Empresário investigado na Operação Overclean por suposto desvio de emendas frequentava Câmara dos Deputados e utilizava União Brasil como ponto de articulação

José Marcos de Moura, conhecido como "Rei do Lixo", visitou a Câmara dos Deputados em Brasília 27 vezes entre 2023 e 2024. Moura é investigado pela Polícia Federal sob suspeita de liderar um esquema de desvio de emendas parlamentares.
O empresário José Marcos Moura, conhecido como "Rei do Lixo", é alvo de investigação da Polícia Federal por suspeita de envolvimento em um esquema de desvio de emendas parlamentares, tendo visitado a Câmara dos Deputados diversas vezes.

O empresário José Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, é investigado pela Polícia Federal (PF) por sua suposta participação em um esquema de desvio de emendas parlamentares, com foco no desvio de recursos públicos destinados à execução de obras e serviços. Durante o período de investigação, Moura manteve uma rotina de visitas frequentes à Câmara dos Deputados, o que revela uma estreita relação com diversos parlamentares, especialmente após sua filiação ao União Brasil, partido pelo qual passou a atuar ativamente em 2023. Entre junho de 2022 e julho de 2024, registros de entrada da Câmara mostram que o empresário esteve na Casa Legislativa em 27 ocasiões, mais da metade dessas visitas (15) para reuniões com integrantes da liderança do União Brasil.

Essas visitas e o papel desempenhado por Moura levantam sérias suspeitas sobre sua atuação como intermediário de um esquema de corrupção, envolvendo a manipulação de emendas parlamentares e a utilização de sua influência política para garantir a continuidade do suposto esquema ilícito. A investigação, que foi encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) no início de 2025, busca apurar o envolvimento de parlamentares na fraude de contratos públicos e desvio de recursos. Em dezembro de 2024, o empresário foi preso durante a Operação Overclean, mas foi liberado uma semana depois, fato que gerou ainda mais questionamentos sobre os supostos vínculos políticos e sua influência sobre a política nacional.

A estreita relação entre Moura e os membros do União Brasil, especialmente com o líder da sigla na Câmara, deputado Elmar Nascimento (BA), parece ter se intensificado após a filiação de Moura ao partido, em março de 2023. Durante esse período, o empresário não apenas frequentou o gabinete da liderança do União Brasil, mas também esteve presente em reuniões de outros partidos, como o PSDB, o MDB e o PP, mostrando a amplitude de suas conexões políticas. A defesa de Moura, no entanto, não respondeu aos questionamentos do Jornal O Globo sobre suas visitas à Câmara e os motivos que levaram o empresário a se aproximar tão fortemente de figuras influentes no Congresso.

O deputado Elmar Nascimento confirmou que Moura esteve em várias ocasiões no gabinete da liderança do União Brasil, embora tenha ressalvado que, nas reuniões, o empresário não se encontrou diretamente com ele, mas com outros membros da sigla. A proximidade entre Moura e Nascimento, no entanto, não se limita às visitas ao gabinete. Em abril de 2023, Nascimento comprou um apartamento de uma empresa ligada a Moura, uma transação registrada pela Polícia Federal e descoberta durante a investigação. A transação imobiliária foi encontrada em um cofre de Moura, levantando suspeitas sobre os interesses e favores envolvidos no negócio.

Além da ligação com o União Brasil, o caso de Moura também está relacionado com o município de Campo Formoso, na Bahia, comandado pelo irmão de Elmar Nascimento, Elmo Nascimento, também filiado ao União Brasil. Investigações apontam que parte das emendas parlamentares sob suspeita de desvio foram direcionadas ao município, o que levanta dúvidas sobre a utilização desses recursos para fins pessoais e políticos. A prefeitura de Campo Formoso, por meio de nota, declarou que adota as melhores práticas em suas contratações, mas o envolvimento de membros da família Nascimento na investigação tem gerado uma série de questionamentos sobre a integridade das operações financeiras no município.

Outro ponto relevante da investigação é o vereador de Campo Formoso, Francisquinho Nascimento (União Brasil), primo de Elmar, que foi um dos alvos da primeira fase da Operação Overclean. Durante a operação, antes de ser preso, Francisquinho foi flagrado jogando pela janela uma sacola contendo R$ 220.100,00 em dinheiro, o que reforça as suspeitas de um esquema de corrupção envolvendo membros da família e outros aliados políticos.

Apesar de as visitas de Moura à liderança do União Brasil serem as mais frequentes, ele também esteve presente em gabinetes de deputados de outros partidos. Um dos registros aponta que o líder do PSDB na Câmara, Adolfo Viana, recebeu Moura em seis ocasiões. Viana, por sua vez, minimizou as visitas, alegando que eram encontros de amizade, sem qualquer envolvimento com o suposto esquema de corrupção. Moura também se encontrou com parlamentares do MDB, como o líder Isnaldo Bulhões (AL), e do PP, partido que, na época, tinha o atual ministro dos Esportes, André Fufuca (MA), como líder. O ministro, em nota, negou qualquer reunião com Moura, alegando que a sala de liderança do PP é um espaço coletivo de livre acesso a parlamentares e assessores, o que enfraquece a narrativa de um encontro formal entre eles.

Ademais, o empresário também teve contato com deputados de outros partidos, como Leo Prates (PDT-BA) e Professor Alcides (PL-GO). No caso de Prates, ele afirmou que Moura o visitou em uma “visita de cortesia”, sem maiores implicações. Já a assessoria de Alcides informou que o deputado não encontrou Moura pessoalmente, mas que o motivo da visita foi para uma recomendação de emprego, sem confirmação de que o indicado tenha sido de fato contratado.

Relações políticas e empresariais

Moura mantém proximidade com figuras políticas influentes, incluindo ACM Neto, ex-prefeito de Salvador e vice-presidente do União Brasil. Documentos indicam que Moura é sócio de Renata de Magalhães Correia, irmã de ACM Neto, na propriedade de um jato modelo Hawker 400, registrado em nome de ambos.

Detalhes da Operação Overclean

A Operação Overclean foi deflagrada pela Polícia Federal em 10 de dezembro de 2024, com o objetivo de desarticular um esquema de fraudes em licitações públicas e desvio de emendas parlamentares. Estima-se que o grupo envolvido tenha movimentado cerca de R$ 1,4 bilhão nos últimos quatro anos, sendo que os contratos fraudulentos na área de limpeza urbana foram o foco central da investigação, justificando o nome da operação.

Na primeira fase da operação, iniciada em 10 de dezembro de 2024, foram identificados diversos contratos fraudulentos envolvendo serviços públicos, com 27 pessoas sendo investigadas. A investigação revelou que José Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”, desempenhava um papel central no esquema, articulando contratos superfaturados em parceria com gestores municipais e intermediários políticos.

A segunda fase da operação, ocorrida em 23 de dezembro de 2024, aprofundou as investigações sobre os desvios na área de limpeza urbana em Salvador. Durante essa fase, a Polícia Federal conseguiu prender oito pessoas e recuperar ativos, incluindo o bloqueio de R$ 120 milhões. Ao longo da operação, cerca de 40 investigados foram identificados, abrangendo uma rede de empresários, gestores públicos e servidores envolvidos no esquema.

José Marcos de Moura foi preso preventivamente durante as apurações e optou por permanecer em silêncio durante seu primeiro depoimento. De acordo com fontes da Polícia Federal, ele estava diretamente envolvido na manipulação de contratos e no desvio de recursos públicos, atuando como intermediário entre empresas e políticos. Posteriormente foi solto, em conjunto com os outros 10 investigados.

A Operação Overclean expôs falhas significativas na fiscalização de contratos públicos e gerou um debate acirrado sobre a transparência na gestão de recursos públicos, especialmente no setor de serviços urbanos essenciais.

A investigação continua em andamento, com a Polícia Federal monitorando as atividades de Moura e de outros possíveis envolvidos no esquema.

A complexidade do caso e as conexões políticas de Moura indicam que o esquema de desvio de emendas pode ter ramificações mais amplas, envolvendo figuras de diversos partidos e esferas do poder.

O Supremo Tribunal Federal, responsável por avaliar o caso, deverá tomar decisões que possam revelar a extensão da corrupção no Congresso Nacional e suas consequências para a política brasileira.

*Com informações do Jornal O Globo.


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