A manifestação realizada na Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo (29/06/2025), reuniu 12,4 mil apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, segundo cálculo do Monitor do Debate Político do Cebrap e da ONG More in Common, com base em imagens aéreas e inteligência artificial. O evento teve como principal pauta a oposição ao julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), no qual Bolsonaro é acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.
Além de criticar o processo judicial, os manifestantes defenderam anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram invadidas por grupos bolsonaristas, e protestaram contra políticas do governo federal, como o novo decreto sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e as fraudes no INSS, alvo de operações da Polícia Federal.
Bolsonaro diz que não precisa da Presidência se Congresso for alinhado
Durante manifestação o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que não precisa retornar à Presidência da República se conseguir formar maioria no Congresso Nacional. Inelegível até 2030, o ex-chefe do Executivo tem reforçado a estratégia de mobilizar sua base para as eleições legislativas de 2026, com o objetivo de alcançar 50% das cadeiras na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Segundo Bolsonaro, uma base majoritária no Parlamento seria suficiente para “mudar o Brasil”. Ele também destacou que, com o apoio do Senado, seria possível abrir processos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ressaltou, contudo, que a medida não teria como finalidade o revanchismo político, mas sim a “defesa do país”.
Negativa de golpe, crítica ao STF e alusão às Forças Armadas
Em seu discurso, Bolsonaro voltou a negar ter planejado uma tentativa de golpe de Estado após o resultado das eleições de 2022. Disse ter deixado o Brasil ao final do mandato porque “jamais passaria a faixa para um ladrão”, em referência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem se referiu indiretamente, sem citar nomes.
Afirmou ainda que não deseja ser preso nem morto, em alusão ao processo no qual é réu no STF. Para ele, “ruptura democrática não se dá com idosos, mas com o uso das Forças Armadas” — frase que reitera o discurso de tensionamento institucional, ainda que sem convocação explícita.
Bolsonaro também se disse disposto a permanecer como presidente de honra do PL, caso tenha o aval do dirigente da legenda, Valdemar Costa Neto, mantendo-se como liderança simbólica e articulador político da direita no país.
Declarações de aliados sobre anistia e articulação legislativa
O ato também contou com declarações do deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do PL na Câmara, que afirmou estar em articulação com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para votar um projeto de anistia aos condenados pelos atos do 8 de janeiro.
Segundo Cavalcante, o texto está sendo construído “a quatro mãos” com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). A proposta pretende alcançar o consenso dentro do Congresso e ser votada antes do recesso parlamentar. De acordo com o deputado, “o presidente Hugo Motta assumiu um compromisso” de levar o projeto à votação em breve.
Presença de líderes políticos e religiosos
Estiveram presentes no ato os governadores Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Jorginho Mello (SC), além do pastor evangélico Silas Malafaia, organizador do evento. Todos discursaram ao lado de Jair Bolsonaro, no caminhão de som posicionado no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua Peixoto Gomide, próximo ao Parque Trianon.
O ex-presidente foi recebido com gritos de “mito” e pediu mobilização para as eleições de 2026, conclamando seus apoiadores a eleger 50% da Câmara e do Senado. Ele defendeu ainda anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, alegando que a medida seria uma forma de “pacificação nacional” e está prevista na Constituição.
Declarações de Malafaia e Tarcísio
Silas Malafaia criticou duramente o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo inquérito contra Bolsonaro no STF, e contestou a legalidade da delação de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente. Malafaia chamou Moraes de “ditador” e questionou a atuação da Procuradoria-Geral da República (PGR) sob comando de Paulo Gonet.
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, criticou o governo Lula, mencionando suposto “gasto desenfreado, corrupção e juros altos”. Também defendeu a anistia aos condenados do 8 de janeiro e afirmou que “a missão de Bolsonaro não acabou”, mesmo diante da inelegibilidade do ex-presidente até 2030, conforme decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político.
Situação processual de Bolsonaro no STF
As declarações de Bolsonaro ocorrem no mesmo fim de semana em que o ministro Alexandre de Moraes, do STF, abriu prazo para as alegações finais na Ação Penal 2.668, que investiga o ex-presidente e outros sete acusados por tentativa de golpe e ataques ao Estado Democrático de Direito.
Conforme o despacho publicado na sexta-feira (27/06), a Procuradoria-Geral da República (PGR) tem 15 dias para apresentar sua versão final. Após esse prazo, o delator Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, também terá 15 dias para se manifestar, seguido pelo mesmo período para as defesas dos réus.
Na última sexta-feira (27/06), o ministro Alexandre de Moraes abriu o prazo para alegações finais no processo da Ação Penal 2.668, que envolve Bolsonaro e outros sete réus. Com isso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) tem 15 dias para apresentar sua manifestação. Em seguida, Mauro Cid poderá apresentar suas alegações, com prazo equivalente, seguido das defesas dos demais acusados.
Todos os oito acusados, incluindo Bolsonaro, foram denunciados por cinco crimes:
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Organização criminosa armada
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Tentativa de abolir violentamente o Estado Democrático de Direito
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Golpe de Estado
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Dano qualificado por violência e grave ameaça
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Deterioração de patrimônio tombado
As penas somadas podem ultrapassar 40 anos de reclusão, conforme apontado na denúncia assinada por Paulo Gonet, procurador-geral da República.
Polarização política
A manifestação reflete a continuidade da polarização política no país e evidencia o alinhamento entre setores conservadores e figuras do Executivo estadual com a base bolsonarista. O uso da pauta da anistia aos condenados como símbolo de mobilização política revela uma tentativa de reconfiguração do discurso público sobre os ataques de 8 de janeiro, reclassificando-os como atos políticos passíveis de perdão, em contraste com a interpretação predominante no Judiciário, que os considera crimes graves contra o Estado de Direito.
Além disso, a presença de governadores e a articulação com líderes religiosos reforçam a estratégia de resiliência do bolsonarismo, que, mesmo fora do poder institucional federal, busca manter influência sobre setores-chave da sociedade, como as igrejas evangélicas, o empresariado e o eleitorado conservador.
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