O encontro entre Trump e XI | Por Luiz Holanda

Busan (Coreia do Sul), terça-feira (04/11/2025) — O encontro entre Donald Trump e Xi Jinping durante a cúpula da Cooperação Econômica em Busan resultou em uma trégua parcial na guerra comercial entre Estados Unidos e China, com ambas as potências concordando em suspender tarifas e controles de exportação por um período de doze meses. O acordo simboliza uma reaproximação estratégica após anos de tensão geopolítica e disputas econômicas intensificadas por restrições tecnológicas e divergências sobre o comércio de terras raras.
O presidente Donald Trump cumprimenta o presidente chinês Xi Jinping antes de reunião bilateral no Aeroporto Internacional de Gimhae, em 30 de outubro de 2025, em Busan, Coreia do Sul.

Durou precisamente noventa minutos, tempo suficiente para demonstrar a importância do encontro. A conversa entre Trump e Xi, na cimeira de Busan, na Coreia do Sul, no encontro dos países da Cooperação Econômica, serviu para uma pausa na guerra comercial iniciada pelo presidente americano com a imposição de tarifas de importação logo no início do seu mandato. De lá para cá os entendimentos foram circunstanciais, com repetidas suspensões das tarifas e de controles de exportação.

Dessa vez a satisfação de Trump era visível, pois, em conversas com os jornalistas que o acompanharam na viagem, descreveu a reunião como “espetacular”, avaliando-a “de uma escala de zero a dez, sendo dez o melhor, com um 12”, conforme citação do Financial Times. Trump prometeu visitar a China em 2026, e Xi deverá retribuir a visita talvez no mesmo ano.

Os Estados Unidos estavam preocupados com os anúncios chineses sobre o controle na exportação de terras raras, matéria-prima essencial para as indústrias tecnológica, automóvel e de defesa. Os americanos ameaçaram aumentar as tarifas sobre os produtos chineses em 100%, o que significava uma tarifa de 130% sobre as importações chinesas.

Nas conversações predominou o tom conciliatório. Para Trump, o líder chinês é “um grande líder de um grande país”, e “espero manter um relacionamento fantástico durante muito tempo”, acrescentou. Xi, por sua vez, disse que “O desenvolvimento e rejuvenescimento da China não são incompatíveis com o objetivo do presidente Trump de Tornar a América Grande Outra Vez“. Pequim está disponível para estabelecer uma base sólida para as relações entre a China e os EUA, e criar um ambiente favorável para o desenvolvimento das duas nações.

A China concordou em fazer uma pausa de um ano nos controles de exportação das terras raras e semicondutores, essenciais para a indústria norte-americana. Em contrapartida, e também por um ano, os EUA acordaram em suspender os empecilhos à venda de bens tecnológicos e de softwares críticos a subsidiárias de empresas chinesas.

Criada para punir a China pelo seu papel no fabrico de fentanil, responsável por uma crise de saúde pública nos EUA, a taxa alfandegária adicional sobre as importações chinesas de 20% será reduzida para 10%, o que colocará a tarifa média sobre bens chineses em 47%. A redução de tarifas representa uma aposta para os EUA, que enfrentam problemas em sua guerra comercial com a China.

Xi tem superado Trump em todas as rodadas, impondo ao americano concessões extraordinárias no acordo entre os dois países. Em troca, a China prometeu reprimir a produção e o envio de fentanil para os Estados Unidos, obtendo uma redução de 10% nas tarifas aplicadas sobre os produtos chineses.

Sob Xi Jinping, a China se tornou uma potência econômica e militar. As duas nações vêm aumentando o tom de críticas e provocações, com restrições dos Estados Unidos ao intercâmbio em áreas estratégicas, como as exportações de chips, medida que afetou empresas como Nvidia e AMD.

Considerado um dirigente anticorrupção, Xi demitiu milhares de funcionários de alto e baixo escalão do governo como aviso e consolidação de poder. Com Xi, o modelo de liderança chinesa mudou — antes coletivo, agora centralizado na figura do líder supremo, que expurga autoridades desleais, corruptas ou ineficientes e as substitui por aliados de confiança.

Na seara econômica, Xi limitou competências do primeiro-ministro, passando a comandar pessoalmente grupos temáticos sobre economia e finanças. Para sustentar o crescimento chinês e ampliar a influência internacional, Xi lançou a Iniciativa do Cinturão e Rota, projeto global de infraestrutura e comércio com ramificações na Ásia, África e Europa, inspirado na antiga Rota da Seda.

Ele colocou aliados de confiança na gestão de pessoal do Partido Comunista, responsáveis por indicações para cargos estratégicos. A China é o segundo país mais populoso do mundo, com mais de 1,4 bilhão de habitantes vivendo sob um regime de partido único.

Nesse sentido, o Partido Comunista é o maior partido político do mundo, com mais de 85 milhões de membros. Xi manda em tudo: o Parlamento, o gabinete de ministros e a Suprema Corte devem se reportar a ele anualmente.

*Luiz Holanda, advogado e professor universitário.


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