O economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Igor Rocha, foi o principal palestrante da abertura do 3º Congresso Estadual dos Fazendários, evento realizado pelo Sindicato dos Fazendários da Bahia (Sindsefaz), de 18 a 20 de setembro de 2024, no Hotel Deville, em Salvador. Durante sua conferência, Rocha abordou o tema “O Papel do Estado para o Desenvolvimento do País”, ressaltando a importância de políticas públicas voltadas ao estímulo da indústria nacional e criticando a recente elevação da taxa Selic pelo Banco Central, anunciada enquanto o evento acontecia.
Crítica ao aumento da taxa Selic
Ao iniciar sua apresentação, Igor Rocha destacou o impacto negativo da elevação de 0,25% na taxa Selic, que chegou a 10,75% ao ano. A medida, anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, foi classificada por Rocha como inadequada para o atual contexto econômico brasileiro. Segundo o economista, o aumento dos juros não se justifica, dado que a inflação está sob controle. Ele comparou a situação econômica do Brasil com a de outros países da América do Sul, argumentando que a economia brasileira está em uma posição mais estável, enquanto os vizinhos têm mantido taxas de juros mais baixas.
“Não enfrentamos uma inflação descontrolada que justifique a manutenção de uma taxa de juros tão alta. Quando comparamos com outros países da América do Sul, vemos que nossa economia está melhor posicionada, mas continuamos com uma das taxas de juros mais elevadas”, afirmou Rocha.
Ele sugeriu que a manutenção de juros elevados gera um consenso equivocado entre os economistas, dificultando a implementação de políticas voltadas ao crescimento industrial e, consequentemente, à retomada sustentável do desenvolvimento econômico do país.
O papel da política industrial e os efeitos da desindustrialização
Em sua análise, Igor Rocha destacou que o Brasil passou por um dos maiores processos de desindustrialização já registrados no mundo, o que enfraqueceu sua base produtiva e afetou diretamente o crescimento econômico. Contudo, ele apontou que o governo tem adotado medidas importantes para reverter esse cenário. Entre elas, destacou o plano MAIS PRODUÇÃO, que prevê a alocação de R$ 250 bilhões por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar projetos industriais em diversas áreas.
O economista defendeu que o crescimento da indústria é fundamental para reduzir a dependência da economia brasileira em relação ao mercado interno, que embora esteja aquecido, não é suficiente para garantir um crescimento sustentado no longo prazo.
“Precisamos de políticas industriais mais robustas que agreguem valor à nossa economia e promovam a expansão da base produtiva do país. O aquecimento do mercado interno é positivo, mas precisamos de mais dinamismo para garantir um crescimento consistente”, afirmou.
Rocha também destacou que os investimentos em infraestrutura industrial, financiados por políticas públicas, são essenciais para ampliar a competitividade do Brasil no cenário global. Ele defendeu que o setor industrial pode ser um dos principais motores de crescimento econômico, contribuindo para o aumento da produtividade e a criação de empregos de maior qualidade.
Impactos das políticas monetárias e dados da economia
Apesar das críticas à política de juros, Rocha apresentou indicadores que revelam uma recuperação gradual da economia brasileira. Segundo ele, a taxa de desemprego, que caiu para 6,8%, representa uma volta aos níveis registrados em janeiro de 2014, quando estava em 6,7%. Rocha enfatizou a importância do crescimento do número de empregos formais e o aumento da massa salarial como sinais de que a economia está se fortalecendo, mesmo em um cenário de adversidades.
O economista também apontou o desempenho positivo da produção industrial, com destaque para o aumento da produção de bens de capital, como caminhões e eletrodomésticos da linha branca. Ele mencionou que a liberação de R$ 131 bilhões em precatórios no final de 2023 e início de 2024 deve contribuir para a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) em pelo menos 3% este ano.
“Esses recursos injetados na economia serão fundamentais para sustentar o crescimento do PIB, além de estimular diretamente setores como o da construção civil e o de bens duráveis”, explicou Rocha.
Desafios futuros e expectativas para a economia
Rocha alertou para a necessidade de uma política econômica mais coordenada, que combine controle da inflação com estímulos ao setor produtivo, sem comprometer o crescimento de longo prazo. Ele afirmou que as altas taxas de juros prejudicam a capacidade das empresas de investir e crescer, dificultando o desenvolvimento de uma economia mais dinâmica e diversificada.
“Se continuarmos com essa política de juros elevados, corremos o risco de prolongar o processo de desindustrialização e, com isso, limitamos nossas perspectivas de crescimento”, observou o economista.
Ele acrescentou que o Estado deve desempenhar um papel ativo no fomento ao desenvolvimento industrial, implementando políticas de financiamento mais acessíveis e programas de incentivo à inovação.
Continuidade do congresso e temas em discussão
O 3º Congresso Estadual dos Fazendários segue com uma série de painéis ao longo dos próximos dias. No dia 19, serão realizados debates sobre a construção do sindicato do futuro e a Reforma Tributária, temas centrais para os servidores da área fiscal e para o desenvolvimento das políticas econômicas do país.
Na tarde do mesmo dia, serão discutidos o trabalho remoto e a Lei Orgânica da Administração Tributária (LOAT), temas que afetam diretamente as condições de trabalho dos fazendários. Na noite do evento, o Sarau Literário trará o lançamento do livro “Zanetti: o Guardião do Óleo da Lamparina”, de autoria do professor e jornalista Emiliano José, proporcionando um momento cultural para os participantes.
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