Na quinta-feira (23/10/2025), senadores da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS levantaram a suspeita de que a médica Thaisa Hoffmann Jonasson tenha atuado como “laranja” do ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, em um esquema de lavagem de dinheiro e fraudes que teria desviado bilhões de reais de aposentados e pensionistas.
Depoimento e suspeitas sobre movimentações financeiras
Durante o depoimento prestado nesta quinta-feira (23/10/2025), Thaisa Jonasson negou qualquer envolvimento com as irregularidades apuradas pela CPMI. Segundo o senador Izalci Lucas (PL-DF), três empresas registradas em nome da médica teriam recebido recursos oriundos de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como lobista do esquema.
De acordo com o parlamentar, as transferências somam milhões de reais e teriam sido feitas sem contrapartida de serviços prestados. A suspeita é de que os valores serviram para ocultar o pagamento de propinas destinadas ao ex-procurador Virgílio Antônio Filho.
“Há notas fiscais de alto valor, mas não se comprova a origem dos recursos. A ligação com o ‘Careca’ é o ponto inexplicável. Tudo indica uma combinação para favorecer entidades como a Contag”, afirmou Izalci.
A médica, porém, reagiu às acusações:
“Durante todo o meu trabalho, mantive a prestação regular dos meus serviços. Tenho documentação que comprova cada atividade realizada”, declarou Thaisa Jonasson, que apresentou defesa técnica à comissão.
Parlamentares apontam uso de empresas como “hubs financeiros”
O senador Jorge Seif (PL-SC) reforçou as suspeitas de que as empresas de Thaisa foram utilizadas como “hubs societários e financeiros” para movimentar dinheiro ilícito. Segundo ele, as três firmas teriam recebido quase R$ 15 milhões ligados ao esquema.
“Não podemos afirmar que a médica desviou recursos, mas é fato que as empresas em seu nome receberam valores de intermediários vinculados às associações e ao lobista ‘Careca’. Talvez ela tenha sido usada, mas isso não a exime de responsabilidade”, pontuou Seif.
Thaisa reiterou sua inocência: “Tenho as notas e registros de todos os trabalhos realizados. Nunca emprestei meu nome a terceiros para irregularidades”, disse a depoente.
Contarato fala em “rombo bilionário” e propõe delação premiada
O senador Fabiano Contarato (PT-ES) classificou o caso como “um rombo de bilhões” aos cofres públicos e às aposentadorias de beneficiários do INSS. Ele sugeriu que a depoente considerasse um acordo de colaboração premiada com a CPMI, medida que poderia ajudar a elucidar o fluxo de recursos e a participação de agentes públicos e privados.
Contarato defendeu ainda punição exemplar aos responsáveis pelas fraudes. Thaisa Jonasson, contudo, recusou a proposta, afirmando que continuará colaborando apenas por meio de provas documentais.
Pressão sobre convocados e ameaça de prisão
O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), anunciou que testemunhas que não agendarem depoimentos até o final de semana poderão ter prisão temporária decretada. Segundo ele, diversos convocados têm postergado as oitivas para atrasar os trabalhos da comissão.
Viana mencionou os nomes de Mauro Palombo Concílio, Vinicius Ramos da Cruz, Silas da Costa Vaz, Cecília Rodrigues Mota e Danilo Berndt Trento, todos investigados por envolvimento em fraudes, falsificação de autorizações e desvio de contribuições de aposentados.
“Se não houver contato até o fim de semana, pedirei à Justiça Federal que determine prisão e condução coercitiva dos convocados”, afirmou o senador.
O esquema e a Operação Sem Desconto
As investigações apontam que o esquema consistia na falsificação de autorizações de idosos para inscrição em associações e sindicatos fictícios. As entidades, utilizando acordos irregulares com o INSS, descontavam automaticamente valores das aposentadorias e pensões.
A Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União (CGU) deflagraram, em abril de 2025, a Operação Sem Desconto, que revelou um prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. Foram cumpridos mandados de busca, apreensão e prisão, e o inquérito segue sob análise da CPMI e do Ministério Público Federal.
Falhas estruturais na governança
A CPMI do INSS expõe falhas estruturais na governança do sistema previdenciário brasileiro, que há anos sofre com fraudes em associações conveniadas e ausência de controle interno eficaz. O caso também ressalta a vulnerabilidade de aposentados diante de práticas abusivas que se perpetuam com o uso de intermediários e de entidades de fachada.
A tentativa de transferir a responsabilidade a terceiros, como no caso de Thaisa Jonasson, evidencia um padrão recorrente em esquemas de corrupção: a criação de figuras intermediárias para disfarçar beneficiários reais. A pressão do Senado para acelerar depoimentos e aplicar sanções sinaliza um endurecimento institucional, ainda que tardio, na busca por responsabilização e reparação de danos.
*Com informações da Agência Senado.
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