropas militares enfrentam as forças populares de Canudos, compostas por sertanejos que dominavam o território e sobreviviam em condições extremas. O romance descreve com minúcia a fome, a sede, o cansaço extremo, a insalubridade dos acampamentos e o cheiro nauseante dos campos de batalha, elementos que corroem a sanidade dos combatentes.
O protagonista, inicialmente descrito como um oficial disciplinado e idealista, se transforma ao longo da trama. Perde a empatia, a fé e o sentido da missão militar, tornando-se prisioneiro de seus próprios traumas. Desiludido com a hierarquia e com as ordens recebidas, começa a questionar a lógica da guerra e passa a ver os próprios colegas como adversários.
Escrita clandestina e personagens históricos
O soldado mantém um diário secreto, escrito em francês para evitar a censura de seus superiores. Por meio dessas anotações, o leitor acompanha o declínio psicológico do personagem, que testemunha degolas, mutilações e a devastação moral de ambos os lados. Sua narrativa conduz à transformação identitária: passa a ser chamado de Chico Mudinho, em alusão ao silêncio forçado diante do horror.
No decorrer da trama, o protagonista cruza o caminho de personagens históricos como Antônio Conselheiro, líder religioso do Arraial, e João Abade, figura de destaque entre os conselheiristas. A aproximação com essas figuras oferece ao leitor um contraponto entre a fé dos sertanejos e o ceticismo crescente do militar.
Contribuição literária e resgate histórico
Com Entre as Chamas, Sob a Água, R. Colini reafirma sua capacidade de integrar ficção e realidade histórica, à semelhança do que já havia feito em Curva do Rio, obra anterior bem recebida pela crítica. O autor propõe uma releitura da Guerra de Canudos não apenas como evento militar, mas como drama existencial coletivo, revelando dimensões humanas ainda pouco exploradas.
A publicação se soma a outros importantes títulos que abordam a Guerra de Canudos, como Os Sertões, de Euclides da Cunha, e A Guerra do Fim do Mundo, de Mario Vargas Llosa, contribuindo para a preservação da memória histórica brasileira.
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