ONU, uma organização sem poder | Por Luiz Holanda

Abertura do Debate Geral da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Abertura do Debate Geral da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.

No mundo atual, a Organização Das Nações Unidas (ONU) passa por uma séria crise de legitimidade, principalmente por não mais representar uma realidade de poder capaz de manter a paz mundial. Os conflitos e guerras regionais ameaçam a estabilidade mundial, e o vácuo representado pela decadência da organização bem demonstra sua atual ineficácia, percebida até pelo seu ex-secretário-geral, Kofi Anan, quando deu a entender que a organização era apenas uma estrutura de prédios e salas gigantescas, totalmente vazias de importância perante o mundo, além de distante do objetivo para o qual foi criada.

A ONU nasceu em 1945 na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos, sobre os escombros de muitos países, milhões de cadáveres e as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki completamente devastadas por uma bomba atômica americana. Era composta, inicialmente, por cinquenta e um países, com exceção dos que faziam parte do chamado “Eixo” na segunda guerra: Alemanha, Itália e Japão.

Apesar dessa composição inicial, a responsabilidade pela paz mundial estava nas mãos das cinco potências que até hoje a dominam: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia, com poder de veto para qualquer resolução aprovada pela maioria dos seus membros, possuindo cada um deles o direito que permite bloquear qualquer resolução  aprovada pela entidade.

Em algum momento de sua existência desempenhou funções positivas.  No entanto, fracassou em alguns pontos, como as querelas envolvendo os EUA e a antiga URSS durante a Guerra Fria, bem como nas disputas entre árabes e israelenses. A ONU não conseguiu dar conta – ou pelo menos não obteve uma resposta eficaz – na solução de alguns dos conflitos contemporâneos, como o que ocorre na Síria, no Líbano, na Cisjordânia ocupada e na Faixa de Gaza.

Israel nunca obedeceu às resoluções da ONU. Recentemente, seu presidente, Isaac Herzog, ignorou a resolução aprovada pelo Conselheiro de Segurança da entidade, continuando a guerra contra Gaza e matando milhares de crianças palestinas. Segundo o presidente israelense, a guerra iria continuar até que o líder local do grupo Hamas, Yahya Sinwar, fosse capturado — “vivo ou morto” — e que os prisioneiros de guerra israelenses fossem libertados. Continuou dizendo que “A realidade é essa — e o mundo deve encará-la — tudo começa e termina com Sinwar”. É ele quem encomendou o ataque de outubro, que busca derramar sangue inocente desde então, que faz tudo para destruir a coexistência em nosso país e na região, para semear discórdia entre nós e o mundo”.

Embora a resistência contra a colonização e a ocupação seja inteiramente legítima sob o direito internacional — inclusive a resistência armada —, Israel e aliados continuam a descrever as reações de grupos palestinos como “terrorismo”. A Resolução A/RES/38/17 da Assembleia Geral, de 22 de novembro de 1983, reitera a “legitimidade da luta dos povos por independência, integridade territorial, unidade nacional e libertação da dominação colonial, do apartheid e da ocupação em todas as maneiras disponíveis, incluindo a luta armada”.

A direita israelense pretende expandir as fronteiras de Israel para além da Cisjordânia, anexando terras do Líbano e da Jordânia. Ao reafirmar sua negativa sobre as negociações para uma troca de prisioneiros com o Hamas, mediadas pelo Catar, Herzog disse que “Neste momento, temos de nos manter unidos e determinados. Israel está fazendo tudo que pode para trazer os reféns para a casa, nos mais variados campos. No fim, não há escolha. Temos de continuar a lutar”.

No que se refere à criação de um Estado palestino, o parlamento israelense decidiu que qualquer acordo permanente com os palestinos deve ser alcançado por meio de negociações diretas entre as partes, e não por imposições internacionais: ou seja, pela ONU.

*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.


Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe to get the latest posts sent to your email.

Facebook
Threads
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Deixe um comentário

Discover more from Jornal Grande Bahia (JGB)

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading

Privacidade e Cookies: O Jornal Grande Bahia usa cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com o uso deles. Para saber mais, inclusive sobre como controlar os cookies, consulte: Política de Cookies.