O 2º Festival do Queijo Artesanal da Bahia transformou o Mercado do Rio Vermelho, em Salvador, em um espaço de celebração da cultura alimentar baiana e da produção artesanal rural. O evento, que se estende até este sábado (1º/11/2025), reúne produtores, técnicos, consumidores e representantes do poder público, promovendo uma ampla integração entre campo e cidade.
Com uma estrutura ampliada em relação à primeira edição, o festival reafirma o compromisso do Estado em fortalecer cadeias produtivas locais e em preservar tradições seculares associadas ao queijo artesanal, um dos símbolos mais marcantes da culinária brasileira. A presença de dezenas de produtores de diversas regiões do estado demonstra a vitalidade do setor e o potencial de crescimento da agricultura familiar.
Jerônimo Rodrigues: tradição e futuro caminham juntos
Durante visita aos estandes, o governador Jerônimo Rodrigues ressaltou que o queijo artesanal é mais que um alimento — é um símbolo de identidade cultural e resistência econômica.
“Cada produtor carrega uma história, um território e uma herança de saberes passados de geração em geração. Apoiar essa produção é investir em cultura, emprego e dignidade”, afirmou.
A fala do governador sintetiza o espírito do evento: combinar tradição com inovação, respeitando o conhecimento popular, mas incorporando técnicas modernas de produção, maturação e comercialização. O governo tem atuado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR) e da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), para ampliar a oferta de assistência técnica, crédito e certificação sanitária, fatores essenciais para garantir qualidade e competitividade aos queijos baianos.
Economia rural e sustentabilidade
A cadeia produtiva do queijo artesanal é uma importante fonte de renda para pequenos e médios produtores. Segundo estimativas da SDR, milhares de famílias baianas vivem direta ou indiretamente da produção de leite e seus derivados, com forte impacto na economia de municípios do semiárido e da Chapada Diamantina.
O festival não apenas promove negócios, mas também estimula práticas de sustentabilidade e valorização territorial. Produtores vêm investindo em boas práticas agropecuárias, manejo de pastagens, uso racional da água e melhoria das condições de bem-estar animal. Tais iniciativas refletem uma visão contemporânea de agricultura — voltada para o equilíbrio entre produtividade e preservação ambiental.
O secretário Osni Cardoso, da SDR, destacou esse aspecto ao afirmar que “a Bahia está mostrando que é possível unir qualidade, sustentabilidade e inclusão social na agricultura familiar. O queijo artesanal é o retrato desse equilíbrio entre técnica, tradição e consciência ambiental.”
Um festival que também educa o paladar
A programação do evento oferece oficinas, palestras e degustações comentadas, que permitem ao público conhecer a fundo o universo dos queijos baianos. No espaço “Queijo Nota 10”, produtores apresentam seus produtos enquanto especialistas explicam as particularidades de cada tipo de queijo — maturado, fresco, de cabra, de búfala, de vaca e até de ovelha.
O professor Sílvio Luiz Soglia, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), destacou a relevância do conhecimento técnico no aprimoramento da produção artesanal.
“A ciência e o saber popular se complementam. O produtor que entende de microbiologia e maturação consegue inovar sem perder suas raízes.”
Já a produtora Maria Alice Rocha, do Sítio Torto Arado, em Mucugê, afirmou que a troca de experiências tem sido transformadora.
“Antes, a gente fazia o queijo com base no que aprendeu com os mais velhos. Agora, entendemos como a fermentação e o tempo de cura influenciam o sabor e a textura. É um aprendizado que muda o nosso produto.”
Concurso estadual premia o talento dos queijeiros baianos
Um dos pontos altos do festival foi o 1º Concurso do Queijo Artesanal da Bahia, que contou com 475 inscrições e avaliou 372 produtos vindos de todas as regiões do estado. No total, 307 queijos foram premiados, com destaque para 137 medalhas de ouro, 99 de prata e 71 de bronze.
A produtora Roberta Gusmão, do Laticínios Búfalas Garota, de Itambé, conquistou 25 medalhas e comemorou o reconhecimento.
“É o resultado de um trabalho que começa na fazenda, com o cuidado dos animais, passa pela ordenha e chega à mesa das pessoas. O público está conhecendo o verdadeiro sabor da Bahia”, afirmou.
De Ipirá, Emanoel Ferreira, da Queijaria do Meu Quintal, também foi premiado e ressaltou o impacto econômico do evento.
“O festival abre portas para novos mercados, aproxima o produtor do consumidor e valoriza o interior da Bahia. Esse tipo de visibilidade transforma vidas.”
A cultura do queijo como expressão de identidade
O festival tem papel central na preservação da cultura alimentar baiana. A produção artesanal de queijo envolve não apenas técnicas, mas também costumes, sotaques e modos de vida. Em muitos municípios, o queijo é um produto de família — feito em pequenas propriedades, com receitas transmitidas entre gerações.
O evento também reforça o conceito de patrimônio imaterial, ao destacar o saber-fazer do produtor como parte da riqueza cultural do estado. Esse reconhecimento tem motivado novas gerações a permanecerem no campo, modernizando a produção sem romper com suas raízes.
Educação, turismo e gastronomia
O Mercado do Rio Vermelho, conhecido pela diversidade gastronômica, tornou-se o palco ideal para o festival. Além de atrair consumidores, o evento impulsiona o turismo gastronômico e fortalece a imagem da Bahia como destino de sabores autênticos e experiências sensoriais.
A parceria com a Secretaria de Turismo (Setur) e a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) busca ampliar o alcance do festival, integrando-o ao calendário turístico estadual. O objetivo é criar rotas do queijo baiano, conectando municípios produtores e incentivando o turismo rural e as compras diretas na origem.
O secretário Maurício Bacelar (Setur) afirmou que “a gastronomia é um dos pilares do turismo moderno. O queijo baiano pode se tornar um embaixador do estado, levando o sabor da Bahia para o Brasil e para o mundo.”
Desafios e perspectivas
Apesar dos avanços, o setor ainda enfrenta entraves logísticos, sanitários e tributários. Muitos produtores relatam dificuldades no acesso a crédito, transporte e certificação. A ampliação do Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar (SUSAF/BA) e do Serviço de Inspeção Municipal (SIM) tem sido fundamental para regularizar a produção, mas a cobertura ainda é desigual.
Especialistas defendem a criação de centros de referência regionais, que unam laboratórios, assistência técnica e comercialização. Isso permitiria padronizar a qualidade, facilitar exportações e fortalecer cooperativas locais.
A expectativa é que o festival estimule novos investimentos e políticas públicas voltadas à industrialização leve da agricultura familiar, agregando valor à produção e consolidando o queijo baiano como referência nacional.
Resgate cultural e transformação socioeconômica
O Festival do Queijo Artesanal da Bahia é mais do que um evento gastronômico: representa um movimento de resgate cultural e de transformação socioeconômica. Ao valorizar o pequeno produtor e integrar academia, governo e sociedade civil, o festival torna-se um modelo de política pública participativa e territorial.
Contudo, o desafio permanece em garantir que o entusiasmo do evento se converta em políticas duradouras, capazes de enfrentar gargalos estruturais e reduzir desigualdades regionais. A continuidade do apoio técnico, a ampliação de linhas de crédito e a criação de selos de origem e qualidade podem consolidar o queijo artesanal como um ativo estratégico para o desenvolvimento rural sustentável da Bahia.
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