Na terça-feira (06/08/2024), a Câmara Municipal de Feira de Santana foi palco de um episódio que gerou debates acalorados entre os vereadores e militantes presentes. Durante uma sessão extraordinária, o projeto de lei 67/2024, que propõe a realização de uma sessão solene para celebrar o Dia Municipal da Beleza Negra, foi colocado em votação. O projeto, elaborado em conjunto por diversos movimentos sociais e parlamentares comprometidos com a luta antirracista, buscava reconhecer as contribuições culturais e históricas da população negra na cidade.
No entanto, o vereador Edvaldo Lima, do partido União Brasil, decidiu se abster da votação, gerando reações imediatas. Lima, que tem um histórico de posições conservadoras e de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, justificou sua abstenção alegando que o projeto não estava alinhado com seus valores pessoais.
“Acredito que a beleza deve ser celebrada em todas as suas formas, mas não vejo a necessidade de criar um dia específico para isso. Todos nós, independentemente da cor, temos nossa dignidade”, afirmou o vereador, em sua defesa durante a sessão.
A abstenção de Lima foi duramente criticada por Urania, uma das principais lideranças do Movimento Negro Unificado (MNU) em Feira de Santana. Filha de Ivannide Santa Barbara, militante histórica do Partido dos Trabalhadores (PT) e reconhecida por sua atuação na defesa dos direitos da população negra, Urania não poupou palavras ao repudiar a postura do vereador.
“Este voto de abstenção não é apenas uma decisão política; é um reflexo da resistência em reconhecer a dignidade e a humanidade dos povos negros, que têm uma história de luta e contribuição fundamental para a construção de Feira de Santana”, declarou Urania.
Ela também relembrou momentos marcantes de sua trajetória, destacando a importância de iniciativas como a criação do Dia Municipal da Beleza Negra.
“Em 2007, fui homenageada com a Medalha Zumbi dos Palmares, uma das mais altas honrarias concedidas pela Câmara Municipal. Esse reconhecimento foi mais do que uma celebração pessoal; foi um ato político poderoso que desafiou as narrativas racistas e exaltou a resistência e a resiliência da população negra. Ver um projeto como este ser desvalorizado por um representante do povo é extremamente preocupante”, enfatizou.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que Feira de Santana possui uma população majoritariamente negra, com mais de 55% dos habitantes se autodeclarando pretos ou pardos.
Em bairros como Campo do Gado Novo e Aeroporto, essa representatividade chega a superar 90%. Para Urania, o reconhecimento da beleza negra é um passo crucial na valorização da identidade e da cultura dessas comunidades, que, segundo ela, têm sido historicamente marginalizadas.
“Projetos como este são importantes para reconhecer e celebrar as contribuições culturais e históricas das comunidades negras em Feira de Santana, que durante anos têm sido apagadas pela falta de políticas públicas adequadas”, criticou.
Apesar da abstenção de Lima, o projeto de lei 67/2024 foi aprovado com ampla maioria e agora segue para sanção do prefeito Colbert Martins Filho. Urania, ao final da sessão, reiterou a necessidade de manter a luta por políticas públicas que valorizem a cultura e a história da população negra em Feira de Santana.
“Precisamos unir nossas vozes e exigir responsabilidade de nossos representantes, garantindo que eles respeitem e apoiem iniciativas que promovam a diversidade e a inclusão. A nossa luta não termina aqui, e continuaremos vigilantes para assegurar que os direitos da nossa população sejam respeitados”, concluiu a militante.
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